Homilia do bispo de Santarém na Missa Crismal

Participantes do Sacerdócio de Cristo

 “Àquele que nos ama / E pelo seu sangue nos libertou do pecado / E fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai / A Ele a glória e o poder pelos séculos Amen”

Aquele que nos ama e nos reúne nesta celebração, é Jesus Cristo, Cordeiro de Deus que sacrifica a sua vida para alcançar para nós, seus irmãos, a vida plena, liberta do pecado e da morte. Pelo seu sangue derramado na cruz, fez de nós sacerdotes e reis, ungiu-nos com o óleo da alegria e comunicou-nos o Seu Espírito para nos tornar mensageiros da boa nova, promotores da dignidade e da liberdade dos filhos de Deus, construtores da justiça e da paz.

Na Missa Crismal, pela bênção dos óleos dos enfermos e dos catecúmenos e pela consagração do óleo do Crisma, damos continuidade ao sacerdócio único e eterno de Jesus. Somos também ungidos pelo Espírito e enviados a proclamar o ano da graça do Senhor. Realçamos, assim, a nossa condição de povo santo, profético, sacerdotal e real: “Vós, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido como propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável (1 Pe 2, 9).

Nesta condição de participantes no mesmo e único sacerdócio de Cristo, saúdo todos os presentes que vieram de vários pontos da diocese: os presbíteros servos e mediadores entre Deus e os homens, dispensadores dos mistérios da salvação; os diáconos permanentes que realçam a dimensão de serviço na vida cristã; os religiosos (as) que manifestam a prioridade dos valores do reino; os seminaristas e noviços que se preparam para o sacerdócio e para a consagração; os acólitos que exprimem a veneração pela presença de Cristo nas celebrações; os fiéis leigos, participantes do sacerdócio comum e da missão, enviados ao mundo como fermento de unidade e de fraternidade.

 

“Todos os olhos o verão”

No texto do prólogo do Apocalipse, que ouvimos na segunda leitura, o sacerdócio de Jesus é apresentado a partir da figura do “Filho do Homem”, anunciado pelo profeta Daniel, que desce de Deus. Vem como Senhor de todos os povos e reinos da terra, como origem e sentido da história humana e garantia do futuro novo iluminado pela ressurreição. Ele é “Alfa e o Omega”, “o Primogénito dos mortos”, o primeiro dos que hão de ressuscitar para a vida nova. “Ei-lo que vem entre as nuvens e todos os olhos o verão”. Jesus veio visivelmente de forma humilde pela Encarnação, virá gloriosamente no final da história. Mas, continuamente, pela graça, vem ao encontro dos homens para que todos O vejam pela fé, n’ Ele acreditem e por Ele tenham a vida em abundância.

“Queremos ver Jesus” pediram uns gregos aos Apóstolos Filipe e André por ocasião da festa da Páscoa. Em resposta Jesus afirmou que tinha chegado a hora em que Ele ia ser glorificado…”Quando for elevado da terra atrairei todos a mim”, afirmou (Jo 12,32). Como aqueles peregrinos de há dois mil anos, os homens do nosso tempo, talvez sem se darem conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes falem de Cristo mas também que, de certa forma lho façam ver”, escreveu João Paulo II, na Carta Apostólica “Novo Milennio Ineunte (NMI 16). As pessoas de hoje, como os gregos pagãos do tempo de Jesus e dos Apóstolos, também querem ver Jesus quando procuram um sentido para a vida, uma luz para o presente, uma promessa para o futuro. Os infelizes e os aflitos, continuam a necessitar de consolação; os corações atribulados de cura; os cativos e prisioneiros de liberdade; os pobres anseiam por boas novas, por vencer as trevas e o desânimo. Jesus é aquele que há de vir e nos orienta para um futuro de amor e de esperança. Na sua entrega contemplamos o poder da cruz, a beleza do amor que salva. Anunciar a morte do Senhor, pela qual estabeleceu uma Nova Aliança, é dar a conhecer uma boa nova.

