Homilia do bispo de Viseu no domingo de Páscoa

Apostar na Iniciação Cristã

 

 A celebração de hoje mostra-nos a alegria dos cristãos que tiram dúvidas, que aprofundam a Fé e que contam a sua experiência da Páscoa e dos primeiros encontros com Jesus Ressuscitado.

Por ordem cronológica, começamos pelo Evangelho: Maria Madalena nem dorme a pensar no Senhor Jesus e de manhãzinha, vai ao sepulcro e encontra o túmulo vazio; Simão Pedro e o outro discípulo (João), logo que dão por esta notícia, correm ao sepulcro e fazem um profundo ato de Fé, lamentando as primeiras dúvidas; na 1ª leitura é Pedro, que faz uma profunda confissão de Fé no 1º kerigma do cristianismo que vai ser repetido à saciedade e que nós precisamos de aprender de cor – trata-se do catecismo da Igreja Católica… Este catecismo pode resumir-se assim: Aquele Jesus que foi morto, está vivo. Ressuscitou. Nós somos testemunhas deste Acontecimento que mudou as nossas vidas.

Jesus Ressuscitado é o centro do Evangelho; é a tese base do Vaticano II; é a síntese do Catecismo da Igreja; é a mensagem central do YOUCAT – o Catecismo dos jovens.

Finalmente Paulo, já com algum amadurecimento e reflexão e passado algum tempo da Páscoa de Jesus, faz, na 2ª leitura, uma meditação e uma catequese profunda sobre as consequências da Ressurreição de Jesus. São 4 afirmações muito importantes, nesta catequese densa de sentido:

1ª. Faz um forte apelo à Fé na Ressurreição de Jesus, decisiva para a nossa própria Ressurreição, uma vez que, em Cristo e pelo Batismo, todos nós vivemos já uma vida nova;

2ª. Convida-nos a aspirar e a desejar viver com Cristo;

3ª. Diz-nos que ser cristão é, não só viver com Cristo mas é viver como Cristo – a Fé e a Esperança devem levar ao amor – viver como filho de Deus;

4ª. Aponta as consequências da vida no amor, como batizado e ressuscitado.

 A Ressurreição de Jesus é tão importante e decisiva para a nossa vida que tem que haver um ‘antes’ e um ‘depois’. Não um ‘antes’ do Batismo, pois quase todos fomos batizados quando crianças; mas um ‘antes’ e um ‘depois’ de tomarmos consciência da nossa identidade, vocação e missão cristãs. O Papa pedia uma mudança na iniciação cristã e devemos fazê-la na nossa diocese, pois não se compreende que sejamos – na diocese de Viseu – cerca de 95% batizados, cerca de 30% mais ou menos praticantes e, não se sabe quantos, conscientemente, cristãos…

 O Sínodo Diocesano deve pôr-nos em contacto com Jesus Cristo Ressuscitado e com uma Igreja que anuncie e viva, com alegria e esperança, este encontro jubiloso nas diversas Comunidades. O Sínodo deve ajudar-nos a fomentar Comunidades que vivam a justiça e a solidariedade com todas as pessoas, sem distinção. O Sínodo deve levar-nos a contar, em grupo, as nossas experiências de Fé no Senhor Ressuscitado e presente na nossa vida. As Comunidades devem mostrar uma Igreja que celebre, com alegria, o Domingo – a Páscoa semanal. Devem testemunhar uma Igreja justa, fraterna, atenta aos mais pobres e que seja capaz de dialogar com todos, mesmo com aqueles que não acreditam.

 Para sermos esta Igreja que testemunha, que anuncia, que celebra e que vive a Fé e a Esperança no Ressuscitado, precisamos de apostar na formação, através de uma verdadeira Iniciação Cristã pós-batismal. É o caminho para repensarmos a Igreja e a vida, apostando na pastoral das pessoas, dos carismas, dos grupos, da cultura. Numa palavra, apostando na pastoral da evangelização, pela comunhão na corresponsabilidade.

 Acreditamos no facto do túmulo vazio? Que esta verdade seja o motivo da nossa alegria e da nossa confiança. O túmulo está vazio porque Jesus está vivo, está connosco. Ele vai à nossa frente, como Bom Pastor e guia-nos nos caminhos da vida.

 A Páscoa é a grande oportunidade de viver e de agarrar a esperança, que não vem mesmo – e cada vez menos – dos políticos ou de quem quer mandar neste mundo. Esperança, não numa ideologia ou em promessas vãs, mas numa Pessoa – Jesus Cristo – que tem nas mãos o poder sobre a morte e o poder de dar a vida. Ele é o Ressuscitado que venceu a morte. Com esta certeza, muda tudo na nossa vida. A vida adquire novo sentido. Há, não só lugar à Esperança, mas ao otimismo que deve ser fonte de empenhamento, de alegria, de amor, de vida nova e coerente, como nos diz S. Paulo. A Ressurreição já se iniciou no Batismo e deve transparecer nos gestos, nas atitudes, nos comportamentos, nas palavras, no sentido e valor que damos ao nosso corpo e às nossas relações com os outros… A Ressurreição torna-nos livres e torna-nos anunciadores e construtores de uma liberdade que nos faz irmãos…

 Tornemo-nos mensageiros da Esperança porque Jesus Cristo é, de verdade, a Boa Nova para um Mundo Novo. ALELUIA!

 Para todos vós e todos os vossos, os meus votos de uma Santa e Feliz Páscoa.

 

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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