Homilia do bispo de Viseu na Missa Crismal

Eucaristia – Mistério de Amor, de Fé e de Vida

Todo este dia de Quinta-feira Santa gira à volta de Jesus Eucaristia, como o grande Mistério de Amor, de Fé e de Vida. Celebramos, hoje, a Instituição deste Mistério que é expressão máxima da presença de Jesus entre nós, na representação e na celebração do Seu Amor, enquanto Acontecimento Pascal. À volta deste Mistério e urgido por ele, celebramos o sacerdócio de Cristo, partilhado e vivido por cada um de nós, os membros do Presbitério diocesano, convidados a renovar o nosso SIM nas Promessas sacerdotais, com o propósito de profunda união a Cristo e de uma santa configuração com Ele. Para tornar a Eucaristia significante nas pessoas e nos diversos momentos e situações da sua vida, benzem-se e consagram-se os Santos Óleos. Para nos tornarmos todos – presbíteros, religiosos, outros consagrados e leigos – missionários do Amor infinito e Sacramental de Jesus, celebramos o gesto, a instituição e a normativa do amor fraterno que, para que seja amor ao jeito de Jesus, não tem medida nem fronteiras de qualquer natureza.

Por tudo isto, Quinta-feira Santa é o dia do Grande Mistério de Amor e, portanto também, Mistério de Fé e de Vida. É nesta trilogia que se justifica, compreende e assenta o sacerdócio ministerial, santificado pelo Sacramento da Ordem. Como um de vós – “convosco, por Cristo, para vós e para todos” – quero saudar cada um dos sacerdotes do Presbitério da nossa Igreja de Viseu. Sacerdotes do clero secular e do clero religioso; sacerdotes doentes e sacerdotes em situações difíceis. Quero saudar, agradecer e reconhecer, na amizade e na comunhão da fraternidade sacramental que nos une a todos, toda a fidelidade, doação, generosidade, lealdade e espírito de Fé na comunhão da Igreja, que cada um de vós vive e partilha comigo e com todos os outros irmãos: sacerdotes, religiosos e leigos. Uma palavra, também de estima, para todos os sacerdotes que optaram, em consciência, por uma situação diferente de vida, em Igreja e estão dispensados do ministério ordenado.

Em comunhão com todos os outros membros do Presbitério e com todo o Povo de Deus, quero hoje saudar e homenagear todos aqueles que celebram um aniversário especial e jubilar de ordenação sacerdotal. A celebrar os 50 anos de sacerdócio, ordenados em 29 de julho de 1962, temos os irmãos: Joaquim Álvaro de Bastos, José Carlos Pinto de Matos, José de Fátima Oliveira Morujão, Manuel Antunes dos Santos Barranha, Milton Lopes da Encarnação, Ramiro Dias Ribeiro e Silvério Cardoso. No mesmo ano, mas ordenado em 23 de dezembro, temos o Deão do Cabido da nossa Catedral, Orlando Soares de Paiva. A celebrar os 25 anos de sacerdócio, ordenados em 1987, temos os irmãos: António José da Silva Ramos Boavida, em 26 de julho e António Gonçalves da Cunha, em 2 de agosto (…). A minha e a nossa homenagem é extensiva aos seus Pais e familiares – vivos ou já na Casa do Pai – e às Comunidades de onde são naturais, onde estão como Pastores ou àquelas – Comunidades e atividades pastorais – por onde passou e passa o seu zelo e serviço pastoral, na comunhão com a Igreja de Jesus Cristo.

Quinta-feira Santa, dia da Eucaristia – Mistério de Amor, de Fé e de Vida. A nós Presbíteros, gerados no sacerdócio de Jesus Cristo e chamados a vivê-lo na comunhão da Igreja, nos é confiada a Eucaristia. Ela é a fonte deste tríplice Mistério – de Amor, de Fé e de Vida – que devemos viver, celebrar, testemunhar e anunciar com a nossa entrega de fidelidade total, serena e obediente, numa liberdade alegre, responsável e consciente, para que todos creiam. Este tríplice Mistério que deriva da Eucaristia, integra, fundamenta e vive-se no serviço pastoral aos mais pobres, mais doentes, mais sós e mais distantes. É tornar a Eucaristia significante, dando-lhe o significado completo, para que, vivendo a Eucaristia na plenitude, passemos à ação coerente de discípulos e seguidores de Jesus Cristo, passando “da Palavra à Ação”. É assim que, no dizer do profeta Isaías, nós somos chamados «Sacerdotes do Senhor» e assumimos o nome de «Ministros do nosso Deus». Temos que ser, para todos, razão para a Esperança – Esperança que seja cristã e teologal ao mesmo tempo. Isto é, Esperança que vem de Cristo, aproxima dos irmãos e leva a Deus e ao entendimento do Seu projeto universal de salvação.

Com o eclipse de Deus e as densas sombras que encobrem a Sua presença em nós, na Igreja e no mundo, na cultura e vida pós-modernas, precisamos de veicular uma nova evangelização, assente na clareza da verdade, no entusiasmo do testemunho, no acolhimento aberto e próximo e na relação amiga, compreensiva e dialogante. As normas não podem asfixiar ou dificultar a vida, mas devem servir para preparar e estimular um serviço eclesial qualificado. Somos chamados a evangelizar, como missionários cada vez mais fora dos confortes e dos confortos dos templos e mais próximos das pessoas. Os sinais de comunhão efetiva têm que ser cada vez mais expressivos e visíveis e não apenas simbólicos, rituais ou virtuais. O melhor serviço que podemos prestar à Sociedade contemporânea é revelar-lhe Deus, no Seu Evangelho, nos Seus valores e nos Seus caminhos, pois só n’Ele as pessoas encontrarão sentido e terão esperança. Ele é “o Alfa e o Ómega; Aquele que é, que era e que há de vir”. Dóceis ao Espírito do Senhor que nos ungiu e cumpridores da Sua vontade, ajudemos a que se cumpra, em cada hoje, o anúncio da Boa Nova, a libertação das opressões e a proclamação da graça do Senhor.

O Sínodo deve ser momento e kairós de conversão profunda, a começar em nós, os agentes mais implicados e comprometidos na renovação da Igreja, pela evangelização, catequese e formação. Atentos à participação de todos e despertos para a formação que possibilite uma corresponsabilidade autêntica, amadurecida e consciente da vocação e da missão na Igreja e na Sociedade, devemos estar atentos aos carismas e integrar cada um deles no serviço à plenitude da vida de comunhão.

Neste ano em que celebramos o jubileu do Padroeiro da nossa Igreja e em que invocamos S. Teotónio como nosso especial intercessor junto de Deus, aprendamos dele as atitudes de humildade, de oração e de consagração, para podermos servir Deus, na Igreja nos irmãos aos quais somos enviados.

Santa Maria, Senhora do Altar-Mor, Mãe dos Sacerdotes e de todos os cristãos, rogai por nós. AMEN.

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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Agência ECCLESIA

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