A Ressurreição de Jesus e o sepulcro vazio
“Depois do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana”, dá-se a ressurreição de Jesus como sendo a vitória final de Deus sobre a morte: os seus inimigos “caem como mortos” (v. 4); o seu aspeto como o de um relâmpago e a túnica branca (v. 3) são a imagem do próprio Deus; o relâmpago é símbolo da vinda do Filho do Homem (cf. Mt 24,27: “Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem”. É o próprio Deus quem revela às mulheres o acontecimento: “Não está aqui, ressuscitou”.
“Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro” (27,61) – elas foram testemunhas do enterro de Jesus, tinham-no visto morrer e ser colocada a pedra à entrada do sepulcro. As duas últimas que O viram morto são as duas primeiras que O veem ressuscitado.
A descoberta do sepulcro vazio foi para os discípulos e, em primeiro lugar para as mulheres, o facto principal, historicamente bem fundamentado, que as pôs no caminho da fé na ressurreição de Jesus.
A aparição do anjo tem apenas a finalidade de as fazer comprovar que o corpo de Jesus já não estava no lugar onde as próprias mulheres O tinham depositado, e daqui tiraram as conclusões: Jesus tinha ressuscitado, como tinha anunciado e tinham de o comunicar aos discípulos.
Jesus aparece às duas Marias e repete-lhes a ordem do anjo: Ide dizer aos discípulos. O afastarem-se cheias de alegria é um sinal da fé, e o temor é o “temor” do contacto com o divino. Pede-lhes (aos discípulos) que partam para a Galileia – lá tinha começado a aventura do Reino e agora dá-se a experiência com o ressuscitado.
A nossa ressurreição
Jesus manifesta-se na Galileia aos Seus discípulos e envia-os a construir o Reino: «Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra: Ide, pois, ensinai todas as nações; batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28, 18-20).
Na experiência pascal é vital sublinhar a palavra “encontro”, porque a experiência da ressurreição não foi uma experiência subjetiva do Mestre desaparecido de entre um grupo de discípulos desvalidos e saudosos. Naquele dia, junto do lago da Galileia (Jo 21,1-14), Jesus foi ao encontro daqueles pescadores. Acontece efetivamente um encontro. Jesus vai pelo caminho, vê aqueles pescadores e aproxima-se deles. A mensagem fundamental que brota deste texto convida-nos a constatar a centralidade de Cristo, vivo e ressuscitado. O Ressuscitado não é fruto da imaginação de alguns, mas é o próprio Jesus terrestre que vive uma realidade e dimensão novas, capazes de ser comprovadas pelos que estiveram com Ele.
A experiência desse encontro real não decorre da nostalgia de ter convivido com uma pessoa extraordinária, nem da reflexão sobre a nobreza da mensagem que essa pessoa teria transmitido aos seus enquanto conviveu com eles. É uma experiência que decorre da certeza de que Jesus está vivo, porque eles, os Doze e mais alguns discípulos, se encontraram realmente com Ele depois da sua morte. Acreditar no Ressuscitado não anulava nada, mas transformava tudo. Esse encontro dissipou-lhes a tristeza, a desconfiança, o derrotismo. É o encontro que os transforma. É uma descoberta que transparece na exclamação de Maria Madalena: «Rabbuni», «meu Mestre». Jesus Cristo não ressuscitou porque cremos nele. Cremos nele porque ressuscitou. Convida a nos encontrarmos com Ele e a que nos vinculemos estreitamente a Ele, porque é a fonte de vida. Ele convida-nos a lançar a rede para o outro lado da barca. Nele encontramos a força para, da morte, recriar a vida. As mulheres foram anunciar aos discípulos: «Vimos o Senhor!» E contaram o que os dois anjos lhes tinham dito. Sejamos também nós capazes de anunciar esta mensagem!
Aveiro, 8 abril 2023
D. António Manuel Moiteiro Ramos, bispo de Aveiro