Hospital de São João é exemplo de entendimento ecuménico e inter-religioso

Novas espaço de culto construído com o contributo das várias confissões

A Capelania do Hospital de São João (HSJ) foi precursora na abertura à assistência religiosa e espiritual por parte de representantes de outros credos, prática que passou a ser regulamentada desde o ano passado.

A integração de responsáveis de outras confissões religiosas na dinâmica da unidade portuense não se resume ao acompanhamento individual dos doentes. Além das celebrações e encontros em comum, representantes de diversos cultos têm participado em actividades formativas dirigidas aos alunos da Faculdade de Medicina.

Em resposta às exigências do Decreto-Lei 253/2009, a administração do HSJ decidiu construir um espaço destinado ao recolhimento, oração e cerimónias dos fiéis das outras confissões religiosas, mantendo a capela católica.

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Entendimento exemplar

Os representantes de outras Igrejas e credos expressaram a sua satisfação pelo entendimento conseguido graças ao diálogo ecuménico e inter-religioso no Hospital de São João.

Emília Marques Rosa, budista, espera que a construção do novo espaço se estenda a outros hospitais. “É muito importante que os doentes tenham um sítio onde se possam recolher e ter alguma assistência e conforto a nível espiritual”, afirma.

Para D. Fernando Soares, da Igreja Lusitana, “as administrações hospitalares devem, por si mesmas, conduzir os processos, de modo que na relação com as diferentes confissões religiosas se possam encontrar meios e caminhos” para consolidar a vivência espiritual dos doentes”.

“A ideia do Hospital de São João deve ser seguida a nível nacional”, defende José Ruah, da Comunidade Judaica. A adopção desta medida dispensaria o estabelecimento de soluções locais, “que são sempre mais difíceis de implementar”.

“Estou muito satisfeito pelo convite que nos fazem para participar no projecto”, refere Divias Jamnadas, seguidor do Hinduísmo.

O presidente do Conselho Português das Igrejas Cristãs, D. Sifredo Teixeira, observa que a edificação do novo espaço de culto “visa criar condições para que as pessoas que vêm ao hospital se sintam bem acolhidas”, em especial as que “valorizam a sua experiência religiosa”.

A abertura manifestada pelo capelão católico foi sublinhada pelos enviados das outras confissões.

O vice-presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, Pastor Abel Pego, reconhece que “o Hospital de São João é pioneiro nesta área, não apenas no que diz respeito à sua administração, mas também ao Pe. Nuno, que na Capelania tem sido uma espécie de piloto na abertura às várias confissões cristãs e religiões”.

Abdool Rehman Mangá, representante do Islão, lembra que “sempre tivemos as portas abertas para dar apoio religioso”, mediante a colaboração da Igreja e, “no Hospital de São João, do Pe. Nuno”.

“Bloco espiritual”

O projecto do novo local de culto foi confiado a Bernardo Abrunhosa de Brito. O arquitecto pretende “tornar o espaço versátil”, “suficientemente neutro”, mas que “não seja descaracterizado”.

As novas tecnologias poderão contribuir para que o lugar se torne significativo para cada confissão, mantendo, ao mesmo tempo, a capacidade de se adaptar à simbologia de todos os credos.

O pólo inter-religioso será construído após a ampliação do 9.º e 10.º pisos, os mais altos do complexo hospitalar. O director de Instalações e Equipamento do HSJ, Jorge Sousa, explica que o último andar será um “bloco espiritual”. A área total e os custos ainda não estão definidos.

O novo espaço inter-religioso deve contribuir para que “cada pessoa se sinta em casa”, refere o Pe. José Nuno. “A procura das soluções de futuro não pode assentar na ‘assepsia’ dos lugares de culto”, acrescenta.

O presidente do Conselho de Administração, António Ferreira, lembra que “o hospital tem que respeitar todas as sensibilidades”, pelo que este investimento “não se trata de uma doação, mas de um dever”.

Os passos que estão a ser dados no HSJ podem tornar-se um padrão para as transformações necessárias noutras unidades. Segundo o Pe. José Nuno, o Grupo de Trabalho Inter-religioso tem recebido pedidos de ajuda para elaborar as regulamentações internas.

Na generalidade dos hospitais é pacífica a preservação da capela católica, a par da criação de uma zona inter-confessional. Em algumas instituições, no entanto, a construção desse espaço é um dos problemas mais delicados, devido à exiguidade das instalações.

As alternativas para a criação desse espaço divergem: alguns conselhos de administração tendem a optar por uma área neutra, ao passo que outros privilegiam a construção de um local de culto.

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