Homilia do bispo de Beja no Domingo de Páscoa

Hoje, domingo de Páscoa celebramos a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele, que nos amou até ao fim e morreu na Cruz carregando com os nossos pecados, ressuscitou como tinha anunciado, e vive eternamente, junto do Pai, para interceder por nós. Nós acreditamos n’Ele, e reconhecemo-l’O como nosso Senhor, nosso Mestre e nosso Pastor. Morrendo na Cruz Ele desceu aos infernos. Ele, o Filho bem-amado do Pai, o Inocente que não conhecera o pecado, fez-Se pecado por amor de nós. A sua ressurreição foi esta passagem do Inferno para o Céu, da descomunhão mais plena para a glória, para a comunhão com o Pai, no mesmo Espírito Santo.

Convido-vos, irmãos e irmãs, a meditar, ainda que brevemente, no que significa para nós acreditarmos em Jesus Cristo Ressuscitado.

 

A primeira notícia da Sua Ressurreição, como escutámos no Evangelho proclamado há momentos, está no túmulo vazio. Túmulo vazio? Sim, porque nele não estava o corpo do Senhor. O túmulo estava vazio do cadáver, vazio da morte, mas cheio, cheio de sinais da Sua Ressurreição, cheio da Vida Nova do Filho de Deus, oferecida por Ele aos homens. É essa Vida divina que nos reúne aqui hoje, caros irmãos e irmãs.

Maria Madalena foi de manhã ao sepulcro. A pedra da entrada estava removida e ela correu até junto de Pedro e de João a contar o que tinha visto, com estas palavras: “tiraram do sepulcro o corpo do Senhor e não sabemos onde O puseram”. Pedro e João correram juntos. João chegou primeiro mas esperou por Pedro. Viram ambos o mesmo: as ligaduras no chão e o sudário enrolado à parte… mas João viu e acreditou.

Acreditou! Esta é a primeira vez que se diz esta palavra a respeito da Ressurreição de Jesus. De Maria Madalena se diz que, quando os apóstolos regressaram a casa, ficou chorando junto do sepulcro e o Senhor lhe apareceu. Pensava que era o jardineiro, mas ela reconheceu o Senhor que a chamou pelo nome. Então foi ter com os apóstolos e anunciou-lhes: vi o Senhor! Eles ficaram perturbados e duvidando da sua sanidade mental até que, finalmente, o próprio Senhor, na tarde daquele dia, o primeiro da semana, apareceu vivo no meio deles.

 

A fé de João, apóstolo que escutara da boca do Senhor o anúncio da Sua morte e Ressurreição e que se deparou com o túmulo aberto e vazio, é o primeiro degrau da fé. Viu e acreditou. Esta fé não a teve Pedro nem sequer a Madalena. É uma fé movida pelo amor, mais ao nível da intuição. Esta fé é a pedra fundamental do edifício que é a vida cristã, é o germe daquela árvore que crescerá até se tornar a planta maior da horta onde os pássaros virão abrigar-se, mas naquele momento estava incompleta na vida de João: faltava-lhe crescer e ser testemunhada.

A fé cristã, caríssimos cristãos, não pode resumir-se a esse sentimento interior de concordância com umas ideias ou verdades, sentimento que leva as pessoas a dizerem, para se justificarem: “eu não vou à igreja mas cá tenho a minha fé”.

O compêndio da nossa fé, o Credo, é também chamado o Símbolo dos Apóstolos. Porquê Símbolo? O que é um Símbolo? A água é símbolo da vida. No Símbolo encontram-se duas realidades: o significante e o significado. Neste caso, a água é o significante e a Vida é o significado. A água é matéria, vê-se, e a Vida, uma realidade mais vasta, está significada pela água. Como ensina São Paulo na Carta aos Romanos, “com o coração se acredita e com a boca se professa a fé”. A fé cristã, queridos irmãos, só tem valor quando é professada. E, por isso, a importância enorme que tem, para nós cristãos, a profissão de fé feita em público.

