Homilia do bispo do Porto na Missa Crismal

Irmãos e irmãs,

1.«O Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova» (Is 61, 1-9 e Luc 4, 16-21)

Em cada ano, a celebração da Missa Crismal, na manhã da Quinta-Feira Santa, convoca-nos e reúne-nos para avivar a alegria da nossa fé, para fortalecer o espírito da nossa comunhão e para consolidar o caminho pastoral de cada Igreja particular.

A fé cristã nasce da graça pela qual Deus nos faz conhecer o testemunho apostólico sobre Jesus de Nazaré, a sua vida e a sua missão. Esta é a graça apostólica que nós devemos à Igreja. Esta é a fonte da nossa alegria e a raiz da nossa fortaleza. O «hoje» da Sinagoga de Nazaré que Jesus assumiu para si, interpretando o texto de Isaías, é, também, o hoje da Igreja. É este dia que vivemos. É o agora e o aqui da vida da Igreja do Porto.

Sabemos que são abundantes os frutos deste longo e belo caminho da Igreja do Porto. Tocamos de perto muitas alegrias vividas pelas pessoas, pelas famílias, pelos movimentos apostólicos e pelas comunidades. Sentimos que o horizonte da missão se deve abrir a espaços novos de diálogo com o mundo, onde se espelhe o rosto missionário da Igreja.

O mistério da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus é lugar do encontro definitivo e redentor da Humanidade com Deus e certeza do encontro de Deus com quantos habitam a nossa Terra.

2.Ungidos com o óleo da bondade, da misericórdia e da alegria

A Missa Crismal revela aos nossos olhos a beleza de todo o Povo de Deus, povo consagrado e reino de sacerdotes, na variedade dos seus dons, na pluralidade dos seus carismas, na diversidade dos seus ministérios e na raiz comum de um só batismo.

A liturgia de hoje recorda-nos, ao mesmo tempo, a nós sacerdotes, que vivemos em estreita relação com todo o povo de batizados, porque somos cristãos com eles, e fomos constituídos em benefício de todo o povo de Deus, porque somos sacerdotes para eles. E isto compromete-nos a seguir Cristo mais de perto, na fidelidade aos compromissos sacerdotais e no gosto de vivermos plenamente a beleza e a bondade do nosso ministério.

A bênção e a consagração dos Santos Óleos falam-nos desta dimensão sacramental da Igreja que nos comunica a graça pascal de Cristo e nos inicia na vida da comunidade cristã. Através dos óleos, benzidos e consagrados nesta celebração, a graça divina fluirá nas almas, como portadora de luz, de sustento e de força. Batizados, crismados e ordenados, catecúmenos ou
doentes, os óleos santos conformam-nos e configuram-nos com Cristo, nosso Salvador.

Na Missa Crismal, os santos óleos estão no centro da ação litúrgica. São abençoados e consagrados na Igreja Catedral para o ano inteiro da vida das nossas Comunidades diocesanas. Assim, exprimem também a unidade da Igreja e imprimem em nós a marca de Cristo.

A Missa Crismal, na qual o óleo nos é apresentado como linguagem da criação de Deus, fala-nos particularmente a nós sacerdotes. Fala-nos de Cristo que Deus ungiu como Rei e Sacerdote e que nos torna participantes do seu sacerdócio, da sua unção, na nossa ordenação sacerdotal. Por isso, a unção significa sempre para o sacerdote a missão de levar a misericórdia de Deus aos homens. «Na lâmpada da nossa vida não devia faltar nunca o óleo da misericórdia e da alegria» (Bento XVI, Missa Crismal 2010).

Não podemos ser cristãos nem sacerdotes sem Igreja, sem esta Igreja conciliar, renovada e missionária. Percebemos, igualmente, que não podemos ser sacerdotes nem cristãos sozinhos e fora do mundo que Deus ama.

Os seminaristas, os diáconos, as comunidades religiosas e os consagrados(as) da nossa Diocese vivem este dia connosco sacerdotes, com particular e sentida comunhão e com renovado compromisso de missão.

