Homilia do Bispo de Viseu na Missa Crismal

Ano Sacerdotal e Missão do Sacerdote

Celebrar a Quinta-feira Santa – Dia do Sacerdócio – e no Ano Sacerdotal, é, caríssimos Irmãos Sacerdotes, uma graça inaudita e uma oportunidade única para renovarmos o nosso SIM de seguimento do Senhor, renovando a nossa vontade de sermos pastores do Seu Povo, na Sua Igreja. Desde logo, a vontade de O tornarmos presente através da Eucaristia, o coração da Igreja e da Fé e o coração da nossa vida de padres e de O podermos tornar presente na vida de cada pessoa, através do anúncio da Sua mensagem, da comunicação do Seu perdão e da partilha do Seu alimento – Pão da Vida.

Não há dúvida que está, neste trio de actividades, a grande razão que explica a nossa vocação e a nossa missão: anúncio da Palavra de Deus, formando e fazendo discípulos; celebração da Eucaristia para alimentar a vida com sentido e com esperança; celebração da Reconciliação para dar saúde às pessoas, introduzindo-as na misericórdia de Deus.

É por isto mesmo que Jesus nos fez “um reino de sacerdotes para Deus, Seu Pai”, como nos diz S. João e é, pela mesma razão, que somos os «Sacerdotes do Senhor» e que temos o nome de «Ministros do nosso Deus», segundo a profecia de Isaías. Chamados por Deus, também nós fomos ungidos e enviados pelo Espírito do Senhor, para que realizemos, hoje e neste tempo concreto, o que Jesus – Fonte e Modelo do nosso sacerdócio – o que Ele garantiu na Sinagoga de Nazaré: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”.

Para cumprirmos esta garantia, temos que ser agentes deste trio de actividades enunciadas: anúncio da Boa Nova, celebração da Páscoa da Redenção pela Eucaristia e proclamação do ano da graça do Senhor pela Reconciliação e pela celebração do dom da cura, administrando a todos a Misericórdia do Senhor. Para tudo isto, a Igreja precisa de estar aberta e acessível e o Sacerdote precisa de estar disponível.

 

2. Disponibilidade do Sacerdote

A vida, hoje, é marcada pelo stress e andamos todos a correr. Deus precisa de encontrar as pessoas e, cada uma – mais que outra – tenta fugir, argumentando com a pressa. Nós, os Padres, deveríamos remar contra esta corrente e sermos sinais da paciência e da paz de Deus, transmitindo uma realidade e atitudes diferentes. Aprendendo com Deus e ao Seu jeito, deveríamos fazer saber e mostrar com a prática, que temos tempo para cada pessoa que precise de nos procurar e de nos falar. Para isto ser evidente, é necessário ter as Igrejas abertas e acessíveis e passarmos ali algum tempo em cada dia. Nós, Sacerdotes, precisamos de ser encontrados na Igreja e de termos mais tempo para o encontro de intimidade com o Senhor, presente no Sacrário. Se assim procedermos, não deixaremos que assaltem os valores patrimoniais que queremos preservar, faremos sentir às pessoas que temos tempo para elas e que ali nos podem encontrar e teremos tempo e disposição para rezar, para ler, para reflectir e para sermos pastores mais próximos do nosso povo. Connosco e convidadas por nós, outras pessoas se organizarão por grupos de Visita ao Santíssimo Sacramento e, rezando mais, haverá mais fé, mais paz, mais alegria, mais amor e mais esperança. Renovaremos o verdadeiro Lausperene na nossa Diocese.

Precisamos de nos converter mais à proximidade com os nossos paroquianos e de praticar mais o serviço da disponibilidade, tendo mais tempo para aqueles que esperam de nós mais do que o tempo das celebrações. Há muitos encontros e diálogos que não se podem ter nas celebrações e que não se terão em mais lugar algum que não seja no segredo do confessionário ou num encontro individual. Nestes tempos em que a Igreja é vista com tamanha desconfiança e em que todo o mal é aumentado, generalizado e provocador de escândalos, com um juízo desproporcionadamente injusto – ainda que o mal seja sempre mal e seja sempre de lamentar e de reparar – precisamos de ser mais exigentes e mais bem preparados, a nível pessoal e relacional, a nível espiritual, doutrinal e cultural, bem como, também, a nível eclesial e pastoral.

 

3. Povo de Baptizados numa Igreja Ministerial

Não somos, porém, os únicos «Sacerdotes do Senhor», segundo Isaías, neste “reino sacerdotal” proclamado por S. João no Apocalipse. A Igreja de Jesus Cristo, à qual pertencemos, é um “povo de baptizados”, todos chamados à santidade no seguimento do Senhor, nosso Deus. Há os Religiosos e outros Consagrados; há os leigos cristãos… Uns e outros querem partilhar connosco as agruras e os limites, as alegrias e as esperanças dos discípulos de Cristo, dando o seu contributo para a construção do Reino de Deus, nesta porção que nos está confiada. Demos-lhe “lugar”, oportunidade e responsabilidades! Nos diversos órgãos de corresponsabilidade e nos diversos sectores da Pastoral comunitária são tão necessários e tão importantes como nós. Convidemo-los, demos-lhes formação conveniente, partilhemos com eles serviços e ministérios que lhes são próprios e confiemos-lhes tarefas nas quais eles se sintam responsabilizados, em Igreja e como cristãos. Sobretudo, ajudemos a que se sintam cristãos na Sociedade plural: na família, na escola, na cultura, na acção social, na vida autárquica e associativa, organizando e orientando as mais diversas tarefas temporais segundo os valores humanos e cristãos que dão sentido, dignidade e esperança à vida.

O Ministério Ordenado dos próximos Diáconos Permanentes e os Ministérios Laicais a assumir por Leigos e Religiosos serão preciosos contributos para uma Igreja Diocesana cada vez mais pronta e preparada para enfrentar as dificuldades de uma época com menos vocações sacerdotais e, certamente, com novos e urgentes desafios a enfrentar nos tempos futuros, já muito próximos. O Sínodo Diocesano a iniciar brevemente será, assim o cremos, o kairós teológico e providencial para nos colocarmos disponíveis no acolhimento e na leitura das graças que o Senhor quer derramar sobre nós e sobre a nossa Igreja. Assim as aceitemos num testemunho forte e belo de Presbitério, vivendo a comunhão que deve tornar-se “sinal” claro de unidade para que o mundo creia.

Quinta-feira Santa 2010 – Dia do Sacerdócio em Ano Sacerdotal: peçamos a Jesus, o Único e Eterno Sacerdote, que nos dê gosto e desejo, profundos e verdadeiros, pela nossa santificação; que nos dê santas vocações de Sacerdotes e que nos ajude a viver, com alegria e disponibilidade, a nossa entrega diária na consagração sacerdotal. AMEN!

Ilídio, Bispo de Viseu

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Agência ECCLESIA

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