Homilia do bispo de Coimbra na Missa Crismal

MISSA CRISMAL – HOMILIA – SÉ NOVA DE COIMBRA 2012

Caríssimos irmãos e irmãs, fiéis em Cristo!

Caríssimos irmãos Sacerdotes, a quem me dirijo de um modo especial neste dia!

Nesta Missa Crismal, voltamo-nos para o Deus que nos chamou e nos escolheu, que  derramou sobre nós a força do seu Espírito, nos ungiu com o óleo da alegria e nos enviou a anunciar aos homens a Boa Nova da salvação. Damos-lhe graças porque nos fez entrar no grande mistério que nos une a Cristo em quem tem origem o nosso sacerdócio, e nos fez entrar no grande mistério que nos une aos homens a quem somos enviados no exercício do ministério sagrado.

A Quinta-feira Santa é o dia da nossa humildade, por reconhecermos de um modo consciente que o que somos nasce de Deus, e que o que fazemos se orienta para o bem do Seu Povo. Este é o mistério que nos envolve e o ministério que nos foi confiado.

Este é o dia da nossa humildade, por acreditarmos que, sem mérito algum da nossa parte, fomos chamados pelo Senhor dos Senhores e somos enviados como portadores das maiores e melhores riquezas: a Palavra da Salvação, o Pão e o Vinho da Eucaristia, o perdão dos pecados, a graça dos sacramentos da salvação.

Neste dia da nossa humildade, recordamos o gesto da prostração no meio da assembleia reunida no dia da nossa ordenação, e a memória que dela guardamos no coração. Nesse rito simbólico e profético se anunciavam os dois eixos centrais da nossa vida sacerdotal: homens chamados à prostração diante de Deus, ou seja, a reconhecer o nosso nada diante do seu tudo; homens chamados a levantar-se na mais veemente decisão de partir para servir os irmãos.

Neste dia da nossa humildade, damos graças ao Senhor por nos associar a Si e por usar a nossa fragilidade para trazer à Igreja a sua imensa riqueza. Nada seríamos e nada poderíamos se, como dizia a profecia de Isaías, não tivéssemos recebido o dom do Espírito do Senhor, que nos fortalece e capacita para a missão. O próprio Jesus, segundo o texto do Evangelho, cheio do Espírito do Senhor, inicia o seu ministério na realização do desígnio do Pai. Trata-se num e noutro caso do dinamismo e da força de Deus, que é o Espírito da comunhão e da santidade, o mesmo que foi derramado em nós pela imposição das mãos e pelo óleo da unção.

Tendo aceitado livremente o chamamento que o Senhor nos fez e ungidos pelo seu Espírito, somos agora do Senhor, pertencemos ao Senhor e havemos de caminhar continuamente na realização desta nossa condição que faz parte da nossa identidade mais profunda. Enquanto padres, definimo-nos em primeiro lugar e acima de tudo por aquilo que somos na relação com Cristo, que nos chamou e nos uniu de forma indelével a Si mesmo; definimo-nos depois pela nossa união aos irmãos com quem somos cristãos partilhamos a graça do baptismo e com quem formamos a comunidade santa, o Povo de A nossa fonte de alegria e a nossa realização humana e cristã encontram-se na missão que somos convidados a realizar em favor dos irmãos, sem reservas nem outras motivações que não sejam servir por amor. A Igreja de hoje, a nossa Igreja Diocesana de Coimbra precisa urgentemente de padres enviados por Deus, configurados com Cristo e animados pelo Espírito Santo, que se sintam alegres e felizes na realização desta missão universal da Igreja.

O mundo em que vivemos, como dizia o texto de Isaías, espera ver em nós autênticos homens de Deus, a viver uma vida enraizada em Deus e tomada por Deus, espera ver em nós a linhagem que o Senhor abençoou.

Quantos homens e mulheres não aguardam, dentro e fora da Igreja, este anúncio de salvação de que somos portadores? Quantos pobres, cativos, cegos, oprimidos, não anseiam pela força libertadora de Jesus Cristo? Quantas pessoas não estão no limiar do desespero e anelam pela palavra da esperança viva? Quantos não esgotaram já caminhos terrenos de procura de paz e felicidade, e aguardam conhecer a nova Via, que é Cristo?

Concluía o texto do Evangelho dizendo que “estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga”, pois viram n’Ele o Enviado de Deus, deixaram-se comover pelas suas palavras e pelo amor que transparecia da sua pessoa. Estão ainda hoje postos em Jesus os olhos dos homens do nosso tempo, ansiosos por ver a novidade da sua pessoa, dos seus gestos e palavras. Estão postos na Igreja e em nós, seus ministros, quais autênticos rostos de Deus, os olhos do mundo que precisa de ver a alegria serena dos nossos corações, a paz de Deus espelhada nos nossos rostos, a fé profunda que nos move, a dedicação e a entrega generosa à missão. Não temos o direito de defraudar as esperanças que em nós depositam, nem de ofuscar o rosto resplandecente de Cristo glorioso, o Irmão de todos os pobres em espírito, ou o rosto da Igreja, a Mãe atenta a todos os seus filhos. Por estas atitudes de autêntica fraternidade e paternidade espiritual passa o nosso modo de ser e de agir na relação com cada pessoa e enquanto pastores das comunidades cristãs.

Quero nesta Missa Crismal em que pela primeira vez estou no meio de vós, agradecer ao Senhor o dom do sacerdócio que me concedeu, participação do seu único sacerdócio. Agradeço-Lhe todos e cada um de vós, membros deste nosso presbitério de Coimbra, no qual tive a graça de ser recebido em nome do Senhor. De um ponto de vista humano pode parecer uma realidade comum e de pouco significado; à luz da fé, porém, é um maravilhoso sinal da misericórdia de Deus que nos ligou uns aos outros por laços de fraternidade e de comunhão alicerçados na graça do Sacramento.

Também agradecer-vos irmãos presbíteros, diáconos, religiosos, consagrados, leigos, por me acolherdes como pai na fé; por estardes disponíveis para colaborar na construção desta Igreja, segundo o mandato que todos nós recebemos. O fogo de Deus que habita nos nossos corações e faz de nós um povo sacerdotal nos levará a realizar a obra que Deus nos confiou.

Os dias que vivemos enquanto Igreja Diocesana são muito exigentes, por uma lado, e extremamente desafiadores da nossa fé e da nossa esperança, por outro. Temos pela frente um mundo muito vasto de possibilidades que não podemos desperdiçar. A crise em que se encontra a sociedade e a crise em que se encontra a Igreja só podem provocar um novo empenho evangelizador nos discípulos de Jesus Cristo. O tempo de crise só pode ser um novo tempo de oportunidade e de graça, um novo kairós da nossa história. Neste tempo que é o nosso, urge uma nova consciência da fé e uma nova alegria do testemunho. Sem medo, havemos de dar ao mundo as razões da nossa esperança, fundada em Cristo. E nós, caríssimos irmãos padres, havemos de ser os primeiros no ardor e no entusiasmo por Cristo e pelo seu Evangelho.

No seguimento do apelo que nos é feito pela Igreja Universal, na pessoa do Papa Bento XVI, somos convidados a investir na evangelização da Diocese e a trabalhar pelo crescimento da fé do Povo de Deus. Estou confiante no trabalho que está a ser preparado pelo Secretariado de Coordenação Pastoral e que procurará pôr toda a Diocese em dinamismo renovador. Peço-vos, caríssimos irmãos, que, atentos ao Espírito de Deus, nos abramos à novidade dos métodos e dos meios que venham a parecer mais aptos para a criação de um novo ardor na vivência e transmissão da fé.

Que nenhum pessimismo ou desânimo se sobreponha à alegria de trabalhar dia e noite em favor da edificação do Reino de Deus. À voz do Senhor lançaremos as redes ao largo, plenamente confiados no cumprimento da sua palavra.

Desde a última Missa Crismal, foi ordenado um novo presbítero, o João Pedro, pelo que damos graças ao Senhor. Faleceram três irmãos sacerdotes: o P. Pedro Marques Cantante, o P. Isildo de Jesus Costa e o P. João Maria Real, que deram a sua vida ao serviço desta Igreja e foram uma bênção para este presbitério; que o Senhor os tenha na sua glória.

Para os irmãos sacerdotes doentes e impossibilitados de estar presentes nesta celebração vai a certeza da nossa proximidade nas horas difíceis e a garantia da nossa oração ao Pai, para que em tudo se faça a sua vontade.

Concluo, caríssimos irmãos, renovando a todos o convite no sentido de oferecermos ao Senhor o sacrifício da nossa oração, da nossa ação e das nossas vidas em favor das vocações sacerdotais.

A Maria, a Rainha das vocações e Mãe dos sacerdotes confiamos esta nossa súplica, para que a apresente ao Pai, fonte de todas as bênçãos.

Coimbra, Sé Nova, 5 de Abril de 2012

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

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