Comemoramos hoje a Batalha das Linhas de Elvas, travada nestas terras elvenses a 14 de janeiro de 1659, completando-se assim hoje os 360 anos deste decisivo acontecimento para a liberdade da nossa Pátria.
Em 1659, com o intuito de fazer capitular a restauração da plena independência de Portugal reavida a 1 de dezembro de 1640, o exército Espanhol, comandando por D. Luís de Horo, acampou na fronteira do Caia com 19 mil militares, 14000 de Infantaria e 5000 de Cavalaria. O objetivo era o cerco da cidade de Elvas e a sua rendição. Nesta cidade se concentravam as preocupações e as esperanças da independência de Portugal e se jogou de modo muito importante o futuro do povo e da sua cultura.
Hoje, como herdeiros desta vitória dos Portugueses, damos graças a Deus pela liberdade e renovamos o nosso esforço e empenhamento para merecermos todas as vidas dadas pela Pátria. Que a nossa geração saiba semear e construir pontes de diálogo e tolerância para fazermos acontecer a unidade de um povo a favor das grandes causas da justiça da fraternidade, da solidariedade e da humanização.
Claro que só com sentido competente e transparente de serviço ao Bem Comum podemos favorecer o crescimento e o fortalecimento da qualidade de vida de todos os cidadãos deste país, com a Doutrina Social da Igreja, lembro sobretudo a necessária igualdade de deveres, direitos e oportunidades de todos os cidadãos. No interior do País como seria possível a garantia destes direitos sem um atento e esforçado investimento, para que se criem possibilidades de fixação das novas gerações?
O desinvestimento a que assistimos gerará a continuação da desertificação humana com as consequentes deteriorações do Património e da Natureza, por isso o investimento não pode depender somente de critérios de eficácia, autossustentabilidade e resultados para as estatísticas, mas de opções de humanização e salvaguarda e preservação do território.
Pedimos a Deus pelo futuro de Portugal, por cada Português e Portuguesa e por todos aqueles que acolhemos em contexto de migração. Seja-me permitido lembrar as novas gerações que merecem que lhe leguemos um interior habitável e qualificado.
É a cada um de nós que se dirige o Evangelho que acabámos de acolher em nosso coração. S. Marcos apresenta Jesus como o arauto que traz a Boa Nova do Evangelho, o Reino de Deus anunciado pelos Profetas está à porta. É momento para aderirmos aos valores e critérios do Evangelho ou para adiarmos essa proposta capaz de nos renovar, de renovar os corações humanos e connosco renovar as mentalidades e a sociedade. Só corações novos farão um mundo novo.
Como os quatro primeiros discípulos, João, Tiago, André e Simão Pedro, somos convidados a dar o nosso sim a Cristo e com Ele a colaborarmos na edificação do Reino de Deus, assente na Justina, no Amor e na Paz.
Rezamos a Deus por todos os que tombaram aqui em Elvas, durante o cerco; cerca de 300 mortes de civis por dia devido à peste. Os militares falecidos, vindos de Estremoz, Viseu, Ilha da Madeira, Borba, Juromenha, Campo Maior, Vila Viçosa, Monforte, Arronches. Sufragamos os oito mil militares comandados pelo Conde de Cantanhede e D. Sancho Manuel, que vindos de Estremoz, entraram pelo sítio dos Murtais e saíram vencedores neste dia há 360 anos. Rezamos também pelos mortos dentre as tropas filipinas: dos dezanove mil homens comandados por D. Luís Horo, apenas escaparam com vida cinco mil infantes e trezentos cavaleiros. Que todos repousem na paz de Deus.
Elevemos um hino à Paz entre os dois povos. Que para sempre sejamos irmãos em Paz.
Évora, 14 de janeiro de 2019
D. Francisco Senra Coelho, Arcebispo de Évora.