Balanço do representante da Conferência Episcopal Portuguesa no Congresso Terminou este Domingo em Roma o I Congresso Apostólico Mundial sobre a Divina Misericórdia. O Congresso iniciou-se no dia 2 de Abril, 3º aniversário do falecimento de João Paulo II. De facto, todo o Congresso se realizou tendo como inspirador e patrono João Paulo II. Nesse dia Bento XVI celebrou, na paça de S. Pedro, da parte da manhã, a Eucaristia por João Paulo II, dando assim início ao Congresso sobre a Misericórdia. O Congresso decorreu, nas suas sessões plenárias, na Basítica de S. João de Latrão. As sessões por línguas decorreram nas diversas igrejas de Roma. Na primeira noite, houve a oração do Rosário na Praça de S. Pedro, fazendo memória daquela noite em que João Paulo II partiu para o Pai, 2 de Abril de 2005. As outras noites foram na Praça Navona: na primeira, foi feito, pela comunidade cenáculo (da Ir. Elvira), um recital sobre o Evangelho na perspectiva da Misericórdia; na segunda noite, foi apresentada uma dramatização cantada e actualizada da Parábola do Pai misericordioso, pela comunidade Shalom; na terceira noite, realizou-se o Festival missionário, com canções e testemunhos sobre a divina misericórdia. Todas as noites se concluíram com a adoração do Santíssimo, e na última noite foi na Praça Novona, no palco do Festival missionário. Foram noites de grande alegria e testemunho da misericórdia. O Cardeal Camilo Ruini, bispo vigário da diocese de Roma, na sessão inaugural, caracterizou o Papa João Paulo II como Apóstolo da Misericórdia, pois a sua 2.ª encíclica foi sobre a Misericórdia de Deus, no Jubileu do ano 2000, canonizou Santa Faustina Kowalska, religiosa polaca, Grande apóstola da Misericórdia de Deus (que ele mesmo atinha beatificado, em 1993), determinando que o II domingo da Páscoa fosse denominado “Domingo da Misericórdia Divina”, quis que a Igreja do Espírito Santo, em Roma, se convertesse em Santuário romano da misericórdia (onde se venera o quadro de Jesus Misericordioso), e, a 17 de Agosto de 2002, na dedicação do Santuário de Lagiewniki, em Cracóvia, como Santuário Internacional da Misericórdia Divina, consagrou o mundo à Divina Misericórdia. Referiu que João Paulo II disse que Roma significa amor, lida a palavra de frente para trás. De Roma deve irraiar o amor, a misericórdia, para todo o Mundo. Este congresso é “apostólico”, porque ele tem por objectivo “estimular um novo impulso missionário na cidade de Roma e em todas as dioceses irmãs do mundo inteiro”. Na mesma sessão o Cardeal Estanislau Dziwisz, Secretário de João Paulo II, durante cerca de 40 anos, disse que João Paulo II e Santa Faustina são dois grandes apóstolos da misericórdia. O congresso pretende redescobrir e aprofundar o mistério da misericórdia. Saudou os presentes como Cardeal de Cracóvia, onde está sepultada Santa Faustina e está o santuário mundial da misericórdia, o Santuário de Lagiewniki, donde irradia, como João Paulo II quis e pediu, o mensagem da misericórdia para todo o mundo. “Somos uns priveligiados, mas ao mesmo tempo temos a obrigação de ser servidores da divina misericórdia”, disse. “Este Santuário está representado aqui pelas Irmãs da Misericórdia e pelos sacerdotes que lá trabalham”, referiu. Agradeceu ao vigário de Roma o ter dado a Igreja referida acima para o culto à misericórdia. “A mensagem da misericórdia veio para Roma para daqui irradiar para todo o mundo”, afirmou. O Cardeal Christoph Schonborn, arcebispo de Viena, que foi o promotor deste Congresso, na conferência inaugural, recordou que João Paulo II faleceu precisamente quando liturgicamente começava o Domingo da Misericórdia, proclamado pelo mesmo no ano 2000. «É difícil ou até impossível não ver nesta coincidência um sinal do Céu», reconheceu o cardeal austríaco. Em 1997, na sua viagem ao bairro Lagiewniki, em Cracóvia, onde viveu e foi sepultada a Irmã Faustina, João Paulo II declarou: “A mensagem da Divina Misericórdia em certo sentido formou a imagem do meu pontificado”. João Paulo II via na misericórdia uma mensagem para o nosso tempo. «Quanta necessidade tem o mundo de hoje da misericórdia de