Maria Madalena, também movida pelo amor, simboliza para nós, o segundo degrau da fé. Viu o túmulo vazio mas só acreditou quando, depois de ter ouvido a voz dos anjos, ouviu a voz de Jesus que a chamou pelo nome e Se lhe manifestou. E surge, neste momento, a profissão da fé: vi o Senhor!

A fé dos Apóstolos que ouviram o testemunho de Maria Madalena só se consolidou quando, na tarde daquele dia, o Senhor ressuscitado lhes aparece, lhes dá a paz e os envia, cheios do Espírito Santo, a anunciar o perdão dos pecados a todos os povos e nações.

 

A nossa fé, queridos irmãos, é apostólica; é a fé dos Apóstolos. Como eles, primeiro escutámos o anúncio da Boa Nova, pois a fé nasce de escutarmos a Boa notícia, o Evangelho. Todos nós que acreditamos em Jesus ouvimos falar d’Ele e demos crédito ao testemunho de quem no-lo anunciou. Essa fé é, no entanto, apenas o começo. O Senhor Jesus faz-nos crescer e, digamos assim, manifesta-Se àqueles que n’Ele acreditam quando se reúnem em Seu nome, porque é verdade que “onde dois ou três estiverem reunidos em Seu nome, Ele está no meio deles”.

Então, onde poderemos encontrar-nos com Ele? A Comunidade Cristã é o primeiro lugar da manifestação de Cristo Ressuscitado. Por isso a Igreja insiste com os seus filhos para que não faltem, nos domingos, à celebração da Eucaristia. O Senhor ressuscitado manifesta-Se naquela Assembleia reunida, e naquele que em Seu nome preside. Por meio da Palavra de Deus que nos comunica o Espírito Santo, a dureza dos nossos corações abranda, e surge a comunhão fraterna e o amor aos irmãos. Finalmente, no pão e no vinho consagrados, acreditamos que está presente, como alimento espiritual, o próprio Senhor Ressuscitado. E saímos da celebração de rosto transfigurado.

O segundo lugar da manifestação do Senhor Ressuscitado é na Galileia, ou seja, na evangelização. Aí podemos ver o Senhor atuando por meio da nossa pregação. Quantas vezes, tremendo de medo, sem confiarmos em nós próprios, experimentamos a presença do Senhor que move e converte os corações empedernidos. Todos os batizados e batizadas, e não apenas os missionários, os religiosos ou os padres participam deste envio para anunciar o Evangelho, pois todos nós que somos membros vivos do Corpo de Cristo, e herdeiros da Sua missão evangelizadora, participamos da mesma fé apostólica.

 

A fé em Jesus ressuscitado comunica-se pelos testemunhos, como escutávamos na primeira leitura de hoje. O que dizia Pedro? “Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez”. Mas o maior testemunho, que confirma o das palavras, é a forma de vida, como ouvíamos na brevíssima segunda leitura da Carta aos Colossenses: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

O que são as coisas do alto, as coisas do Céu? Tudo o que podemos resumir na expressão “Vida Eterna”: a alegria de estarmos com Deus e de O amarmos acima de tudo, e nesse amor englobarmos a humanidade inteira…

Não esqueçamos, queridos irmãos e irmãs, a nossa condição de batizados e de ressuscitados: vós morrestes para o pecado e a vossa vida presente na terra é uma vida escondida com Cristo em Deus. Como é tudo diferente, caríssimos irmãos, quando nos habituamos a saborear esta vida escondida, a amar este tesouro escondido em nossos corações!

Hoje é dia de Páscoa! Alegremo-nos, irmãos, no Senhor. Vivamos a vida nova de filhos adotivos de Deus que nos criou e nos resgatou do pecado e da morte para vivermos com Ele e O amarmos eternamente no Céu. E demos testemunho do Senhor às nossas famílias e vizinhos, aos que se encontrarem connosco, nestes cinquenta dias da Páscoa.

D. João Marcos, bispo de Beja

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