«Jesus na Cruz»
O Servo Sofredor de que fala Isaías assume o compromisso de integrar na sua vida as dores e as esperanças de toda a humanidade.
Deus convida-nos a fazer o caminho do Servo Sofredor, Ele “subirá, elevar-se-á, será exaltado” (Is 52,13) na Cruz. Com fé partilhemos a nossa vida com “o homem de dores, acostumado ao sofrimento”, porque em cada um de nós assume as nossas enfermidades e é esmagado por causa das nossas iniquidades. Pelas suas chagas fomos curados e seguindo o seu caminho dá-nos alento, força, coragem para aceitar as nossas dores e as contrariedades da vida à luz da sabedoria divina. O Servo Sofredor, que obedece no sofrimento, torna-se de verdade um exemplo a seguir por cada um de nós.
O justo entregou a sua vida à morte e tomou sobre si as culpas das multidões e intercedeu pelos pecadores. Como nos lembra o autor da Carta aos Hebreus Jesus sumo e eterno sacerdote penetrou nos céus para “Se compadecer das nossas fraquezas” ( cf Hb 4, 14-16). Vamos, portanto cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno.
A liturgia de Sexta-Feira Santa marcada pelo silêncio, pela escuta da Palavra, pelo acolhimento do Evangelho da Paixão, ajuda-nos pela oração pelas grandes necessidades do mundo, a entender o grande amor que Deus nos tem.
Pedimos a Jesus que morreu na Cruz o dom da paz para a Ucrânia, para a Rússia e, rezamos também pelas vítimas de outros conflitos em muitos países do mundo.
A adoração da Cruz que vamos fazer, convida-nos a meditar no mistério da dor, do sofrimento e da morte, enquanto realidades que se cruzam connosco no quotidiano da nossa vida.
O mistério da vida divina abundantemente celebrada, leva-nos a pedir pelo dom da vida, pela dignidade da pessoa humana, permanentemente exposta a tantas situações de violência, de condenação, de crucifixão e de morte. O grito das injustiças do nosso mundo, continua a clamar pelo respeito e defesa da vida humana nas mais diversas circunstâncias da nossa vida. De todos os atentados contra a vida humana, desde o momento da conceção até à morte natural, livrai-nos Senhor.
Condenamos toda a espécie de mal, de violência, de tortura, de abusos, que atentam contra a vida e a dignidade do ser humano. Da cultura marcante do pecado e da morte livrai-nos Senhor. Acolhei todas as vítimas sofredoras e inocentes no vosso coração e confortai-as pelos méritos da vossa Paixão e Morte na Cruz.
Num mundo onde se despreza a vida humana e se explora de tantas maneiras o ser humano que sem força carrega a sua cruz, condenamos veemente o aborto, o infanticídio, a tortura, a guerra, a violência, a exploração humana, a mutilação do corpo e a eutanásia.
Os cristãos amam a vida, devem estar ao serviço da vida, respeitando e promovendo a sua dignidade em todos os momentos e circunstâncias da sua existência desde o início da vida no ventre materno, até à morte natural.
Ao participamos nesta tarde de Sexta-Feira Santa na celebração do mistério da Paixão e Morte de Jesus Cristo na Cruz, renovemos a nossa fé na vida eterna, procurando participar de modo ativo na vivência do Mistério Pascal.
Jesus deu-nos o exemplo no sofrimento e na obediência ao Pai até à morte de cruz, sigamos os seus passos e vivamos com fé e sentimentos verdadeiramente cristãos os mistérios de Sexta-Feira Santa.
No mundo de hoje, marcado por tantas dificuldades, divisões, injustiças, violências, sofrimentos, dores, condenações e guerras fratricidas, os cristãos são chamados a viver o mandamento novo do amor como resposta de fé perante as grandes dificuldades do nosso tempo.
Diante destes acontecimentos dramáticos a comunidade internacional está a atravessar um momento de grande preocupação e inquietação, perante a impotência de fazer terminar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e pôr termo a tantos conflitos armados espalhados pelo mundo.
Diante deste cenário de sofrimento, de condenação e de morte, a proclamação da leitura da Paixão e Morte de Jesus, torna-se atual e eficaz para curar as feridas e os males da humanidade. O processo de condenação de Jesus à morte revela-se como um dom para a Igreja e para o mundo. Guardemos o testamento espiritual de Jesus, com as palavras pronunciadas na Cruz. Estas transmitem nos força, coragem, confiança e esperança pascal.
- “Perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Jesus convida-nos a confiar. O perdão está sempre, à nossa espera.
- “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).
O bom ladrão entra com Jesus no seu Reino.
- “Mulher, eis o teu filho!…Filho, eis a tua Mãe” (Jo 19,26,27).
Temos Mãe e somos filhos, os discípulos missionários.
- “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? “ (Mc 15,34).
- “Tenho sede!”(Jo 19,28)
Jesus tem sede da nossa salvação, das nossas vidas.
- “Tudo está consumado” (Jo, 19,30)
Chegou a minha horam e cumpri a Tua vontade.
- “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Jesus foi fiel até ao fim. O meu alimento é fazer a vontade de meu Pai. Jesus soltou um forte brado e expirou… Morreu por nós…
“Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre!” (Papa Francisco).
No Calvário aprendemos, que misericórdia de Deus é infinitamente maior do que qualquer pecado. Que estranho modo de dar a vida para salvar. Ele morreu e entregou a vida por nós
Nesta tarde de Sexta-Feira Santa precisamos de nos encontrar com Deus, reconhecer Jesus como nosso Salvador, o verdadeiro amigo, que deu a vida na Cruz para redimir a humanidade. Pela sua Morte fomos curados dos nossos males. Morreu na Cruz para nos perdoar os nossos pecados.
Rezemos diante de Jesus Morto na Cruz e contemplemos o amor que Ele tem por nós, pela sua Igreja e por toda a humanidade.
Na oração, no silêncio e contemplação diante da Paixão e Morte de Jesus, com Maria e João no Calvário, imitemos as santas mulheres e os seus amigos, que com fé e em silêncio vos dera sepultura acompanhando-vos no vosso repouso.
Catedral de Viseu, 15 de abril de 2022
- António Luciano, Bispo de Viseu