Homilia do Bispo do Funchal na Missa Crismal

Apaixonados por Cristo, em missão para um mundo novo!

É com profunda alegria que presido, nesta Sé, à solene concelebração da Missa Crismal, com os sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosas e religiosos, outros membros de institutos de vida consagrada e demais povo de Deus.

Em pleno Ano Sacerdotal esta celebração de Quinta-feira Santa, Dia da Eucaristia e do Sacerdócio, reveste-se de um profundo e singular significado de unidade e comunhão sacerdotal, tanto no âmbito eclesial diocesano como na dimensão mais alargada da Igreja Universal.

Temos connosco a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que, desde o dia 12 de Outubro passado, tem percorrido as nossas paróquias e outras comunidades, envolvendo-nos a todos num esforço pastoral comum e exigente, no serviço ao Povo de Deus. A sua presença hoje, aqui, é um sinal que ficará a recordar esta sua visita à Diocese e constitui para nós um convite a elevarmos o nosso pensamento e o nosso coração a Maria, Mãe de Jesus, Mãe da Igreja e nossa Mãe.

O Espírito Santo, Fonte de Graça

A liturgia da Palavra situa-nos no coração do mistério sacerdotal, dom do Espírito Santo à Igreja. Fonte de Vida e de Graça, o Espírito Santo consagra, santifica e dinamiza o sacerdote, em ordem a uma entrega plena a Cristo, ao serviço do Povo de Deus e de toda a Humanidade.

S. Lucas, no seu expressivo relato do Evangelho (cf. Lc 4, 16-21), sublinha a profunda admiração dos conterrâneos de Jesus, perante a sabedoria e a autoridade do Seu ensinamento. Em Cristo, o Ungido do Pai, estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (cf. Cl 2,3) e n’Ele habita a plenitude da divindade: Jesus é o Rosto da Palavra e a plenitude da Revelação e n’Ele se cumpre o cântico de Isaías, proclamado na Sinagoga de Nazaré.

A aplicação desta Palavra é clara na própria expressão de Jesus: “Cumpriu-se hoje mesmo este passo da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21). É no hoje da história humana, nas diversas culturas e na realidade concreta de cada dia, que o Espírito do Senhor Se revela em nós e por nós. É o Espírito que nos unge e nos envia “a anunciar a Boa nova aos pobres, (…) a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano favorável da graça do Senhor” (Lc 4, 19). Chegou o tempo novo da época messiânica, visível nos gestos e nas palavras de Jesus. Ele “fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1,6) e chamou-nos a perpetuar a Sua salvação na Igreja e no mundo, em todos os tempos e lugares.

A Eucaristia, coração da vida sacerdotal

O Espírito do Senhor está sobre a totalidade do Povo de Deus, constituído como povo “consagrado” e “enviado” para o anúncio do Evangelho que salva. Mas para além deste sacerdócio comum, de todos os que foram baptizados em Cristo, recorda-nos o Concílio Vaticano II, temos o sacerdócio ministerial ou hierárquico, participação no Sacerdócio de Cristo, como Cabeça da Igreja (cf. LG 10).

Convido-vos a entrar comigo no Cenáculo para celebrarmos com Cristo, Sacerdote e Vítima, a Ceia da Nova Aliança, a Eucaristia e o admirável dom do Sacramento da Ordem. A Eucaristia é verdadeiramente o coração da nossa vida sacerdotal e a fonte da nossa Alegria! É na Eucaristia, manancial de Vida eterna e de infinita caridade, que todos os dias consagramos, comungamos e mergulhamos na intimidade de Cristo e do Seu Corpo místico, a Igreja.

Não obstante a nossa fragilidade, o Senhor amou-nos incondicionalmente, consagrou-nos e confiou-nos este inefável Dom e Mistério, para louvor da Sua glória e santidade do Povo de Deus. À semelhança de Jesus, o Sacerdote é chamado a transformar-se na realidade que celebra no altar, pela força e presença do Espírito Santo, isto é, em “Corpo entregue e Sangue derramado”. A vida do sacerdote deve ser, assim, uma Eucaristia perene.

