Rev.mo Mons. Hélder de Sousa Mendes, Administrador Diocesano
Rev.mos Sacerdotes e Diáconos
Rev.mos Religiosos e Religiosas
Queridos irmãos e irmãs no Senhor Ressuscitado
Depois da abundância e da riqueza da Palavra de Deus que, como acontece em cada ano, foi proclamada nesta solene Vigília Pascal, qualquer palavra humana pode parecer inútil e inoportuna. Mesmo assim, tendo em conta quanto prevê a Liturgia da Igreja, permito-me oferecer algumas reflexões que podem ajudar a entender melhor o sentido desta celebração.
Um elemento que carateriza a Liturgia da Vigília Pascal é a simbologia das trevas e da luz. As trevas são o símbolo da morte, do maligno, do pecado, do desespero, do sofrimento, do castigo, da enfermidade, da escravidão, da violência, da guerra. São todas situações e experiências que fazem sofrer muito os seres humanos, pondo em risco a possibilidade de alcançar a salvação eterna à qual todos são chamados.
Por outro lado, a luz que rasga as trevas é o símbolo de Jesus, que, através da sua paixão, morte e ressurreição, vence tudo o que é representado pelas trevas. Portanto anunciar que Jesus ressuscitou significa afirmar que:
= a morte física não é mais a última palavra, antes a porta através da qual entramos na vida eterna; graças aos méritos da paixão e morte de Jesus, temos a possibilidade de experimentar, se somos dignos, a felicidade do Paraíso.
= o diabo, que julgava ter vencido Jesus na trágica conclusão da morte na cruz, na realidade no dia de Pascoa é derrotado definitivamente; entretanto vivemos o tempo chamado do “já e ainda não”: o Reino de Deus já se está a expandir, porém não está ainda implementado definitivamente porque se está a realizar uma grande luta entre a irresistível força de salvação de Cristo, de um lado, e, do outro, as graves e múltiplas tentativas de sabotagem do diabo.
= o pecado, que parecia ser uma condição da qual os homens eram incapazes de libertar-se, de facto é eliminado pelo sacrifício de Jesus; com o Seu sacrifício, Ele expiou o pecado original como também todos os nossos pecados.
= o desespero, no qual os seres humanos caem por causa das inumeráveis dificuldades e provações da vida, não é o último sentimento, pois este é vencido pela esperança e a caridade. Nas provas e sofrimentos a esperança cristã liberta do perigo e do desespero. Também a caridade cristã, a solidariedade, a empatia e a amizade são instrumentos decisivos para libertar do desespero e da depressão as pessoas que sofrem no corpo ou no espírito; não se pode esquecer que um dos objetivos do diabo é de conduzir as pessoas ao desespero, a desconfiar do amor de Deus, a deixar-se abandonar ao pessimismo, ao ódio, à inveja e a sentimentos de autodestruição.
= o sofrimento, físico e espiritual, que parece ser injusto e inútil, pode transformar-se num instrumento de resgate e redenção; depende de nós, graças aos méritos da paixão e morte de Jesus, de transformar os nossos sofrimentos em instrumentos eficazes para difundir o Reino de Deus e adquirir méritos para a vida eterna.
= o castigo, que parecia como algo definitivo a motivo da má conduta dos homens, é na realidade instrumento de purificação e santificação; sabemos que, para a nossa conversão, purificação e salvação, Deus permite situações que contribuem à salvação das pessoas.
= a doença, que se apresenta como um destino inevitável para os seres humanos, transforma-se numa fonte de graças; na cruz Jesus não eliminou as doenças do corpo e do espírito, mas ensinou-nos a enfrentá-las com espírito de fé e docilidade à vontade de Deus.
= a escravidão, à qual os homens reduzem outros homens, vê aparecer o momento da libertação; por amor, Jesus aceitou a experiência da paixão e da morte, para a salvação de todos os seres humanos. Assim deu um valor e uma dignidade enorme a cada pessoa, enquanto preciosa aos olhos de Deus.
= a violência, que é apresentada como único método para resolver os problemas entre as pessoas, pode ser substituída pelo caminho da paz e da reconciliação; Jesus, com a sua entrega total na cruz, indicou o caminho do amor e da misericórdia para resolver as contendas humanas.
Com a ressurreição de Jesus inicia-se, portanto, o resplandecer de um novo dia que se instaurará de maneira definitiva com o regresso glorioso e definitivo de Cristo.
Este é, portanto, o tempo em que coexistem trevas e luz, no qual as trevas parecem ainda dominar sobre a luz, em que temos de lutar contra o mal e o diabo sabendo, porém, que Jesus sai vitorioso. E cada batizado, «foi com uma esperança, para além do que se podia esperar» (Rm 4,18), tem a missão de difundir no mundo e na história esta mensagem de esperança que nenhuma tragédia pode apagar.
Esta é a mensagem que devemos anunciar e testemunhar, dando prova de ter uma esperança inquebrantável porque fundada sobre Cristo Ressuscitado, primícia de uma nova humanidade chamada a ultrapassar “as portas da eternidade”.
+ Ivo Scapolo
Núncio Apostólico
16 de abril de 2022, Catedral de Angra