Paulo Rocha, Agência ECCLESIA
“Mais sete anos e voltareis aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora ‘vinda do Céu’”.
No dia 13 de maio de 2010, na homilia da Missa no Santuário de Fátima, ouviu-se esta afirmação. Fê-la o Papa Bento XVI, apontando a hora do centenário, que se celebra no dia 13 de maio de 2017, ao meio-dia. Desde essa outra hora, há sete anos, um abrangente itinerário pastoral e cultural coordenado e dinamizado pelo Santuário de Fátima preparou a celebração dos 100 anos das Aparições. Na Cova da Iria ou noutros centros de culto e de cultura, foi possível criar novas proximidades à Mensagem de Fátima, lê-la a partir dos tempos atuais e traduzir, em formatos e linguagens diferentes, os apelos deixados aos três pastorinhos. E com um balanço francamente positivo, pela possibilidade que ofereceu a criadores de cultura de se aproximarem das interpelações acolhidas por crianças e propostas a um mundo carente de paz, traduzidas depois em obras de arte, interpretadas por académicos e sobretudo vividas em muitos percursos de vida.
Mas há outra hora, a permanente hora do centenário: a que é vivida desde 1917 por cada peregrino, por cada mulher ou homem que se dirige à Cova da Iria em busca da mensagem “vinda do céu”.
Um santuário é, por natureza, um local de peregrinação. E os peregrinos são sempre as referências bastantes para a vitalidade de um local de espiritualidade, de oração, de paz, que marcam também o ambiente do Santuário de Fátima e ali é experimentado por crentes e até por quem chega à Cova da Iria em atitude de procura interior, a mesma que distinguiu o itinerário espiritual de muitos místicos na História da Igreja.
Felizmente, Fátima afirma recorrentemente a centralidade do peregrino nas atividades que desenvolve. Quem as observa, corre o risco de erguer indiferenças diante de cada rosto que chega, reza e depois parte de um recinto que é de oração. Mas esse é o dinamismo que mais atenções deveria prender, porque é o único responsável pela vitalidade de Fátima, pela crescente relevância que tem, cada vez mais à escala global.
Em Fátima, cria-se proximidade com Deus, acontece o acolhimento do transcendente e descobre-se a possibilidade de viver o quotidiano com o divino por perto. Como aconteceu com os pastorinhos: sem vidas extraordinárias ou longas, foi essa disponibilidade que fez da história de três crianças uma história de santidade.
Entre 1917 e 2017, o Santuário de Fátima e a Mensagem que lhe dá vida mostrou-se de muitos ângulos, foi pintado de várias cores e alvo de todas as considerações e sentenças, por quem acredita e pelos que se preocupam por definir o grau da crença ou da descrença que deve ser atribuído a revelações privadas, reconhecidas pela Igreja Católica.
Mas, ao longo de cem anos, a densidade da história de Fátima vê-se sempre através da mesma luz, a de cada vela, tem os mesmos rostos como protagonistas, o de cada peregrino, e escreve-se com os momentos de quem chega e depois parte, após horas vividas a partir de dentro. E são essas as horas do centenário.