Renovação dos compromissos sacerdotais

Celebramos esta Eucaristia em pleno Ano Sacerdotal, convocado pelo Papa Bento XVI com o tema “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”. É neste contexto que renovamos juntos as promessas sacerdotais e reafirmamos a certeza de que, confiados na graça do Senhor, continuaremos a dizer “Sim” a Cristo sacerdote e a trabalhar com alegria na Sua vinha.

Em jubilosa gratidão, ao fazer memória do feliz dia em que recebemos o Sacramento da Ordem, ressoa em nós a palavra do salmista: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor!” (Sl 88,1). Que o Espírito Santo continue a fazer de todos nós uma “oferenda permanente” e nos desperte para a vivência constante da nossa identidade sacerdotal.

Como é bom recordar, em Eucaristia, o inesquecível dia da nossa Ordenação Sacerdotal! Repensar todo o rito, que tão bem define a natureza e a graça do ministério a que somos chamados, os compromissos que assumimos, a liberdade com que o fazemos, como penhor da alegria e felicidade, que havemos de sentir e testemunhar, ao longo de toda a nossa vida de padres.

Faz-nos bem recordar esse dia, esteja ele mais próximo ou mais distante: o nosso entusiasmo, a nossa alegria, a nossa generosidade, o nosso sonho de fidelidade, as nossas expectativas e as nossas responsabilidades.

Renovar, hoje, as promessas da ordenação é apontar para uma vida de sacerdotes que exercem o ministério em plena liberdade, fiéis à própria identidade, em profunda comunhão com Cristo na Igreja, felizes na fraternidade e unidade do presbitério. Como escreveu João Paulo II na Exortação Apostólica Eu vos darei Pastores, “o ministério dos Presbíteros é, antes de mais, comunhão e colaboração responsável e necessária no ministério do Bispo, na solicitude pela Igreja universal e por cada Igreja Particular, para cujo serviço eles constituem, juntamente com o Bispo, um único presbitério” (nº 17).

Sacerdotes para um mundo novo

Bento XVI, num belo e denso discurso aos participantes do Congresso Teológico Internacional, disse que o sacerdócio é “uma altíssima vocação que permanece um grande Mistério até mesmo para os que a receberam como dádiva”. E acrescentou: “Caríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo pedem-nos unicamente que sejamos sacerdotes a tempo inteiro e nada mais”. Numa sociedade que prescinde de Deus, o sacerdote deve ser uma testemunha profética do Amor de Cristo Salvador. “É preciso que ele fale de Deus ao mundo e apresente o mundo a Deus”, afirmou ainda o Papa.

 “O Padre é o homem do futuro”, disse também Bento XVI aos participantes do retiro internacional para sacerdotes, em Ars, na França. Face aos desafios da actualidade, num mundo de profundas e rápidas mudanças, urge criar uma cultura de formação permanente no âmbito humano, teológico, espiritual e pastoral. Precisam-se sacerdotes novos, transfigurados pelo Espírito de Deus, testemunhas do Amor, apaixonados por Cristo e pela Humanidade, enviados em missão para um mundo novo. “O sacerdote é o amor do Coração de Jesus”, dizia o Santo Cura d’Ars.

Intensificar a Pastoral das Vocações

O Ano Sacerdotal também foi apresentado como tempo de intensificar a oração pelas vocações sacerdotais e pelos sacerdotes, reconhecendo a sua necessidade e importância na vida da Igreja. Olhando para o nosso Seminário Diocesano, actualmente temos 20 seminaristas e cerca de 25/30 adolescentes e jovens a frequentar o Pré-Seminário.

E quero recordar a este propósito que, no próximo dia 10 de Abril, sábado, teremos, nesta Catedral, a celebração das instituições de quatro Leitores e três Acólitos, de entre os nossos Seminaristas do 4º e 5º anos de Teologia, que frequentam o Seminário dos Olivais, em Lisboa. E no dia 24 de Julho, se Deus quiser, teremos ordenações de novos sacerdotes. Serão dois momentos de muita alegria e esperança para a Diocese, que desde já agradecemos a Deus.

