1.A Páscoa de Cristo retoma tudo o que vem do passado: o cordeiro, o pão ázimo, as ervas amargas, o carácter noturno, a lua cheia. Mantém-se também o sentido de “passagem”, ainda que alargado e aprofundado: passagem tranquila para novas pastagens, passagem para um tempo novo, passagem da escravidão para a liberdade, passagem da morte para a vida verdadeira, que é o verdadeiro sentido da Páscoa de Cristo.
A Páscoa é uma festa móvel, porque acompanha, ano após ano, a primeira lua cheia da primavera. Neste Ano Jubilar de 2025, a data da Páscoa ortodoxa coincide com a das outras denominações cristãs. Que este acontecimento possa ser sinal da vontade das Igrejas de continuarem, sem parar, o caminho da unidade e servirem juntas a humanidade!
2.Nesta solene e bela Vigília, desfiamos, com amor, o rosário das maravilhas do Senhor, escutando a leitura das Escrituras desde a Criação até à Páscoa, desde a Páscoa até à Criação.
As leituras bíblicas proclamadas evocam uma série de passagens que marcam a história da salvação: a criação do mundo como um passar do nada ao ser, do caos ao cosmos e à vida (Gen. 1); o povo de Israel liberto através do Mar Vermelho, da escravidão para a liberdade (Êx. 14); o dom de um coração novo no lugar de um coração de pedra (Ez. 36); a ressurreição de Cristo da morte à vida e a regeneração dos batizados nele incorporados (Rom. 6); o primeiro anúncio pascal por parte daquele jovem de branco: “Não está aqui! Ressuscitou”.
3.E assim chegamos sempre ao Ressuscitado, hoje visto através do relato de Lucas 24,1-12. O relato evangélico é sóbrio, mas rico e denso. Fiel a esta intensa sobriedade, a arte cristã nunca se atreveu a representar a ressurreição antes dos séculos X-XI. É tal o fulgor da Luz deste mistério, que ficará sempre no domínio do inefável, que simultaneamente ilumina e esconde. É por isso que a Paixão é um relato, mas a Ressurreição, que põe fim ao relato, só nos pode chegar como Notícia, vinda de fora, como a Aurora.
É por isso que esta Noite é uma fulguração de Luz e Lume novo. Desde as brasas acesas, ao Círio Pascal aceso, ao nosso coração aceso como o dos discípulos de Emaús. É também por isso que o Batismo começou por ser chamado «Iluminação», sendo a Vigília Pascal também a grande Noite Batismal. E cada batizado levará para sempre a arder dentro de si este Lume.
Com muita alegria estamos unidos aos nossos catecúmenos, a quem saúdo com fraterna amizade! Em comunhão com eles renovaremos em nós a graça batismal.
4.Pela água e pela luz do Batismo, entramos no mundo maravilhoso do amor de Deus, mais forte que a morte. Participamos da sua Páscoa gloriosa, comendo o pão que se faz Carne e bebendo o vinho, que se faz Sangue de Cristo, no banquete da Eucaristia.
Os sete sacramentos são acontecimentos, em que o amor de Deus nos cria e recria, nos sustenta e alimenta, nos inova e renova, nos amadurece e fortalece, nos consagra e nos envia. São as sete maravilhas, que prolongam, no tempo da nossa vida, a Páscoa eterna de Jesus.
Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. «Quem ama, já passou da morte à vida» (1 Jo 3,14), porque “o amor é mais forte do que a morte” (Ct 8,6).
5.Jesus Cristo vem dar sentido, horizonte, esperança, novidade a tudo o que somos, a tudo o que fazemos e a tudo o que vivemos. Vem trazer, a cada um de nós, uma Vida Nova. Ele conhece-nos e quer libertar cada um de nós de todas as amarras.
Acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo, nós que, pelo Batismo, somos mergulhados com Cristo na morte, para viver uma vida nova! Deixemos que a força do Seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos canais através dos quais Deus possa irrigar a nossa terra e nela fazer florir a civilização do amor.
A Páscoa aconteceu! Mas é preciso que continue a acontecer, vencendo as resistências do nosso egoísmo, do nosso individualismo, da nossa acomodação, da nossa desumanidade, das trevas que se adensam diante da nossa pouca fé. É preciso que o mundo acredite na Páscoa. É preciso que a Igreja acredite na Páscoa. É preciso que cada um de nós acredite na Páscoa.
6.É esta mensagem de esperança que dirijo aos catecúmenos aqui presentes e a todos os cristãos e pessoas de boa vontade desta querida diocese de Bragança-Miranda. Na Páscoa, tudo é novo, tudo recomeça, como na primavera. Sejamos Igreja, que nasce e vive da Páscoa, porque nasce e vive de Cristo Ressuscitado, e por isso mensageira e semeadora de esperança.
Levemos a luz nos nossos olhos, a alegria no coração, a fortaleza no espírito, o amor em todas os gestos e palavras. Irradiemos a alegria pascal no mundo, levando-a às casas, às famílias, aos caminhos da vida.
Com estes sentimentos de júbilo, desejo a todos feliz, alegre e santa Páscoa em Cristo Ressuscitado! Cristo ressuscitou! Está vivo no meio de nós e connosco. Ele é a nossa esperança! Aleluia, Aleluia!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda