Homilia do bispo de Santarém na Missa da Noite

Irmãos e irmãs

A Solenidade do Natal do Senhor é cheia de encanto e beleza. Foi e é uma grande afirmação de Fé considerar que no Menino de Belém estava Deus. É o princípio de uma nova era marcada pela fidelidade de Deus no cumprimento das suas promessas, como foi sonhado pelos santos profetas do Antigo Testamento.

Ouvimos na 1ª Leitura (Is 9,1-6) do Profeta Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz…”. Que trevas são estas? Trevas é escuridão, é falta de visão do caminho, é falta de esperança. Mas estas trevas de que fala o Profeta correspondem à falta de respeito e consideração pelo povo que vivia na pobreza, falta de respeito pela vida humana, a indiferença dos poderosos.

O rei Acaz rejeitou os sinais divinos, por isso, o povo sofrerá pela falta de fé do rei governante. Então, o profeta Isaías anuncia: Deus não abandonará o povo que ama e por isso lhe aparecerá como uma Luz que brilha nas trevas.

A esta nova Luz corresponde um novo tempo sonhado; desaparecerão a opressão, a violência e a guerra e terá início uma era de Paz, de Justiça e de Fraternidade.

Esta profecia não se realizou de imediato, manteve-se no povo como Promessa que Deus havia de cumprir. Novas crises apareceram e numa altura (ao tempo do Império Romano) em que já se voltava a pensar que tudo se resolveria por um governo forte e pelo poder das armas, nasce Jesus no Presépio de Belém.

Vemos como Deus segue uma lógica diferente. Vemos como o tempo novo, o Reino sonhado de Justiça, de Paz, não se impõe; planta-se como uma árvore. O Reino de Deus surge na Terra tão pequeno como uma criança; pela Fé celebrada na Liturgia desta Noite de Natal, atualiza-se o mistério da vinda de Deus ao mundo e por isso cantamos:

Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor”.

Por quê assim? Qual foi a intenção de Deus?

-Recomeçar tudo de novo! Natal é nascimento! É início de um tempo novo onde a Graça de Deus se afirma disponível.

No Evangelho (Lc 2,1-14) proclamado nesta Noite, S. Lucas descreve o enquadramento histórico em que aconteceu o nascimento de Jesus: “…saiu um decreto de César Augusto (…) quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré à Judeia, à cidade de Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe”.

Esta narrativa acerca do Nascimento de Jesus tem a preocupação do enquadramento histórico. Deus atua diretamente na História da humanidade, sujeitando-se a uma situação de pobreza, mas sem dispensar a ternura da Virgem Maria e de São José.

Maria deu à luz o seu Filho num estábulo de animais e “deitou-o numa manjedoura”, por não houve lugar na hospedaria.

Também no nosso tempo existem trevas no mundo e, por isso, há crianças submetidas a tantas dificuldades que parece não haver solução para elas. Todas as famílias que no mundo buscam o seu lugar e o reconhecimento da sua dignidade, encontram em Jesus, Maria e José o melhor testemunho e uma intercessão. Celebrar o Natal do Senhor tem tanto de beleza como de responsabilidade.

Irmãos e irmãs, Natal é apelo ao interesse pelo bem comum da sociedade e do mundo em que vivemos, é apelo à purificação interior, ao perdão e à fidelidade, é oportunidade para refazer relacionamentos e recarregar as baterias da esperança. Apesar de existirem trevas, a Luz de Deus reacende-se em nós como vocação e missão de vida; foi o que aconteceu muito vivamente com Luiza Andaluz, em Santarém, há cem anos. No passado dia 19 de Dezembro o Santo Padre, Papa Francisco, assinou o Decreto relativo ao reconhecimento das Virtudes Heroicas da Serva de Deus Luiza Andaluz, Fundadora da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, a partir do qual Luiza Andaluz é designada por Venerável. É uma etapa central e decisiva para que, Luiza Andaluz venha a ser um dia reconhecida e declarada como Beata e Santa. Não podemos deixar de nos alegrar com este reconhecimento; tratando-se de um sinal para toda a Igreja, é-o de forma especial para a Igreja Diocesana de Santarém e para esta cidade. É um testemunho de vida cristã e uma intercessora junto de Deus que devemos considerar. Alegramo-nos e felicitamos a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

Natal é tempo privilegiado de alegria; oportunidade para acolher o mesmo anúncio feito aos pastores de Belém: “não temais, porque vos anuncio uma grande alegria, (…) nasceu Cristo Senhor”. Contemplando o Menino do presépio, sintamo-nos alegres pela vinda de Deus; sintamo-nos privilegiados e amados por Deus. Na mensagem de Natal que escrevi para as crianças, imaginei para elas como os pastores de Belém se alegraram tanto com a presença do Deus Menino que foram capazes de se converter e adotar uma nova forma de viver. Foi uma luz nova que entrou nas suas vidas.

Como ensina São Paulo na 2ª Leitura, manifestou-se a graça de Deus, (…) ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos”.

O Natal é também um grande apelo à conversão. Conversão a um Amor que nos distingue na verdade e na liberdade e nos leva a renunciar ao que é injusto. Experimentamos assim a alegria dos pastores de Belém e conseguimos participar no mesmo louvor que os anjos cantaram e agora é cantado pela Igreja inteira: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!”. Ámen.

+ José Traquina, Bispo de Santarém

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