Homilia do Bispo de Santarém no Dia Mundial da Paz

Educação permanente para a Paz

No início do um novo ano saúdo todos os fiéis presentes desejando a paz do Senhor, uma paz assente na harmonia com Deus com a vida e com os outros. A Missa que estamos a celebrar convida-nos a dar graças ao Senhor por todos os benefícios que nos concedeu no ano transacto e a pedir-Lhe a Sua Bênção para o novo ano 2010. Certamente esses sentimentos de acção de graças e de intercessão da bênção de Deus estão no coração de todos nós.

A Igreja consagra o primeiro dia do ano a Santa Maria Mãe de Deus. Por Ela nos foi concedida a maior bênção e a fonte de todas as bênçãos, Jesus Cristo, luz e salvação para todos os homens. As leituras da Missa, relacionadas com o mistério do Natal, convidam-nos a considerar a vinda de Jesus como uma manifestação da plenitude dos tempos, como um novo período da história da humanidade, repleto de graça e de verdade, de justiça e de paz.

Na realidade, porém, estamos ainda longe de alcançar o dom messiânico da paz. Para chegarmos à paz precisamos de superar a impiedade, o egoísmo, a agressividade, a mentira, as trevas, as injustiças. A paz nasce do coração misericordioso do Pai Celeste, está associada ao reconhecimento da glória de Deus, da Sua santidade e bondade. “Glória a Deus nos céus e Paz na terra aos homens de boa vontade”, anuncia a mensagem de Natal e continuamos nós a proclamar no hino litúrgico das missas festivas. Portanto, é com o nosso Mestre e Senhor que podemos aprender o caminho da paz. Na verdade, Jesus nasceu e assumiu a nossa condição para habitar connosco e nos guiar no caminho da paz. Como afirmava São Paulo no texto da Carta aos Gálatas que ouvimos, Ele sujeitou-se à lei para nos tornar livres e filhos adoptivos e com esse fim nos deu o dom do Espírito Santo. Agradeçamos ao Senhor a Bênção que nos concedeu através da Santa Mãe de Deus e aprendamos com ela a escutar e a seguir a mensagem de paz que Jesus nos propõe.

As outras leituras também nos convidam a dar graças e a pedir a bênção. No evangelho os pastores louvam e glorificam a Deus pelo dom da vinda do Messias. Dar graças é uma atitude característica de quem acredita na bondade de Deus. Quando na eucaristia o celebrante nos recomenda: “Demos graças ao Senhor Nosso Deus”, nós respondemos: “é nosso dever é nossa salvação”. É, de facto, um dever de reconhecimento e um exercício proveitoso para a nossa salvação porque nos incentiva a prestar atenção às intervenções de Deus na nossa vida. Ao longo de cada ano encontramos muitos sinais da presença e da bondade de Deus e, portanto, muitos motivos para dar graças.

 

2. Desde o ano 1968 o Papa Paulo VI dedicou o primeiro dia do ano à paz. Foi uma iniciativa que se revelou muito enriquecedora no sentido de despertar as consciências para a importância da paz no pleno desenvolvimento da vida humana. Em cada início de ano, recebemos uma mensagem que nos alerta para os perigos que ameaçam a paz e convida todas as pessoas de boa vontade a dar um contributo para construir a paz na justiça e na caridade.

Esta proposta constitui um desafio para que o primeiro dia do ano não seja apenas um momento de divertimentos, de festejos ruidosos e de banalidades mas uma oportunidade de revisão do percurso das sociedades e de reorientação do rumo para um futuro mais humano. As mensagens lançadas cada ano tem-se revelado oportunas e têm merecido uma atenção cada vez mais alargada das pessoas empenhadas no bem comum e no desenvolvimento global da qualidade de vida.

A mensagem deste ano foi dedicada por Bento XVI à defesa da criação: “Se quiseres cultivar a paz preserva a criação”. A defesa da criação é uma responsabilidade individual e colectiva, exige novos estilos de vida, implica UM novo modelo económico e requer solidariedade entre as gerações: “Não podemos ficar indiferentes perante as problemáticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertificação, a deterioração e a perda de produtividade de várias áreas agrícolas, a poluição dos rios e lençóis de água, o aumento de calamidades naturais”.

Bento XVI chama a nossa atenção para a relação da crise ecológica com a crise cultural e moral. A solução impõe um novo estilo ou modo de viver marcado pela sobriedade e pela solidariedade, com novas regras e formas de compromisso. A maneira como o homem se entende na relação com a criação tem a ver com a maneira como se relaciona com Deus. Na verdade, o Criador do Universo confiou ao homem a guarda da criação mas, ao perder o sentido de Deus, o ser humano comporta-se como senhor absoluto e explorador dos recursos naturais. Recomenda, por isso, o Papa um modelo de desenvolvimento global fundado «na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude que indica as acções que se devem realizar hoje, na previsão das que se devem realizar amanhã”.

De facto, a paz não se alcança sem a conversão. Precisamos, portanto, de uma educação permanente para a paz que é dom de Deus, oferta de Cristo e esforço constante de cada um de nós por praticar a justiça, a verdade, o amor e o perdão. Peçamos à Santa Mãe de Deus, Rainha da Paz que nos ensine os caminhos da paz.

+ Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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