3. “Estavam fixos em Jesus os olhos de todos” ( Luc 4, 20)

A Igreja pede-nos, a nós sacerdotes, que fixemos em Jesus o nosso olhar e renovemos as nossas promessas sacerdotais, que nos recordam o dia em que fomos constituídos pastores da Igreja ao serviço dos nossos irmãos. Com alegria e vontade determinada, queremos renovar a nossa fidelidade sacerdotal e desejamos perseverar com coerência e dedicação no serviço pastoral dos ministros de Cristo.

Saboreemos este momento com a alegria reencontrada do dia da nossa ordenação, com o entusiasmo renovado do nosso amor à causa de Jesus e com o ardor da nossa paixão pela missão da Igreja.

Sinto no olhar das comunidades cristãs e do mundo que nos rodeia, nestes tempos difíceis que vivemos, o desejo de ver na Igreja o sinal de esperança que procuram naqueles que a servem. Todas as pessoas, sobretudo as que mais sofrem precisam de encontrar em nós o testemunho vivo do amor redentor de Jesus Cristo.

Todos devemos muito aos Seminários que nos formaram, às famílias donde vimos, às comunidades que nos acompanharam no decurso do tempo.

Aprendemos a ser pastores no exercício do próprio ministério, mas também e muito a partir da nossa fraternidade presbiteral. A fraternidade presbiteral é uma exigência da caridade pastoral. E a caridade pastoral alimenta-se do nosso encontro com Cristo, da nossa entrega ao ministério, porque é um amor cujo destinatário imediato é a comunidade eclesial. Por seu lado, a comunidade que servimos constitui outro elemento fundamental da nossa espiritualidade. Sabemo-nos discípulos de Jesus e missionários em Seu nome, para que as nossas comunidades tenham vida e a tenham em abundância.

4. “A graça e a paz vos sejam dadas por Jesus Cristo” (Apoc 1, 5)

Esta é a hora abençoada para vos dizer a vós, irmãos sacerdotes, todo o meu afeto. Ao longo do tempo, que agora começa, vamos encontrar-nos, rezar juntos, partilhar alegrias, experiências, preocupações, sonhos, esperanças e projectos. Viveremos conjuntamente decisões e caminhos de vida sacerdotal e planos e programas de acção pastoral ao serviço da Igreja no Porto e para bem de toda a Comunidade portucalense.

Sinto que a santidade de bispos e sacerdotes que nos precederam, ao longo de muitos séculos de vida como Diocese, é para nós uma bênção que nos fortalece no ministério e nos estimula na responsabilidade.

Penso com mais afeto naqueles de entre vós que estão fragilizados pela idade, pela doença ou por provações dolorosas. Que eles sintam que estão presentes no nosso coração e que estamos decididos a cuidar deles e a viver com eles numa proximidade fraterna. Na impossibilidade de a todos visitar e de me encontrar com cada um, de imediato, quis iniciar o meu caminho na Diocese pela visita à Casa Sacerdotal que tem como missão ser santuário de
gratidão para acolher e envolver de dedicação os nossos sacerdotes e pessoas que a eles se dedicaram.

Lembro os sacerdotes do nosso presbitério que estão em missão pastoral ou vivem fora do nosso espaço diocesano. Que sintam todos a nossa presença fraterna!

Louvo o Senhor, nosso Deus pela dedicação, generosidade e constância com que assumis a vossa missão, em tempos exigentes, em circunstâncias muitas vezes complexas, em esforço acrescido, dado o nosso reduzido número diante de uma comunidade que aumenta em apelo à nossa presença e ministério. Devemos dar resposta à procura da formação cristã das comunidades, à celebração digna dos mistérios da fé e às urgências sociais e imperativos culturais que temos diante de nós.

