Homilia do bispo de Santarém na celebração da Paixão (Sexta-feira Santa)

Foto: Diocese de Santarém

Irmãos e irmãs

Meditemos um pouco sobre a Paixão do Senhor.

Depois de celebrar a Ceia com os seus discípulos, Jesus saiu com eles da cidade , dirige-se para um local por eles conhecido como privilegiado para a oração, um jardim “do outro lado da torrente do Cédron”. Era de noite. Jesus entra na noite, noite da escuridão, noite de trevas, noite de pecado, noite onde Judas está acordado e os outros discípulos todos adormecem, noite onde não há descanso possível para Jesus, noite de injustiça e de infidelidade, noite de negociata, noite em que Jesus foi vendido por um discípulo infiel. Jesus entra na noite escura da humanidade para a transformar.

Tendo dedicado o seu tempo a fazer o bem, Jesus mudou para melhor a vida de muitas pessoas, amou a humanidade, revelou o amor do Deus Pai e, contudo, foi maltratado e condenado a morrer numa cruz como se fosse um malfeitor. Jesus entrou nas trevas da noite para morrer e fazer surgir o Dia luminoso da sua Ressurreição.

Tudo o que o Profeta Isaías escreveu acerca de um enigmático ‘servo sofredor’ veio a acontecer na pessoa de Jesus, com uma finalidade que o profeta registou: “O justo, meu servo justificará a muitos e tomará sobre si as suas iniquidades” (…) tomou sobre si as culpas das multidões e intercedeu pelos pecadores”.

Jesus submete-se às consequências da injusta violência presente na organização da sociedade. Assim, contemplando-o morto na Cruz, temos presente os que morreram vítimas de guerras e conflitos: na Síria, na Ucrânia, em Gaza, na Nigéria, no Sudão, em Moçambique e outros países. Lembramos as situações atuais no mundo para dizer que o Amor pela humanidade consagrado por Jesus é inspirador e critério para uma nova ordem no relacionamento dos povos, para uma cultura de diálogo e de construção de sociedades mais justas. O mundo necessita ser pensado com mais coração. Hoje contemplamos na Cruz a ‘grandeza e a beleza’ do coração de Cristo que tornou presente no mundo o Amor de Deus por toda a humanidade, sem revolta nem condenação de ninguém.

Para o autor da Carta aos Hebreus, como ouvimos na segunda leitura, a Cruz corresponde à plenitude de Cristo: “tendo atingido a sua plenitude, tornou-se para todos os que lhe obedecem, causa de salvação eterna” (Heb 5,9).

Jesus consagrou na Cruz a ‘nova e eterna aliança’ do Amor de Deus pela humanidade, celebrada na Ceia Pascal com os discípulos. Progressivamente, a Cruz ganhou novo significado: de sinal de morte, passou a símbolo do Amor que salva.

A Paixão e a Cruz, resumem a vida de Jesus, são o critério ou a forma como Jesus decidiu viver a vida neste mundo. Sem esconder dificuldades e exigindo coragem, fé e amor generoso, propõe que, em liberdade, o sigamos com critérios semelhantes aos seus: “Quem quiser seguir-me, pegue na sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Irmãos e irmãs, a abrangência da Oração dos Fiéis que se segue revela bem a universalidade do Amor por Cristo na Cruz.

+ José Traquina
Sé de Santarém 2025

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