Irmãos e irmãs
Neste maravilhoso Dia da Solenidade do Natal do Senhor, três palavras indicam e sintetizam a breve reflexão que partilho convosco: Luz, Santidade e Alegria.
A Luz. Ouvimos no Evangelho: “O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem”. O verbo era a palavra comunicadora dos profetas, era a comunicação de Deus desde a origem do mundo. Essa palavra, esse Verbo comunicador de Deus, veio a este mundo assumindo a natureza humana e fez luz sobre a humanidade.
Jesus é a Luz do Mundo (Lumen Gentium). A Festa do Nascimento de Jesus ocupa para os cristãos o lugar da Festa do ‘sol invicto’ que os romanos celebravam. Para os cristãos, o sol, a luz das suas vidas, é Jesus Cristo.
“A luz brilha nas trevas e as trevas não o receberam”. Esta recusa à Luz que o Evangelho refere, continua: em vários países os cristãos sofrem perseguição. É
um embate permanente com as trevas. São mártires da fé cristã por afirmarem que Deus veio ao mundo, por acreditarem que o mal não se resolve com outro mal, a injustiça não se resolve com outra injustiça, o ódio não se resolve com a vingança. Com esses irmãos perseguidos, temos presente a palavra de Jesus: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas” (Jo 12,46).
É oportuno sublinhar o dom da Fé como luz, capaz de iluminar a existência humana; luz que se acende porque há encontro com Aquele que é a Luz.
A luz da Fé já existe antes de nós, torna-se presente e projeta-se no futuro. Quem tem a Luz da Fé tem futuro. É o nascimento do tempo novo marcado pela presença do Espírito Santo de Deus e é neste Espírito que Jesus disse aos seus discípulos e nos diga agora a nós: “vós sois a luz do mundo (…) brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no Céu” (Mt 5,14.16)
Ter o dom da Fé como Luz, é um privilégio e uma responsabilidade. Num tempo em que as trevas continuam a dominar tantas pessoas, importa propor a Luz da Fé. Muitas pessoas vivem carecidas de Luz interior que dê sentido e beleza às suas vidas.
Santidade. Cristo, o verbo de Deus que veio como Luz verdadeira, ouvimos no Evangelho, “àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”. Somos a Igreja, Povo do Senhor, consagrados filhos de Deus, chamados à santidade e o Evangelho chama-lhe poder de ser filhos de Deus. É, pois, necessário assumir o dom da Fé como poder espiritual e a santidade, não como beatice, mas como graça própria de pessoas cristãs com estatura. O poder espiritual de ser filho de Deus é o dom da fortaleza para vencer os medos que nos querem incutir para nos fragilizar. A vida em santidade implica uma vontade e disposição para abraçar o que é virtude; é isso a que somos chamados e foi para isso que Jesus nasceu.
Não é possível uma sociedade justa, se todas as pessoas são injustas! Não é possível um relacionamento de verdade, se as pessoas são mentirosas! Não é possível o amor, se as pessoas são egoístas! Não é possível a edificação da sociedade com o sentido do bem comum, se as pessoas são indiferentes aos seus semelhantes. A proposta de santidade tem a ver com tudo isto.
O autor da Carta aos Hebreus (2ª leitura) diz-nos: “Tendo Deus falado outrora aos nossos pais pelos Profetas, nestes tempos que são os últimos, falou-nos por Seu Filho”. Estes “tempos que são os últimos”, é o tempo novo; tempo inaugurado por Cristo; tempo marcado pela presença do Espírito Santo; tempo inaugurado para dar ao homem toda a possibilidade da santidade e da Justiça.
Aceitemos a celebração da Vinda de Jesus, para assumirmos o desafio da santidade. Para isso procuremos que na nossa vida exista verdade e coerência, amor generoso e tudo o que fizermos seja para Glória de Deus.
Alegria. A 1ª Leitura (Is 52,7-10), do Profeta Isaías, é uma grande exortação à alegria. Porque o Senhor vem salvar o seu povo, “As sentinelas da cidade soltam brados de alegria”, e também as ruinas de Jerusalém são exortadas a romper de alegria, porque “todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus”.
Isaías viveu mais de 500 anos antes de Jesus e sonha com a vinda do Messias. As suas palavras são cheias de poesia: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz”. Foi assim que o profeta alimentou a esperança do povo de Israel.
Temos o privilégio de pertencermos ao novo tempo em que a Igreja se associa à Virgem Maria para cantar: “A minha exulta de alegria em Deus meu Salvador”. Associamo-nos também aos pastores de Belém: “alegrai-vos pastores, nasceu-vos hoje o Salvador, que é Cristo Senhor. É a alegria do tempo da realização das Promessas de Deus. Como ensina o Papa Francisco “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida de todos os que se encontram com Cristo” (EG 1).
Jesus exorta-nos a permanecermos no seu amor: “Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). A Alegria é fruto da presença do Espírito Santo que estava com Cristo.
Quem é alegre vive da confiança. Quem é alegre trabalha bem. Quem é alegre tem esperança. Quem é alegre gosta de viver e conviver. Quem é alegre tem em si um dom que rasga horizontes de bem para todos. “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4), ensina S. Paulo aos filipenses. Sejamos portadores da alegria cristã; é um bem que faz muito bem.
Uma referência a uma cristã que em Santarém, há cem anos, procurou viver da Luz da Fé, da santidade de vida e na alegria espiritual: Luiza Andaluz. No passado dia 19 de Dezembro, o Santo Padre, Papa Francisco, assinou o Decreto relativo ao reconhecimento das ‘Virtudes Heroicas’ da Serva de Deus Luiza Andaluz, Fundadora da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima. A partir desse dia Luiza Andaluz é designada por Venerável. É um reconhecimento importante acerca da elevação da vida cristã e uma etapa central e decisiva para que a Venerável Luiza Andaluz venha a ser um dia reconhecida e declarada como Beata e Santa. Não podemos deixar de nos alegrar com este reconhecimento; tratando-se de um sinal para toda a Igreja, é-o de forma especial para a Igreja Diocesana de Santarém e para esta cidade. Alegramo-nos e felicitamos as suas discípulas, as Servas de Nossa Senhora de Fátima.
Celebramos a Missa do Dia de Natal do Senhor. Façamos ação de Graças por todos os dons recebidos, manifestemos ao Senhor gratidão por todos os sinais do seu Amor nas nossas vidas.
Há dois mil anos, a Luz de Deus veio ao mundo com a cooperação da Virgem Maria. Hoje somos nós cristãos, a Igreja, responsáveis por guardar, cultivar e testemunhar, na família e no mundo, a Luz, a Santidade e a Alegria de Jesus. Nossa Senhora nos acompanha.
-Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
+ José Traquina, Bispo de Santarém