Idosos: Projeto «A Avó Veio Trabalhar» combate isolamento e proporciona a criação de «laços afetivos» na Casa do Artista

Residentes e participantes estabelecem amizades, enquanto bordam em comunidade fotografias do mundo do espetáculo, a propósito do aniversário dos 25 anos da Casa do Artista

Lisboa, 27 jul 2024 (Ecclesia) – O projeto «A Avó veio Trabalhar», que celebra 10 anos em setembro, chegou à Casa do Artista, onde todas as quartas-feiras se reúnem residentes e participantes para bordar, estabelecendo amizades e rompendo com a solidão.

“Acho que o grande objetivo é que também se criem algumas novas amizades, que as pessoas quebrem as suas rotinas, tenham menos solidão, se bem que a Casa do Artista já é uma casa, eu diria, muito comunitária e muito forte nas relações sociais entre as pessoas que aqui vivem e as pessoas que aqui trabalham”, afirmou Susana António, cofundadora do projeto, em declarações à Agência ECCLESIA.

“A Avó veio Trabalhar” iniciou-se há quase uma década e consiste numa hub criativa para pessoas com mais de 60 anos, com o objetivo de enaltecer os talentos que os avós têm, nomeadamente mestrias de lavores tradicionais, técnicas criativas inovadoras, como a serigrafia e a cianotipia, mas também a beleza e as histórias de vida que os caracterizam.

Desde 29 de maio que o projeto se realiza na Casa do Artista e na quarta-feira, 24 de julho, o grupo de participantes e residentes encontrou-se na Sala Maria Helena Matos para dar continuidade às peças que estão a bordar e a colorir, baseadas em fotografias a preto e branco retiradas do Centro de Documentação Carmen Dolores.

“Isto é a celebração dos 25 anos da casa do artista, portanto são 25 fotografias emblemáticas do mundo do espetáculo para Portugal, a nível nacional, que falam muito ao coração também dos utentes aqui da Casa do Artista, das pessoas que aqui estão, que participaram alguns nos próprios espetáculos ou outros que estes espetáculos são uma referência e uma aprendizagem para as suas profissões também que tiveram”, explica a mentora Susana António.

Depois de concluídas, as peças vão ser expostas numa galeria de arte e leiloadas para angariação de fundos a reverter para a Casa do Artista.

Graça Cardoso é uma das participantes e conheceu a iniciativa na pandemia de Covid-19, através da internet, tendo logo considerado “um projeto diferente de todos os outros”, quer pelas fotografias apresentadas, quer pelos textos, surgindo logo a curiosidade de saber mais.

“As expectativas foram superadas primeiro pela amabilidade com que nós todas somos recebidas logo pela Susana e pelo Ângelo, que são os mentores do projeto. Depois toda a gama de trabalhos que se fazem, que nós não podemos chamar trabalhos, que são pontos criativos e que nós acabamos por crescer em muitas vertentes, seja através daquilo que nós já sabemos, seja aquilo de tudo que todas as avós que lá estão nos dão”, assinalou.

Graça destaca os “laços afetivos” que se criam no projeto “A Avó Veio Trabalhar”, principalmente para os avós mais isolados.

“Nós crescemos para além do espaço avós. Nós podemos encontrar-nos depois de estar com as avós, fazemos as nossas tertúlias para além do espaço das avós. Eu acho que tem um lado tão bonito de acrescentar de vida”, ressalta.

Também Maria Clara Fonseca descobriu o projeto a partir da internet, quando ainda se realizava na Rua Poço dos Negros, no Chiado, em Lisboa, e agora participa nas sessões na Casa do Artista, onde reside o irmão José Manuel Fonseca, que foi saxofonista da banda “Quinteto Académico”.

Maria Clara considera o convívio “excelente” e refere que que esta é uma maneira “de aproveitar o tempo livre”.

“Para mim é muito interessante, porque também tenho cá o meu irmão”, salienta.

Já José Manuel Fonseca sublinha que esta forma de arte “é uma forma de desenvolver os problemas cognitivos das pessoas”.

“Ajuda a desenvolver a mente. Realmente, nesse aspeto, é bom. Cognitivamente, é uma boa ação”, reconhece.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Neste momento, o projeto “A Avó Veio Trabalhar” tem núcleos em Lisboa, nos Açores, e em São Domingos de Rana, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais.

“Nós vamos fazer 10 anos em setembro e tivemos o privilégio de irmos tendo alguns convites e podermos fazer algumas experiências. Temos feito muitas residências criativas fora de Lisboa, portanto, a nível nacional e internacional”, refere Susana António.

A Igreja Católica assinala a 28 de julho o IV Dia Mundial dos Avós e Idosos, celebração promovida pela Santa Sé, por iniciativa do Papa Francisco, no quarto domingo de julho, junto à festa litúrgica de São Joaquim e Santa Ana (26 de julho), os avós de Jesus.

O projeto “A Avó Veio Trabalhar” vai estar em destaque no programa ’70×7 ‘(RTP2, 07h30) deste domingo, dedicado ao Dia Mundial dos Avós e Idosos.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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