Homilia do bispo de Viseu na Missa da Ceia do Senhor

Eucaristia – Palavra tornada ação

O Plano Pastoral deste ano sinodal convida-nos a passar “da palavra à ação”. Nenhum ícone melhor para visibilizar e concretizar a mensagem deste plano que a Quinta-feira Santa, com o profundo e rico conteúdo que nos vem da Eucaristia.

A Palavra de Deus, que aqui e em todo o mundo é proclamada, centra-nos em 3 acontecimentos que, mais que palavras, são ações concretas de intervenção decisiva de Deus na história, que realizam a plenitude do Seu plano em nosso favor, anunciado em momentos chave e consumado em Jesus Cristo.

Na 1ª leitura, o Êxodo apresenta-nos a Páscoa libertadora do Povo de Deus no Egito, ação maravilhosa do Deus Salvador, tipo e imagem da Páscoa futura, plena e definitiva. A Páscoa nunca pode ser considerada uma ação passada. Não estamos aqui, apenas, a recordá-la. A Páscoa é a ação permanente de Deus que não deixa de passar e de atuar na vida do mundo e na história pessoal de cada um de nós, amando e realizando a Sua ação libertadora. As duas outras leituras mostram esta ação permanente, no gesto do lava-pés e na Eucaristia. Não são atos isolados, ainda que feitos por Jesus, Filho de Deus. São atos exemplares e pedagógicos, pois eles querem convidar-nos a uma ação permanente, como método e testemunho de um seguimento, de uma identidade e de uma ação evangelizadora.

“Compreendeis o que vos fiz? (…) também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também”. Na Epístola aos Coríntios e depois do relato do essencial que S. Paulo recebeu do Senhor e nos transmite, para além de mencionar a ordem de Jesus de que façamos “isto” em Sua memória, Paulo completa: “Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”.

Estas duas ações do Senhor Jesus, realizadas na mesma celebração da Instituição da Eucaristia – Mistério de Amor, de Fé e de Vida celebrado, como memorial, neste dia de Quinta-feira Santa – dizem-nos que a Eucaristia nunca poderá confinar-se aos ritos e às palavras, mas aqueles e estas devem celebrar a ação concreta e conduzir a ela. Catequizando o contexto, diremos que, sem o amor concreto aos irmãos, não podemos abeirar-nos da Eucaristia e sem a Eucaristia e sem partirmos dela, não celebramos nem anunciamos a Páscoa do Senhor.

A Eucaristia é um desafio atual, permanente e exigente à ação evangelizadora e pastoral da Igreja. Não pode ser um preceito e uma obrigação a impor a quem não tem e não cria condições para a viver. Porém, sem ela, não há condições para nos chamarmos cristãos, pois a presença de Jesus, na Sua Páscoa libertadora, acontece e torna-se visível e reconhecida na Eucaristia.

“Da Palavra à Ação” – tema de um plano pastoral que deve concretizar a nossa identidade de cristãos, conscientes da nossa vocação de seguidores de Jesus Cristo e agentes da nossa missão de testemunhas e missionários da vida, do amor, da alegria e da esperança. De “palavras”, mesmo cristãs, não tem havido falta e, por vezes, abundam mesmo. De “Ações”, o mundo está pobre e a própria Igreja vai minguando, talvez no número e na qualidade. O recenseamento da prática dominical, feito na nossa Igreja de Viseu, mostrou-nos que, dos mais de 95% de batizados, somente 20% celebram a sua Fé, vivendo o Domingo com a Eucaristia. O que fazer, quando os restantes 75% pedem o batismo para os filhos? Quando se apresentam para o Crisma? Quando querem ser padrinhos? Quando querem casar na Igreja? Quando vêm encontrar-se com a Igreja para qualquer ato que sentem de pedir, como batizados e crentes?

Estes são grandes desafios que se nos colocam a todos – leigos, religiosos, sacerdotes e bispo. O testemunho de acolhimento disponível, de abertura dialogante e de serviço alegre e generoso não pode dispensar a atitude evangelizadora que aponte, possibilite e concretize conteúdos, etapas e estratégias de 1º anúncio, de iniciação cristã e de catequese, de acordo com as pessoas e as circunstâncias.

Em Sínodo, deveremos refletir, organizar, planear e programar caminhos de Fé, onde quem vê se sinta acolhido e sinta vontade e alegria de caminhar em comunhão com todos – leigos, religiosos, sacerdotes e bispo – os que somos seguidores de uma Pessoa que a todos chama e por todos dá a vida, celebrada, partilhada e distribuída na Eucaristia.

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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