Urge, no entanto, intensificar a Pastoral Vocacional, não apenas na perspectiva do Sacerdócio, mas de todas as vocações de especial consagração. É nesse sentido que o Secretariado Diocesano propõe uma campanha de oração diante do Santíssimo Sacramento, envolvendo todas as paróquias e comunidades religiosas, durante três horas cada uma, sem interrupção (sagrado “lausperene”), de 23 de Maio (Solenidade do Pentecostes) a 11 de Junho (Sagrado Coração de Jesus), data oficial do encerramento do Ano Sacerdotal. O calendário de distribuição dos tempos desta rede de oração segue o itinerário da visita da Imagem Peregrina, reservando-se as horas da noite às comunidades Religiosas, num esquema de participação, que em breve lhes será proposto.

 

Gratidão e apreço

Caríssimos Padres, nesta oportunidade quero deixar uma palavra de reconhecimento e muito apreço pela vida e ministério de cada um de vós, nomeadamente pela generosidade da vossa entrega e dedicação ao Povo de Deus, pelo esforço de fomentar uma comunhão sempre maior no nosso presbitério, por todo o vosso empenho em viver o sacerdócio e testemunhar a alegria.

Em espírito de solidariedade e congratulação, apraz-me nomear e felicitar o Rev. do Cónego Manuel de Freitas Luís, que celebra as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, no próximo dia 15 de Agosto. A Diocese, desde já, se associa ao louvor e acção de graças dessa data jubilar.

No mesmo espírito de comunhão do presbitério, rezamos pelos sacerdotes doentes e damos graças a Deus pela vida dos Rev.dos Padres António Joaquim Figueira Pestana Martinho (Machico), Fernando Pinto Reis (Vicentino) e António José de Freitas (Câmara de Lobos), falecidos ao longo do último ano. Que Deus os tenha na Sua glória!

Sob a protecção de Maria-Mãe

Como disse, no início, a presença da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, hoje, aqui, é um convite a elevarmos o pensamento e o coração a Maria-Mãe, a contemplarmos nela o sentido da nossa própria vocação e missão, a sua atitude de fé e louvor agradecido, expressa no “Sim” da Anunciação e na grata exultação do Magnificat (cf. Lc 1,26-38.46-55).

Também a cada um de nós chegou, em certo dia e de modo inesperado, um mensageiro de Deus, que nos colocou no caminho da expectativa e perplexidade, da dúvida e da confiança, perante um chamamento diferente, mas privilegiado, como o de Maria. Aberta ao Espírito Santo, na certeza de que a Deus nada é impossível, ela disse o SIM da sua entrega, aceitando ser a Mãe do Messias Jesus e, deste modo, colocar o Filho de Deus no coração do mundo.

É especial e nobre esta missão que é, também e afinal, a nossa missão de sacerdotes da Nova Aliança. Colocar Cristo no centro e no coração do mundo constitui, sem dúvida, o objectivo e a meta de toda a acção pastoral – a nossa acção de “pastores”, unidos a Cristo, Pastor e Mestre, acolhendo-O na fé, colocando-O no centro dos nossos corações, dando-Lhe todo o espaço das nossas vidas.

Maria é para nós modelo e Mãe, que no seu carinho e amor maternal nos acompanha nos caminhos da nossa vida de sacerdotes: ela ensina-nos a coerência da fé, a alegria de uma entrega livre e feliz, o louvor e a acção de graças de quem reconhece o dom de Deus e Lhe é fiel. Maria é peregrina na nossa própria peregrinação de sacerdotes ao serviço do Povo de Deus e de toda a Humanidade!

Ó Maria, Rainha dos Apóstolos, Mãe da Igreja e nossa Mãe, rogai por nós!

Funchal, 1 de Abril de 2010

† António Carrilho, Bispo do Funchal

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