Homilia do bispo de Viseu no Domingo de Páscoa

Domingo da Ressurreição 2012

 A celebração do Domingo da Ressurreição, depois da experiência da Quaresma e do Tríduo Pascal, sobretudo depois da Vigília Pascal que celebrámos esta noite, pede-nos coerência e vida de acordo com a fé.

Creio que compreendemos a pregação de S. Pedro, no Livro dos Actos dos Apóstolos: o facto de sermos baptizados, de termos uma relação viva com a Igreja – pedindo os Sacramentos, participando na Eucaristia, escutando a Palavra de Deus… Tudo isto deve ser sinal de fé na presença de Jesus na Sua Igreja e no mundo e deve ser prova de que acreditamos que Ele ressuscitou e que está vivo no meio de nós.

Então, em consequência, S. Paulo pede-nos coerência, na 2ª leitura. Uma vez que a Ressurreição de Jesus nos garantiu a nossa própria ressurreição e o Baptismo é a participação na morte e na ressurreição de Jesus, vivamos como ressuscitados, afeiçoando-nos às coisas do alto.

Caríssimos irmãos, ser baptizado e ser cristão envolve viver como ressuscitado, com coerência em 3 dimensões fundamentais da vida: a 1ª consiste em alimentar a vida pessoal cristã com a Palavra de Deus, com a Eucaristia e com os Sacramentos – dons de Deus para os Seus amigos.

Um baptizado que não celebra o Domingo com a Eucaristia não é cristão, porque priva-se do encontro com Cristo e Quem legitima o nome de cristão é Jesus Cristo. O Domingo é o dia do Senhor, é o dia da Páscoa semanal, onde nos encontramos com a família que ouve e celebra Jesus Ressuscitado. O descanso semanal, tão importante para o ritmo saudável e equilibrado das pessoas, é, para os cristãos, a oportunidade de celebrar e viver a Fé nos valores que dão sentido grande à vida normal de cada dia.

A 2ª dimensão da vida é a coerência social, na vida das relações com os outros, a começar pelas relações familiares e das relações afectivas. A família é a instituição que mais tem sofrido a crise de valores do nosso tempo. É a instituição mais estruturante do equilíbrio das pessoas e da sociedade e tem sido a mais desprotegida pelos responsáveis na vida social e política do nosso tempo.

Direi mesmo, tem sido a instituição mais esquecida, mais atacada e mais ofendida pelos responsáveis da vida social. É urgente que a família se reencontre com a sua identidade, a sua vocação e a sua missão. É urgente que volte a ser e a tornar-se naquilo que é e deve ser pela sua natureza e cultura – uma comunidade de vida e de amor, fundada na relação conjugal entre o homem e a mulher, com a vocação à fecundidade e à participação na vida social.

Há muitos aspectos da vida pessoal e social que estão mal e em grave crise porque se retiraram responsabilidades à família, depois de se lhe retirarem direitos e condições para ela ser significante e activa na construção da sociedade. Os campos da educação das crianças e dos jovens e o dos direitos e apoios sociais são apenas 2 de muitos exemplos.

A 3ª dimensão onde a Páscoa deve ser motor transformador da vida é a presença dos cristãos na vida social, laboral, económica, cultural e política. A presença dos cristãos leigos não deve confinar-se à sua intervenção nos ministérios e serviços eclesiais, nem assumir aí a sua específica intervenção cristã.

Os cristãos leigos são chamados a ordenar a sociedade temporal, nas suas componentes sociais, culturais e políticas, segundo os valores da fé, reflectida e vivida com a competência e com a razão, de acordo com a consciência bem formada.

Faltam cristãos na vida social… Faltam cristãos na vida política… Faltam cristãos a assumir responsabilidades nos diversos campos da sociedade dos nossos dias. Faltam cristãos coerentes com as consequências da Páscoa. Faltam cristãos que deixem que a Páscoa realize a sua missão e o seu caminho.

Os baptizados e os cristãos, as famílias e as instituições, a vida social e política da sociedade portuguesa e mundial precisam dos valores da Páscoa: valores que brotam de corações novos, valores que renovam a vida e que transformam as opções e as consequências da vida dos povos e das nações.

A Sociedade portuguesa e mundial precisa de cristãos que ouçam e pratiquem o apelo de S. Paulo na 2ª leitura de hoje: «Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto (…). Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra».

Feliz Páscoa para todos! Cristo Ressuscitou e está vivo connosco! ALELUIA!

Páscoa 2012

Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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