Homilia do Bispo de Santarém na Missa Crismal

Ungidos para levar o Evangelho da consolação 1. Missão de cura e de consolação As leituras bíblicas da Missa Crismal convidam-nos a contemplar Jesus Cristo como o Ungido pelo Espírito Santo para anunciar a Boa Nova aos pobres, libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Nesta celebração consagramos o óleo do Crisma e abençoamos os óleos dos catecúmenos e dos enfermos. Assim compreendemos os sacramentos, a que estes óleos se destinam, como gestos em que Cristo nos comunica a unção do Espírito Santo e nos faz participantes da sua missão de testemunhar o evangelho. O prefácio esclarece que esta participação no sacerdócio único de Cristo se realiza tanto a nível do sacerdócio comum dos fiéis como do sacerdócio ministerial dos que recebem o sacramento da ordem. O Senhor fez de nós, de todos nós, ordenados, consagrados e leigos, um reino de sacerdotes para Deus Seu Pai. O exercício deste sacerdócio, segundo as leituras, realiza-se não apenas no culto mas na missão de anunciar a Boa Nova aos infelizes, consolar os aflitos e libertar o mundo das alienações e sofrimentos que oprimem as pessoas. Saúdo com muito afecto todos os membros do Povo de Deus que quiseram reunir-se para esta celebração em que fortalecemos a participação no mesmo sacerdócio de Cristo e na mesma missão evangelizadora da Igreja: Presbíteros; Diáconos Permanentes; Religiosos (as); Consagrados; Seminaristas; Pré seminaristas; Leigos empenhados nas comunidades. Que o Espírito Santo nos fortaleça na união fraterna e nos ilumine para percorrermos os caminhos da nova evangelização. Saúdo com especial dedicação os colaboradores mais directos, os presbíteros, que hoje renovam as promessas da ordenação e reanimam o dom que receberam pelo Espírito Santo. Alicerçados no sacramento da Ordem participamos da mesma missão apostólica e estamos unidos no mesmo presbitério por laços fraternos. Agradeço de coração a vossa colaboração sacrificada, a vossa compreensão e a vossa amizade. A missão de Jesus, que somos chamados a partilhar, é, segundo as leituras bíblicas, uma missão de cura e de consolação: “Levar aos aflitos de Sião uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez do traje de luto, cânticos de louvor em vez de um espírito abatido”. No tempo de Isaías, o povo passava pelo sofrimento e pela humilhação do exílio. Em todos os tempos os filhos de Deus experimentam provações, sofrimentos, alienações, desalento. Necessitam de quem lhes dê motivos de esperança; os alivie do peso da cruz; os cure das suas enfermidades, não apenas físicas mas morais, espirituais e psíquicas; os liberte dos seus medos e alienações; os levante do chão. Precisam de quem lhes preste atenção, os ame e compreenda. Os fiéis esperam dos seus padres uma atitude de acolhimento, de compreensão e de consolação. A evangelização é uma missão de anunciar a misericórdia, promover a liberdade, convidar à alegria. Pede uma Igreja compassiva, humanizadora, solidária com os sofredores e oprimidos. O tesouro da fé e da esperança cristãs que oferecemos não é estranho à sensibilidade e à procura das pessoas mas responde às suas questões e necessidades vitais. Jesus Cristo é a resposta aos anseios e problemas mais profundos do coração humano (Cf GS 21). 