Deus!», disse em Lagiewniki, em 17 de agosto de 2002. De facto, estava convencido de que “na misericórdia de Deus o mundo voltará a encontrar a paz, e o homem, a felicidade”. O Cardeal Schonborn deteve-se a meditar sobre as palavras de João Paulo II em Lagiewniki. “Hoje quero confiar o mundo à divina misericórdia”. “Que a mensagem da divina misericórdia, confiada a santa Faustina, se difunda por todo o mundo”. E João Paulo II exortou a todos os presentes: “Sede testemunhas da divina misericórdia”. Estas palavras são o mote deste congresso, referiu o Cardeal austríaco. Ao reflectir sobre a misericórdia na Sagrada Escritura, o cardeal afirmou que é com Cristo que temos de aprender a ser misericordiosos. À luz da parábola do bom samaritano, a misericórdia não é um sentimento vago e universal mas algo de muito concreto. É necessário aprender a agir de modo humano como Jesus. O oposto da misericórdia é “endurecer o coração”. O arcebispo de Viena concluiu com palavras do diário da Irmã Faustina: «Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos …, as minhas mãos …, os meus ouvidos, mos meus pés …, o meu coração seja misericordioso”. No dia 3 de Abril, fez a conferência o Cardeal Backis, da Lituânia, da Diocese de Vilno, onde se encontra a primeira imagem de Jesu Misericordioso, mandada pintar por Santa Faustina. Falou sobre misericórdia de Deus como tesouro da Igreja. “Recolhamos a herença deixada por Joaõa Paulo II. Ele relançou a Divina Misericórdia no coração da Igreja e do mundo. É o regresso ao centro da mensagem cristã. Deus é amor e o amor é misericórdia”, afirmou. Falou da misericórdia de Deus como programa apostólico para toda a Igreja. Bento XVI em várias ocasiões tem manifestado que acolheu esta mensagem do seu predecessor. Depois falou da Imagem de Jesus misericordioso e da Coroa da misericórdia, segunda as revelações de Jesus a Santa Fasutina. Encorajou a todos a alimentar-se da divina misericórdia na Palavra de Deus e nos sacramentos, falando, de seguida, sobre a misericórdia na Escritura e nos sacramentos. “O programa messiânico de Cristo é um programa de misericórdia. Deve ser esse o programa da Igreja. Acreditar em Cristo é acreditar na misericórdia”, afirmou o Cardeal. “A Eucaristia, contiunuou ele, e dom do amor deixado por Cristo à sua Igreja. Na Eucaristia Jesus vem ao nosso encontro e nela recebemos a força para sermos misericordiosos”, disse. “No Santíssimo Sacramento nos deixaste a Tua misericórdia, refere Santa Faustina no seu Diário”. E noutra passagem afirma a mesma Santa: “Toda a força da minha alma vem do Santíssimo Sacramento”. Referindo-se ao Sacramento da reconciliação como dom especial da misericórdia de Deus, afirmou: “A misericórdia é o amor de Deus que se inclina sobre o pecador”. Será a confiança na divina misericórdia que levará os homens à descoberta do sacramento da reconciliação como sacramento da misericórdia, referiu. Concluiu falando de Maria como Mãe de Misericórdia, “aquela que conhece mais a fundo o mistério da divina misericórdia” , como afirmou João Paulo na Dives im Misericordia, que se abondonou com total confiança à divina misericórdia. Ela nos ensina a aceitar o tesouro da misericórdia que a Igreja nos oferece. No dia 4 de Abril, falou o Cardeal Francis Arinze sobre a misericórdia de Deus na Liturgia, desenvolvendo os seguintes pontos: 1. A história da salvação como história da divina misericórdia; 2. A divina misericórdia chega até nós através da Liturgia; 3. O mistério pascal ponto mais alto da minifestação da misericórdia de Deus; 4. A Misericórdia de Deus e os Sacramentos; 5. A Liturgia do domingo da misericórdia; 6. A missa votiva da divina misericórdia; 7. A misericórdia de Deus na Liturgia das Horas. Na sequência dos oradores anteriores, apelidou João Paulo II de grande apóstolo da divina misericórdia. Nesse sentido, referiu as palavras de Bento XVI no domingo da misericórdia de 2007: “Na palavra misericórdia’ ele [João Paulo II] encontrou a síntese e interpretou de novo para o nosso tempo todo o mistério da redenção”. Citando a encíclica Dives in Misericordia, afirmou: “A conversão a Deus