Homilia do bispo do Porto na Vigília Pascal

Irmãos e Irmãs,

1. Vivemos esta Vigília Pascal como a maior e a mais bela de todas as vigílias da liturgia da Igreja.

É com júbilo que celebramos nesta Vigília o anúncio feliz e festivo da ressurreição do Senhor nesta Igreja Catedral do Porto, em comunhão com todas as Comunidades da nossa Diocese.

Sentimo-nos envolvidos pela alegria da ressurreição de Jesus e estamos reconhecidos a todos quantos, ao longo da vida e da história do Porto, edificaram a cidade de Deus na cidade dos homens que hoje somos e trouxeram até nós esta afirmação fundamental da nossa fé e esta certeza inabalável da ressurreição de Jesus.

A beleza e a dignidade da liturgia, o significado do lume novo, o cântico do precónio pascal, a proclamação da Palavra de Deus, a bênção da água batismal, a Ceia Pascal e o anúncio festivo da ressurreição de Jesus, Filho de Deus criam à nossa volta e instauram no mundo um ambiente de alegria, de esperança e de vida.

Celebramos a passagem de Cristo da morte para a vida. Jesus venceu a morte e redimiu-nos do pecado. Esta é, por isso, a festa da Vida!

Sempre que uma vida nasce há razão para celebrarmos a surpresa e a bênção do dom do amor de Deus, que essa vida significa. Sempre que uma vida ressurge e se recompõe pelo mistério da graça, da reconciliação e da paz há uma nova e acrescida oportunidade para dar louvor a Deus que salva, que liberta e que redime.

Mas, só à luz da ressurreição de Cristo compreenderemos o valor da vida que nasce e o sentido da missão ao serviço das pessoas, das famílias e dos povos que se reconciliam com Deus e querem viver a alegria da Páscoa.

Jesus Cristo é a cabeça de uma nova Humanidade, modelo e paradigma de quanto a comunidade dos crentes tem por missão realizar no coração das pessoas e da Sociedade.

A Igreja encontra em Cristo, vivo e ressuscitado, a sua origem, a sua razão de ser e o sentido da sua presença viva e vivificante no meio do mundo.

2. Como cristãos, somos chamados a ser sinal de Cristo ressuscitado e testemunhas da ressurreição na vida e na ação das comunidades cristãs. Ao longo de cinquenta dias de tempo pascal é a Páscoa vivida e celebrada que sobressai e é Cristo ressuscitado que atua significativamente através da vida dos cristãos e da ação pastoral de toda a Igreja.

É este um tempo particularmente belo e denso a dizer-nos que as comunidades paroquiais, os movimentos apostólicos e os serviços pastorais devem inscrever no seu íntimo e na sua missão esta identidade e esta pertença pascal que nos impelem a sermos verdadeiros servidores da vida e felizes mensageiros da alegria da Páscoa.

O espírito pascal estende-se, também, a todos os homens e mulheres de boa vontade que muitas vezes, mesmo sem terem uma plena consciência crente ou uma afirmada prática cristã, são nas suas vidas e profissões verdadeiros servidores da vida e generosos construtores do bem comum.

A certeza da ressurreição significada no Círio Pascal, sinal de Cristo, luz do mundo, ilumina de uma luz nova a vida dos discípulos de Jesus e traz ao mundo a alegria pascal, capaz de contagiar os que vivem connosco.

Cristo ressuscitou, está vivo! Somos testemunhas da ressurreição, a exemplo dos discípulos e das mulheres que viram primeiro o sepulcro vazio.

Reconhecemo-Lo ao partir do pão, como os discípulos de Emaús. Acreditamos sem termos visto, segundo a expressão de Jesus a Tomé.

A fé pascal dos cristãos é este encontro com Cristo ressuscitado que envia a Igreja a comunicar esta certeza de vida e este sentido de alegria pascal a todos os lugares e em todos os tempos. Esta é a festa da Igreja!

3. Façamos do tempo pascal uma viagem de fé e de missão em visita e em anúncio que leve, com vigor, encanto e entusiasmo, a alegria do evangelho e o anúncio da ressurreição de Jesus a todas as pessoas, terras e culturas deste espaço diocesano da Igreja do Porto.

O anúncio da Páscoa não se pode fechar nos espaços interiores das nossas igrejas. O tempo pascal, intenso e prolongado, é de si inspirador e mobilizador de iniciativas que podem ser uma oportunidade evangelizadora de abertura da Igreja ao mundo e de acolhimento fraterno de tantos que, a partir destes momentos e por ocasião das mais diversificadas celebrações festivas, tão frequentes neste tempo, se abrem a Cristo e se aproximam da Igreja. Esta é a festa da missão!

4. Confio-vos, irmãos e irmãs, esta particular e urgente missão que consiste em anunciar a alegria da Páscoa. Recorro às palavras do Papa Francisco na Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho” que nos diz que “Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança. A ressurreição de Cristo não é algo do passado.

A ressurreição contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado rebentos de ressurreição…Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada, através dos dramas da história… Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo e mensageiro desta alegria” (EG 275-276).

5.Vós, irmãos e irmãs, sois exemplo deste caminho pascal e protagonistas desta missão, que agora e aqui começam. Convosco quero percorrer os caminhos da nossa Diocese e desejar a todos diocesanos do Porto uma santa e feliz Páscoa! 

Penso, com acrescido afeto, nos que mais sofrem, feridos pelas dificuldades próprias de quem não tem alegria, esperança, liberdade, trabalho, casa ou pão. Para eles, a Páscoa só terá sentido se à certeza da ressurreição de Cristo juntarmos a solicitude solidária e o amor perene dos cristãos. É essa a nossa missão e é esse o nosso dever.

Igreja Catedral do Porto, 19 de abril de 2014

António, bispo do Porto

 

 

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