Os tempos que vivemos são simultaneamente exigentes e apaixonantes, na preciosa tarefa de anunciar a alegria do Evangelho, como nos propõe o Papa Francisco. A nossa alegria de ser padre é elemento essencial da alegria do Evangelho. As bem-aventuranças do Evangelho são inesgotáveis. A cada leitura sentimos vontade de saber mais e de as vivermos melhor. Elas estão habitadas por uma mensagem divina que ilumina e faz feliz a vida humana, que é luz do mundo e sal da terra. Nelas encontramos horizonte de sentido para a vida, caminho para a missão e força contínua nas horas mais duras e nos momentos mais difíceis. Elas constituem um dos mais belos textos da Humanidade. É necessário reinventar as bem-aventuranças e aplicá-las, também, a nós, caríssimos sacerdotes.

Dou graças a Deus pelo dom dos novos sacerdotes concedidos à Igreja do Porto no ano passado: Jorge Manuel da Rocha Nunes e Ricardo Álvaro Aguiar Ribeiro que, pela primeira vez participam nesta Missa Crismal, como presbíteros. Acolhemos com alegria no nosso presbitério os Padres que este ano vieram viver e trabalhar na nossa Diocese, membros de congregações ou institutos religiosos. Que Deus a todos recompense!

Este é também o dia jubilar em que a Igreja diocesana saúda com fraterna alegria os sacerdotes Benjamim de Sousa e Silva, Francisco Andrade Moreira da Costa, José Nuno Ferreira da Silva, Luciano Alberto da Silva Lagoa, Vicente António Nunes da Silva, que neste ano celebram 25 anos de ordenação, e os Padres Amadeu Ferreira da Silva, Domingos de Lima Milheiro Leite, Joaquim Maia Moreira de Sousa, José de Almeida Campos, José Maria Gomes Pereira Manuel Dias da Silva, Marílio da Costa Faria e Rui Osório de Castro Alves que celebram 50 anos. Louvamos o Senhor pela sua vida, ministério e generosa doação!

Recordamos todos com permanente saudade e gratidão os nossos Bispos D. António Ferreira Gomes, de cuja morte celebramos no passado domingo vinte e cinco anos, D. Júlio Tavares Rebimbas e D. Armindo Lopes Coelho assim como os sacerdotes, Luis Manuel Brenlha Lopes, Aníbal Duarte Pereira, Augusto Teixeira de Sousa, Ramiro Ferreira Pinto, António da Fonseca Soares, Armindo da Silva Gomes, Joaquim Azemiro de Sousa Oliveira, Adolfo Fânzeres Martins, Fernando Cardoso Lemos, Manuel Gameiro  e o Diácono Fernando Alberto Alves da Silva, a quem o Senhor chamou ao longo do último ano.

Saúdo-vos, caríssimos seminaristas. A vossa presença aqui diz-nos do vosso desejo de avançardes no caminho que vos conduz ao sacerdócio e da alegria, da comunhão e do testemunho que encontrais em nós sacerdotes. Queremos ser para vós um estímulo e uma bênção. Vós, seminaristas, incentivais com a vossa alegria e generosidade outros jovens a ouvir a voz do Senhor e a ver mais longe no tempo e na esperança de novas vocações.

Obrigado pela vossa presença e pelo vosso testemunho.

5. Uma prece confiante

Rezai, irmãos e irmãs, pelos nossos presbíteros e diáconos e por nós bispos.
Perdoai as nossas fragilidades, compreendei os nossos limites e alavancai o meu louvor a Deus e o meu serviço humilde a esta Igreja a quem fui dado para amar e servir. Fazei vossa, também, a minha gratidão pelo bem realizado pelos sacerdotes ao serviço desta amada Igreja do Porto.

Que a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, nos abençoe, ilumine e proteja neste nosso caminho de alegria, generosidade e doação, e que o Papa João XXIII e o Papa João Paulo II, que vão ser proximamente canonizados e nos deram tão belos exemplos de ministério e tão oportunos ensinamentos de vida, nos ajudem com a sua intercessão.

Igreja Catedral do Porto, 17 de Abril de 2014

António, Bispo do Porto

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Agência ECCLESIA

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