Quem poderá e deverá oferecer às pessoas do nosso tempo a luz do evangelho e a graça de Jesus Ressuscitado? O pedido “queremos ver Jesus” é dirigido a nós, participantes do seu sacerdócio. “Vinde e vede”, devíamos todos convidar. Assim pedimos na oração coleta: “concedei ó Deus que participando na consagração do Vosso Filho Unigénito, sejamos no mundo testemunhas do seu evangelho”.O principal sinal de Jesus Cristo somos nós a Igreja. “Cristo é a luz dos povos. Essa luz resplandece no rosto da Igreja” (LG 1). Os nossos contemporâneos que encontram a Igreja ou se dirigem a ela, deviam, nela, encontrar Jesus. Pelos frutos se conhece a árvore. Os frutos do Espírito Santo na vida dos fiéis são as flores que enfeitam a Igreja e despertam o louvor e a fé (Gl, 5,22). A todos os fiéis, pela unção do Crisma, são concedidos dons do Espírito Santo. Ele nos ungiu e nos enviou. A unção conduz à missão. Os dons são dados a cada um para proveito de todos (Cf 1 Cor 12, 7). O Espírito do Pentecostes inspira, na Igreja de todos os tempos, o dinamismo da missão anunciada por Isaías e realizada por Jesus a partir da apresentação em Nazaré.

 

Discípulos do Cordeiro

Na liturgia da semana santa adquire grande relevo a imagem do Cordeiro de Deus que, neste ano pastoral, nos inspira. Representa a entrega de Jesus ao sacrifício, a humildade, a mansidão. A soberba, fonte perene de pecado, conduz-nos a ser senhores e a fazer escravos, provoca a desobediência e o conflito. Só o Senhor que se faz escravo pode inverter a situação. Só o Cordeiro de Deus pode tirar o pecado do mundo.

Nós sacerdotes, somos discípulos do Cordeiro (Ap 7, 17) e continuadores da missão do bom pastor. Se nos configurarmos com Cristo, pastor que dá a vida e Cordeiro que se sacrifica pela remissão dos nossos pecados, se fizermos da nossa existência uma entrega ao serviço, se vencermos o egoísmo, a vaidade, as dependências e apegos do mundo e da carne, então podemos ser imagens fiéis do Bom Pastor, discípulos do Cordeiro e irradiar a luz do evangelho.

Vai nesse sentido a renovação das Promessas sacerdotais nesta missa. Em nome de Cristo, Pastor e Cordeiro, vou perguntar aos presbíteros: “Quereis viver mais intimamente unidos a Cristo e configura-vos com Ele, renunciando a vós mesmos?” O alicerce que sustenta a vida sacerdotal é a união íntima com o Senhor, a experiência de encontro pessoal com Ele sempre aprofundada, a vida espiritual continuamente cultivada. As promessas sacerdotais são um caminho de despojamento e de entrega, são a condição para a liberdade e a disponibilidade, pois não há amor sem cruz nem culto sem sacrifício. Para nos configurarmos com Jesus e nos assemelharmos ao Cordeiro de Deus não basta seguir os seus exemplos de mansidão, humildade e paciência, mas é necessário também dar a vida, assemelhar-se a Ele na própria morte. Cristo sofreu por nós para que sigamos os seus passos, diz São Pedro. No exercício do ministério sacerdotal procuremos contemplar o rosto do Senhor e seguir o seu caminho. Sem esta experiência pessoal de fé as nossas palavras podem soar a vazias.

Os leigos participam também do sacerdócio de Cristo, são ungidos pelo Espírito Santo e dele recebem carismas para participar ativa e responsavelmente na missão da Igreja e levar o Evangelho ao mundo. Cristo torna-os suas testemunhas e “enriquece-os com o sentido da fé e o dom da palavra para que a força do evangelho brilhe na vida diária, familiar e social” (LG 35)… “Oferecendo a sua vida em união com a oferta do corpo do Senhor na Eucaristia, os leigos procedendo santamente como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo” (LG 34), testemunhando entre os homens a dimensão transcendente da vida e do trabalho humano.

Jesus Cristo é a fonte perene, é a referência, é a força que nos faz crescer no sacerdócio. Subamos com Ele o caminho da glorificação da cruz, assemelhando-nos a Ele na sua morte para viver e testemunhar a alegria da ressurreição. Junto à cruz encontramos Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, Senhora da Consolação que nos consola nas nossas aflições e nos incentiva a consolar e a levar a todos os que sofrem alegria do evangelho.

Santarém, 5 de abril  de 2012

D. Manuel Pelino Domingues, bispo de Santarém

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