Catedral de Bragança – Natal do Senhor – Missa da noite 24.12.2017
1. Batismo – Natal do cristão
O Natal comemora o nascimento de Jesus; o Batismo celebra o natal do cristão, sendo o seu nascimento. Realmente, ninguém nasce já cristão, tornamo-nos cristãos pelo Batismo, como canta um hino da Liturgia da Igreja: «Filho do Eterno Pai, nascido de Maria, que na água do batismo, nos deste a luz da vida».
Batismo também se chama Dom, iluminação e banho de regeneração. Por isso, á agua do Batismo até se chama água lustral, isto é, que serve para lustrar, para purificar. Todavia, «é claro que todos os nomes do Batismo exprimem uma única realidade: o banho batismal é nascimento e princípio em nós da vida em Cristo» (N. Cabasilas).
A água é o símbolo universal da fecundidade e da fertilidade. No ventre da mãe fomos gerados em água; no ventre da Igreja (mãe, matriz) somos regenerados na água e no Espírito Santo na fonte (pia, útero) batismal.
A Igreja é para nós a Mãe d’Água: um poço/fonte nascente de água e depósito vivo de água de Jesus Cristo. Para S. Gregório de Nissa, «Ele é a fonte pura e imaculada, e quem bebe e recebe desta fonte os sentimentos e afetos do seu coração apresentará uma semelhança perfeita com o seu princípio e origem, como a que tem com a sua fonte a água que corre no regato ou brilha na ânfora».
Maria e José, acompanham-nos no caminho do encontro com Jesus Cristo e na proposta alegre da ousadia do Evangelho a comunicar hoje junto aos poços e fontes onde as pessoas vão beber: «Se conhecesses o Dom de Deus!» (cf. Jo 4, 5-42).
2. Grande Alegria
Desde o início do Ano litúrgico, o convite constante é à alegria: «Alegrai-vos sempre no Senhor: repito, alegrai-vos, o Senhor está próximo» e, nesta noite que se converte em dia, pensamos também na boa-notícia anunciada aos pastores: «Não temais, anuncio-vos uma grande alegria… hoje nasceu um salvador, que é Cristo Senhor» (Lc 2, 10-11).
Pensando bem, devemos admitir que a alegria é uma palavra chave do léxico cristão. Do Antigo Testamento, com a alegria de Deus e do homem na criação, ao Apocalipse, com a promessa da alegria sem sombra, um rio cheio de alegria percorre a Bíblia.
Às vezes, a alegria da fé também nos põe em crise. E isto é bom, porque «uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise» (Papa Francisco).
3. Viver é Cristo!
A todos e a cada um de vós, especialmente às pessoas idosas, às crianças, aos jovens, aos mais tristes, aos que mais sofrem, aos mais pobres, aos doentes, aos presos, aos migrantes, mostramos a nossa proximidade e desejamos a paz do coração, apelando a que ninguém fique indiferente às lágrimas e às necessidades de vida, de fé e de amor.
Sem água não há vida. Sem Batismo não há vida em Cristo. No Batismo e sua memória crente e orante vivida no quotidiano, vivemos a felicidade maior da dignidade filial e fraterna.
A alegria do Natal manifeste a beleza do encontro pessoal com Jesus Cristo, vivido em dinamismo vocacional segundo o qual Deus chama e o ser humano responde.
Abraço-vos cordialmente por Cristo, com Cristo e em Cristo
Bragança, Natal 2017
+ José Manuel Cordeiro