consiste em descobrir a sua misericórdia” (DM 13); “Acreditar no amor é acreditar na misericórdia” (DM 7). No dia 5 de Abril teve a palavra o Cardeal Ranjith (do Sri Lanka), presidente do Secretariado para o culto divino, falou sobre “a misericórdia e a missão da Igreja”. Começou por afirmar que o grande inimigo da paz é o egoísmo, e citando Bento XVI (Castel Gandolfo 2007), disse: “No nosso tempo é necessário anunciar a todos a misericórdia”. Referiu que os conflitos entre os povos não nascem só de factores económicos e sociais, mas também de factores religiosos. Falando da misericórdia nas diversas religiões, salientou a novidade da misericórdia na religião cristã, como autodoação de Deus para salvar o homem. A misericórdia no novo testamento não é um conceito mas uma pessoa, Jesus Cristo o Filho de Deus. Citando João Paulo II, na Dives in Misericordia, disse: “A Cruz é o profundo inclinar-se de Deus sobre o homem”. Todos somos chamados a ser reflexo da misericórdia de Deus junto dos homens. A miserricórdia é o tesouro da revelação, referiu. E concluiu dizendo: “A Eucaristia é a contínua manifestação sacramental da misericórdia de Deus”. Testemunhar e celebrar Além destas conferências de estudo aprofundado sobre a misericórdia, este congresso caracterizou-se pela celebração do mistério da misericórdia (celebração diária de Laudes e da Eucaristia, adoração do Santíssimo e celebração do Sacramento da Reconciliação) pelo testemunho da misericórdia, e pelo anúncio da misericórdia. No que se refere ao testemunho da misericórdia gostaria de salientar, em primeiro lugar, o testemunho dado pela Ir. Elvira, fundora da Comunidade Cenáculo. É uma comunidade constituida por ex-toxicodependentes. “Estes jovens foram curados pela misericórdia. Antes não falavam, mas agora cantam porque foram alcançados pela misericórdia”, disse a Ir. Elvira com o rosto irradiante de alegria e ternura. A pedagogia é “o amor exigente”, dizia a Ir. Elvira. “É a cristoterapia”, dizia uma jovem Irmã desta comunidade (estas comunidades “Cenáculo” são constituidas por padres, irmãs e leigos). “Os jovens não ouvem o que dizemos, mas vêm o que fazemos por eles”. “Devemos amar porque Deus é amor”, dizia a Ir. Elvira. Outro testemunho da misericórdia foi de uma jovem, chamada Immaculée, do Ruanda, da tribo Tutsi, que alguém escondeu duarnte 3 meses numa casa de banho para a livrar do genucídio da sua tribo. Toda a sua família foi extreminada. Pela misericórdia de Deus, ela conseguiu pedoar aos assassinos. No que se refere ao anúncio da misericórdia, numa das tardes do Congresso, nas Igrejas das diversas línguas, enquanto uns adoravam o Santíssimo, rezando pela missão, outros cantavam cânticos de mensagem e dançavam em frente às Igrejas, para atrair a atenção dos que passavam, e outros, dois a dois, foram anunciar a misericórdia de Deus pelas ruas da cidade de Roma. Este I Congresso sobre a Misericórdia reuniu gente de todos os continentes. Esse foi um dos objectivos do congressos: reunir as pessoas que procuram viver e anunciar a mensagem da misericórdia, particularmente à luz das revelações de Jesus a Santa Faustina. É de salientar a presença muito viva e numerosa da América Latina, dos Estados Unidos. Estiveram também alguns países de àfrica, Malásia, Japão, Filipinas, Austrália, Correia e, naturalmente, da Europa. No total, os participantes eram cerca de 3.500, sendo cerca de 300 sacerdotes e bastantes religiosas. Entre bispos e cardeais estavam cerca de duas dezenas. O que mais me tocou foi o entusiasmo dos países da América Latina e da Ásia. A renovação da Igreja virá deles. Na homilia da Eucaristia de encerramento, na basílica de S. Pedro, o Cardeal Schonborn exortou a todos a sermos testemunhas da misericórdia de Deus. Mas só pode ser testemunha da misericórdia quem fizer a experiência dessa misericórdia, referiu. Todos partimos de Roma com o desejo fazermos todos os dias essa experiência e um grande desejo de a testemunharmos na nossa vida, na relação com os nossos irmãos, partiocularmente os mais pobres. Pe. Basileu Pires, Representante da Conferência Episcopal Portuguesa no Congresso