D. José Ornelas adianta que cerca de 30 vítimas estão a ser ajudadas financeiramente
Fátima, 20 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Fátima que cerca de 30 vítimas de abusos sexuais, na Igreja, estão a ser ajudadas financeiramente, assumindo a intenção de assumir “todas as responsabilidades”.
“A ninguém vai faltar o apoio da Igreja, também financeiro”, assinalou D. José Ornelas, em conferência de imprensa, no final da Assembleia Plenária que decorreu desde quinta-feira, em Fátima.
“Vamos fazer tudo e, também do ponto de vista económico, aquilo que for necessário”, acrescentou.
Questionando sobre eventuais indemnizações, falou do contacto com vítimas, cujo “sofrimento não tem preço”, apontando a um diálogo que ultrapassa o plano jurídico, no qual a Igreja Católica tem a obrigação de “seguir a lei”.
“Não recusamos nenhuma das nossas responsabilidades”, insistiu.
O presidente da CEP considerou fundamental manter a “capacidade de escuta das vítimas”, tanto as que já se manifestaram como outras que possam aparecer.
“Estamos disponíveis para ir ao encontro das pessoas, falar com elas e encontrar reparação para os danos que receberam”, precisou.
A Igreja, indicou D. José Ornelas, não pode ser conivente nem encobrir estes casos, pelo que é necessário “traçar uma linha”.
“Nós mudamos de paradigma, não queremos voltar atrás”, afirmou, destacando a importância de ser “proativo” e de “criar uma cultura nova”.
Após um ano de trabalho, a Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, e entregou aos responsáveis católicos de Portugal uma lista com nomes de alegados abusadores, no dia 3 de março.
D. José Ornelas elogiou este trabalho, admitindo que está sujeito a “críticas”, considerando que o futuro passa por “tirar lições do que foi encontrado e traçar rotas de trabalho”.
Sobre os dados divulgados, admitiu que “não é apenas uma operação aritmética”, mas está ligada ao testemunho das vítimas.
O bispo de Leiria-Fátima destacou o “número reduzido” de novos casos, a que se somaram alguns que estavam em investigação e outros que tinham sido resolvidos.
“A complexidade dos casos é diferente, de diocese para diocese”, acrescentou, defendendo que “cada um fez, no seu lugar, aquilo que era preciso”.
Quanto à abertura dos arquivos eclesiásticos, o responsável justificou a decisão, agilizada com a Santa Sé, “do ponto de vista canónico”.
“Aquilo que fazemos está dentro da competência de qualquer autoridade”, indicou.
O presidente da CEP rejeitou as acusações de “encobrimento” contra bispos e adiantou que as Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores têm recebido contactos diretos das vítimas.
Em relação a alegadas tentativas de desacreditar o trabalho da CI, D. José Ornelas falou de uma reação “natural” de quem é visado, admitindo o direito de “exigir justiça”.
O afastamento temporário, acrescentou, é uma “precaução” e não um assumir de culpas, procurando favorecer a “urgência e rapidez do próprio processo”.
A Conferência Episcopal Portuguesa anunciou a criação de um novo organismo para o acompanhamento de vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, presidido pela psicóloga Rute Agulhas.
“A finalidade é diferente”, apontou o bispo de Leiria-Fátima, que fala numa fase “operativa”.
O grupo vai ser organismo articulado e autónomo, em relação aos bispos, para que as vítimas se “sintam confortáveis” ao apresentar os seus testemunhos.
“A Igreja está disponível para receber pessoas, concretas, que foram vítimas de abusos”, adiantou.
D. José Ornelas assumiu a intenção de potenciar uma “presença capilar” na sociedade para “criar um sistema de formação e de prevenção”.
A Igreja Católica em Portugal promoveu hoje uma jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência, reunindo os membros da CEP numa celebração eucarística, na Basílica da Santíssima Trindade.
OC