Homilia do Bispo de Santarém na Missa Crismal

Ungidos para levar a Boa Nova 1. Participantes da Unção Espiritual de Jesus Caros Padres, colaboradores dedicados na mesma missão de servir o povo santo de Deus; estimados Diáconos Permanentes, sinais de Cristo Servo; caros seminaristas que vos preparais para mensageiros da Boa Nova; queridos participantes do Pré seminário que procurais discernir a vossa vocação; estimados religiosos e religiosas, testemunhas da prioridade dos valores do Reino de Deus; apreciados colaboradores nas várias actividades pastorais da missão da Igreja: leitores e acólitos; ministros da Eucaristia; catequistas; colaboradores na liturgia, na caridade; nos conselhos paroquiais; na administração dos bens eclesiásticos; irmãos e irmãs no Senhor Jesus: Na celebração litúrgica que estamos a viver, Jesus apresenta-se na sinagoga da sua aldeia de Nazaré como o “Ungido do Senhor”, ou Messias, dotado em plenitude com a força do Espírito Santo. É o título fundamental de Jesus para reconhecer a Sua identidade e missão. Desta forma O apresenta o Apóstolo Pedro a Cornélio: “Deus ungiu com o Espírito Santo e com fortaleza a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem, e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo porque Deus estava com Ele” (Act 10,38). A vida e obras admiráveis de Jesus são compreendidas como manifestação da Unção do Espírito. A Missa Crismal, ao integrar a benção e consagração dos santos óleos, realça a unção espiritual de todo o povo de Deus que Jesus Cristo, através dos sacramentos, torna participante da Sua missão profética, sacerdotal e real. Ele, o Ungido do Senhor por excelência, comunica-nos a santidade e a fortaleza espiritual para levarmos a Boa Nova aos pobres, a liberdade aos cativos, a luz aos que vivem nas trevas. “Aquele que nos ama e que pelo seu sangue nos libertou do pecado fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai” ouvimos na segunda leitura do Apocalipse. Reconhecemos o mesmo Senhor, recebemos o mesmo Espírito, participamos dos mesmos sacramentos da iniciação cristã, somos o mesmo povo santo, com uma vocação comum à santidade, participantes da igual dignidade de Filhos de Deus e da corresponsabilidade pela missão de testemunhar o evangelho. Todavia, a santificação e a missão do povo de Deus apoiam-se no serviço do sacerdócio ministerial. As comunidades cristãs não podem viver sem presbíteros que congreguem os fiéis pela Palavra e pelos sacramentos. Os cristãos necessitam e apreciam os seus padres pelo testemunho que dão de entrega a Deus e ao serviço pastoral, reconhecem a sua dedicação generosa e gratuita, admiram a sua atitude de bondade e de alegria, esperam que sejam guias espirituais e servidores da comunhão, que irradiem a riqueza interior e a experiência pessoal de fé amadurecidas na vida espiritual. Louvemos e demos graças ao Senhor que na Sua misericórdia nos considera dignos de sermos Seus representantes e mediadores dos Seus dons. Não é mérito nosso, não vem da nossa competência mas é dom da Sua bondade. Digamos como São Paulo na Carta a Timóteo: “Dou graças Àquele que me confortou, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter considerado digno de confiança, pondo-me ao seu serviço” (1Tim 1,12). Como Bispo dou graças a Deus pela colaboração dedicada de todos vós, caros presbíteros, irmãos e amigos, pela riqueza dos carismas que vos foi concedida e pela vossa disponibilidade em colocá-los ao serviço do evangelho onde e como a Igreja vos pede. 2. Tornar Deus presente no mundo A unção do Espírito que nos consagra para o serviço de Deus está orientada para o envio ao mundo a anunciar o evangelho. “No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade da acção da Igreja que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um Deus qualquer mas àquele Deus que se revelou no Sinai e mostrou o Seu rosto no amor de Jesus Cristo”recente Carta de Bento XVI aos Bispos). De facto, na vida e na consciência de muitos contemporâneos nossos perde-se o sentido de Deus. Sem Deus faltam referências, falta um rumo que dê sentido e luz à existência humana, falta um alicerce sólido para a relação humana e para a ética. Sem fé, soçobra a esperança e definha a caridade. O mundo precisa da luz, da alegria e da santidade do evangelho. A Igreja, como cidade edificada no cimo do monte, é chamada a derramar luz à sua volta e a orientar os povos no percurso da paz, do amor e da liberdade autêntica. Numa sociedade satisfeita com os bens imediatos, indiferente à proposta da fé, marcada por preconceitos e suspeitas em relação ao cristianismo, por vezes mesmo hostil à Igreja, não podemos considerar como adquirida uma disposição favorável ao anúncio do evangelho. A Palavra que pregamos necessita da força do Espírito e, igualmente, do apoio dos sinais visíveis da fé. São os frutos palpáveis do cristianismo na vida dos crentes que podem despertar o interesse e a atenção dos destinatários da missão. 3. A alegria da fraternidade cristã A unção espiritual que Deus concede aos fiéis é destinada a produzir frutos. Estes desabrocham na vida dos crentes e das comunidades se os cultivarmos com persistência. Destaco, entre todos, a alegria da união fraterna por vir de encontro ao nosso programa pastoral deste ano: “Como é belo, como é agradável que os irmãos vivam unidos” (Salmo 132). Alicerçada na vida espiritual, vivida no interior do coração, manifestada no rosto, nas atitudes, nas palavras e na relação cordial, a alegria dá encanto à vida e irradia ao redor como um perfume. Assim compreendemos que o Salmo traduza a harmonia da união fraterna pela imagem do óleo litúrgico perfumado que unge a cabeça e corre pela barba de Aarão. A alegria é, na verdade, como uma benção que Deus, através do ministério sacerdotal, concede a toda a assembleia reunida para depois ser levada a toda a gente. Na continuação e colaboração da missão de Jesus, o Ungido do Senhor, somos também enviados “a consolar os que andam amargurados e a levar aos aflitos uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez de um traje de luto, o louvor em lugar de um coração abatido”. (Isaías, 1ª leitura). É pelo nosso afecto, pelo acolhimento e pela caridade fraterna que comunicamos a alegria: “Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno, Adiantai-vos uns aos outros na estima mútua” (Rom 12, 10). Deste modo, se difunde o bom perfume de Cristo pois damos um testemunho cativante e credível da Boa Nova (Cf 2 Cor 2, 14-15). Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas (ou belas) obras e dêem glória ao vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). + Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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