2. Revestidos com a força do alto Como desempenhar uma missão tão exigente se nos sentimos pobres e frágeis? De facto, levamos um tesouro em vasos de barro, como diz S. Paulo. Nesta Missa Crismal regressamos às fontes, reanimamos o dom do Espírito Santo que recebemos na nossa ordenação e renovamos as promessas sacerdotais. A Unção do Espírito Santo no sacramento da Ordem garante-nos a força do alto sem a qual a nossa missão é inviável: “Sereis revestidos de uma força do alto” promete Jesus quando sobe aos céus. O Espírito Santo opera em nós a partir da nossa humildade. Por isso, na Ordenação, prostrámo-nos, deitámo-nos no chão num gesto de despojamento de nós mesmos e de consciência da nossa condição terrena. Somos de barro, a nossa base é o húmus da terra. Através das provações da vida, o Senhor vai-nos moldando, como o oleiro ao barro, para gravar em nós a sua imagem. Ele cresce em nós à medida que os impedimentos do nosso egoísmo e da nossa vaidade diminuem. De húmus vem a palavra humildade, atitude fundamental para poder servir, para se dar aos outros, para se tornar responsável por eles. Quando nos sentimos fracos, quando nos revestimos da humildade, quando pomos em questão as nossas “importâncias”, então a força do Espírito exerce-se em nós com maior intensidade. A humildade é o ponto de partida para alcançarmos a conversão à alegria, à liberdade e à misericórdia. Este ano procuramos ter presente na nossa vida pastoral o exemplo concreto de São Francisco de Assis onde o despojamento e a humildade se traduzem na alegria contagiante, no louvor perene a Deus e na solidariedade profunda com os mais pobres e com toda a criação. “Guardem-se os irmãos de se mostrarem tristes ou sisudos como os hipócritas: mostrem-se antes jubilosos no Senhor, alegres e amáveis como convém” (preceito da primeira regra). 3. Progredir no caminho da unidade O Espírito Santo permite-nos também avançar no caminho da unidade, tão dificultado pelo forte individualismo da nossa época. É a recomendação insistente de Jesus no testamento que nos deixou na última ceia: “Que todos sejam um só, como Tu Pai estás em mim e eu em ti. Para que assim eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). De facto, no exercício do ministério, não podemos agir como navegadores solitários. Estamos embarcados na mesma barca, a barca de Pedro que é a Igreja. Somos membros do mesmo organismo, o Corpo de Cristo, em que cada parte deve actuar em articulação e harmonia com o todo. Não somos muitos perante uma seara tão vasta que nos é confiada. Unidos teremos mais força. Se cada um cuidar apenas do seu quintal, desperdiçamos as energias e não alcançamos credibilidade. O caminho da unidade foi oportunamente posto em relevo no nosso tempo por Clara Lubich que Deus chamou a si no passado sábado. Esta mulher carismática dedicou a sua vida e orientou o movimento dos Focolares na procura da unidade no interior da Igreja, no diálogo ecuménico e com outras religiões, como fonte de unidade e entendimento entre as nações e de fraternidade universal de todos os povos. Na verdade, a pregação do evangelho e o desenvolvimento do diálogo com outros credos e com o mundo, devem fundamentar-se no testemunho da nossa própria unidade. Vivemos numa época de grandes mudanças, de crise, de purificação, de regresso ao essencial. Saibamos orientar-nos pela perspectiva da fé e da esperança e vencer a visão negativa dos nossos horizontes limitados. Ainda que tenhamos de atravessar vales tenebrosos não temamos nenhum mal porque o Senhor nos acompanha e apoia com o seu cajado. Esforcemo-nos por agir em Igreja, unidos no Corpo de Cristo. Aprendamos o caminho da unidade que nos exige esforço, humildade, alegria e amabilidade. Peçamos ao Senhor do rebanho que nos ilumine: Senhor Jesus, Pastor Eterno, que nos chamais a congregar na unidade o vosso rebanho e a orientá-lo na luz da fé e da esperança vinde em auxílio da nossa fraqueza, fortalecei-nos com a luz e a consolação do Vosso Espírito, ajudai-nos a ser colaboradores humildes e dedicados na construção da vossa Igreja apoiando-nos sempre no vosso braço e no vosso báculo. Por intercessão de Maria serva humilde e confiante nos desígnios do Altíssimo. Ámen. Quinta Feira Santa, 20 de Março de 2008. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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