Homilia do bispo de Viseu no dia de Natal

«Da Palavra à Ação»

Deus ama de tal modo o mundo que lhe dá o Seu Filho para que todo aquele que n’Ele acredita tenha a vida eterna. Muitos, ontem e hoje, não O recebem… Mas, àqueles que O recebem e acreditam no Seu nome, Deus dá o poder de se tornarem Seus filhos.

Estamos a viver o 2.º ano do Sínodo da nossa Igreja diocesana, celebrando os 50 anos do grande Acontecimento que foi o Concílio Ecuménico do Vaticano II. O nosso Sínodo tem por lema – “Da Palavra à Ação”, integrado no tema geral “Em Comunhão para a Missão”. O Natal realiza, em plenitude, este tema geral – em comunhão com Jesus (o Fundador, a Cabeça e o Mestre) estamos em comunhão com a Sua e a nossa Igreja. Realiza, também, o lema deste ano: o Natal é o acontecimento que faz encarnar o Verbo, levando Deus a passar à ação concreta de entrega e de doação plena a todos nós. Estas ações de Deus encontram a sua realização plena em Jesus Cristo, tornando-Se Ele a Ação concreta e permanente – na Encarnação e, maximamente, na Redenção. Com a Ação de Deus, a Pessoa do Outro, sobretudo do mais frágil e do mais indefeso, está no centro da ação humana, social e política.

O Cristianismo não é ideologia nem legalismo, diz-nos Bento XVI. Ele é a Religião das pessoas, a Religião em que Deus é o Verbo tornado Pessoa – a Palavra tornada Ação em nosso favor. Palavra que Deus foi falando de muitos modos ao longo dos tempos e que, agora, nos vem falar no Seu Filho. Deus nunca esteve calado perante as nossas escolhas e decisões – sempre foi falando como Amigo, como Próximo, sobretudo como Pai. Toda a Palavra de Deus é Ação de Amor que tem o Natal e a Páscoa como momentos fundamentais. O Verbo que encarna e que redime o mundo é-nos apresentado no Evangelho de hoje como o Deus que atua, que age como Criador de tudo, como Vida para todos, como Luz que anula as trevas do mundo e da humanidade. O Verbo é o Deus que Se torna Pessoa Humana, cheia de Graça e de Verdade, para que toda a pessoa humana, a começar pela mais frágil e indefesa, seja reabilitada e tornada filha de Deus e nossa irmã. Por isso, ser cristão é viver a encarnação para a transformação de si mesmo segundo o Homem Novo que é Cristo. A partir daqui e da transformação pessoal, o cristão é chamado a viver a encarnação para a transformação do mundo, tornando-o Reino de Deus. Ser cristão é, assim, sentir a responsabilidade de agir e de trabalhar pela implantação da justiça, da solidariedade, do amor e da paz. É passar, permanentemente, da palavra à ação para a transformação do mundo. Encarnando nesta dupla transformação – de si mesmo e do mundo – o cristão está a celebrar, a viver e a levar as consequências do Natal e da Páscoa para o mundo e a semear o amor, revelando, em todos e em tudo, a presença de Deus Salvador.

Para o cristão, celebrar o Natal é aceitar o desafio de empenhamento na construção de um mundo novo, com entusiasmo, esperança e sem medo. Com a confiança e a certeza de que não está só neste desafio. Quando tudo corre bem e parece ser o dinheiro e os bens deste mundo a conduzirem as ações importantes, parece que não há lugar para Jesus nem para os Seus valores. Quando tudo parece correr bem, tudo é feito para O calar e O eliminar das vidas e das relações humanas e sociais. Como outrora, em Belém – parece não haver lugar nas estruturas da cidade e, menos ainda, nos corações dos seus habitantes… Porém, hoje parece começar a haver lugar, pois os bens deste mundo escasseiam e a crise parece levar a melhor, pondo a felicidade, a segurança e o bem-estar em perigo, com a esperança no futuro a vacilar… O Pai Natal parece não responder a tudo e a não preencher as insensatas ilusões que nesta imagem infantil todos pareciam colocar. A realidade acorda-nos e começa a ter muito a ver com o sentido da vida, com as grandes interrogações e as grandes questões humanas e sociais das pessoas e dos povos…

Somos convidados, pela pressão dos factos e pela crueza da realidade da vida a passar “da palavra à ação”, aprendendo com Deus, onde a Palavra já é Ação porque é a própria Pessoa do Verbo, o Filho único de Deus, cheio de amor e de verdade.

O Sínodo na nossa Diocese convida-nos a viver esta experiência da encarnação da Palavra de Deus, tornando-a vida, luz, esperança e amor solidário, capaz de construir comunhão, corresponsabilidade, justiça e fraternidade. Ouçamos o Profeta Isaías que brada: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação». Sabendo que Deus nos fala pelo Seu Filho Jesus, escutemo-lo na Sua Palavra de Amor, tornada Ação no meio de nós e que esta Palavra encarne e Se torne semente de vida para alimento da nossa esperança. AMEN!

Santo Natal e Festas felizes para todos!

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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