Celebramos Sexta-feira Santa – dia da Paixão e da Morte de Jesus – neste Ano Sacerdotal. A grande missão do Sacerdote, na sua participação no Sacerdócio de Cristo, Cabeça da Igreja, é a de oferecer Cristo como Vítima Santa, que nos foi entregue pelo Pai para a Redenção de todos. Cristo é a Vítima Santa e Imaculada, colocada por Deus nas mãos dos Sacerdotes para que, no Seu Nome, A ofereçamos para bem e salvação de todos. Por esta razão, sempre que participamos na Eucaristia, todos nos tornamos contemporâneos e beneficiários da Páscoa de Jesus, consumada na morte e na ressurreição do Filho de Deus.
Nas leituras bíblicas que escutámos, é exaltado o Servo Sofredor que tomou sobre Si toda a capacidade de humilhação, de entrega, de sofrimento, assumindo até ao fim o peso e o preço das nossas culpas. Purificados e apresentados como justos ao Pai, somos convidados – na Epístola aos Hebreus – a ir “cheios de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno”. A Graça e a Misericórdia estão ao nosso alcance e ao nosso dispor, abundantemente. Para que fossem visíveis e sensíveis, de acordo com a nossa condição humana, o próprio Cristo as instituiu como Sacramentos, tornados “sinais” claros na Eucaristia e no Perdão, sempre disponíveis pela acção dos Mediadores Sacerdotes.
Apesar de ser Filho, continua a 2ª leitura: “aprendeu a obediência no sofrimento (…) e tornou-Se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna”. E a aclamação à Paixão do Senhor disse-nos, citando S. Paulo aos Filipenses: “Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um Nome que está acima de todos os nomes”. É no Nome de Jesus que todos podemos ser salvos. De facto, pela Sua obediência, todos nos tornámos filhos com Ele, filhos do Deus Pai que, como nos diz S. João: “de tal modo amou o mundo, que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
O Evangelho apresentou-nos a narração da Paixão e da Morte do Filho de Deus, narração feita por uma testemunha deste momento supremo e único na terra. Tanto impressionou e chocou o Autor – o Apóstolo João – que ele diz estas palavras para nós, que recordamos este momento: “Aquele que viu é que dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis”. Escreveu-as para que, também nós, acreditemos.
Acreditar neste Acontecimento da Paixão e Morte de Jesus, o Filho de Deus, leva-nos ao Acontecimento integral e festivo da Páscoa Cristã que terá o seu ponto alto na Vigília Pascal. Esta é a integralidade da Páscoa, a passagem e a vivência de Deus na nossa vida, para que passemos a viver da Sua Páscoa, como ressuscitados e que, a partir de nós e por nós, a Páscoa de Jesus seja anunciada e proclamada a todos os homens de todos os tempos e em todo o Universo.
Esta é a grande missão da Igreja: anunciar a morte do Senhor e proclamar a Sua Ressurreição, na certeza e na espera da Sua vinda. Como membros da Igreja, façamo-lo com alegria e coerência, sem medo e sem hesitações, mesmo sabendo que existem sombras na Instituição e nas pessoas que assumiram e são chamadas a cumprir esse Mandato. A Páscoa do Senhor Jesus é o grande conforto para todos aqueles que hoje se sentem atingidos, como destinatários de vozes que pedem a sua crucifixão e a sua morte, por serem figuras incómodas na Igreja e na Sociedade. Sem olharem a meios e a proporções e sem terem em vista objectivos de verdade ou de justiça, muitos pedem e exigem tudo o que contribua para criar escândalos e vergonha, procurando, como aconteceu aquando da condenação injusta de Jesus, lavar situações e erros igualmente graves, injustos e aberrantes.
Glória e louvor ao nosso Deus que é Pai de Misericórdia e de Bondade e que, apesar de tudo o que somos e fazemos, nos concede a força e a ternura do Seu perdão, a alegria da Sua Páscoa e a certeza da Sua presença!
Tornando-me voz de todos os homens e de todas as mulheres da nossa Diocese e de todo o Mundo e ainda de toda a Criação, quero proclamar com alegria e gratidão: Eu Vos adoro e bendigo, ó Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – pela Santa morte e pela Feliz Ressurreição do Vosso Filho quereis salvar o Mundo! AMEN!
Viseu, 2 de Abril,Sexta-feira Santa de 2010
Ilídio, Bispo de Viseu