Homilia do Bispo de Aveiro na Vigília Pascal

Celebrar a Páscoa, ancorados em Cristo e firmes na fé (Col 2,7)

1.Esta é a mais bela e solene Vigília da Liturgia da Igreja. Guiados pela Palavra de Deus, fazemos memória da longa Vigília da salvação da Humanidade desde a criação do Homem até à sua plenitude, atingida na ressurreição de Cristo.

Jesus ressuscitou e oferece uma nova luz para o nosso olhar, uma rocha firme para a nossa fé. A fé é fonte da esperança no amor que nos salva. A morte foi vencida e deixa aberta a porta do futuro, que Deus faz nascer em cada Páscoa.

O pecado é redimido pela justiça purificadora da cruz e da ressurreição e o egoísmo cede o lugar ao amor límpido e regenerador da doação da vida de tantos irmãos e irmãs entregues por inteiro ao serviço da humanidade.

Esta certeza enche-nos de alegria e faz exultar o nosso coração. Dá solidez às nossas convicções e revigora as nossas forças. Eleva o nosso espírito e mostra-nos que  “tudo é possível a quem crê”.

Foi este, irmãos e irmãs, o lema da caminhada quaresmal que queremos prosseguir no tempo pascal com energia redobrada. Por isso, continuamos a seguir os passos de Jesus, agora nas suas aparições aos discípulos.

Estas aparições são encontros exemplares de quem acaba de viver uma tragédia de morte e desilusão, que se transforma em fonte de vida, força de compromisso e raiz de esperança.

Esta é a novidade gerada pelo Senhor ressuscitado no coração daqueles que fizeram a experiência de O ver glorificado.

Também nós, seus discípulos, somos convidados a passar da indiferença e da rotina espiritual ou da indiferença religiosa à aceitação da novidade revigorante da fé, celebrada nos sacramentos e testemunhada na vida familiar, profissional, cultural e social.

Jesus Cristo constitui de facto a origem de uma nova humanidade que, sob o impulso do Espírito Santo, vai germinando sempre que, de forma coerente, adoptamos os seus critérios de vida e de acção.

A fé cristã brota desta certeza inconfundível. Quem a vive, sente e irradia a alegria de ser amado por Deus.

Na Páscoa vamos buscar a força e a alegria para apresentar as razões da esperança que nos animam, assumir uma presença pública activa, conhecer as forças que influenciam os centros de decisão e procurar os meios adequados de intervenção. A Páscoa mantém-nos atentos e acolhedores a quem não crê ou a quem escolheu o caminho da indiferença religiosa ou do agnosticismo militante, fazendo-lhes chegar a mensagem de que cada pessoa encontra a plenitude de humanidade no Evangelho de Jesus Cristo, fonte inesgotável da verdade, do amor, da beleza e do bem.

 

2.A pedagogia do encontro pascal é assumida pela Igreja para iniciar na fé os candidatos à vida cristã e fazer a sua inserção na comunidade pascal.

Temos a alegria de, com a bênção do lume novo do círio pascal e da água límpida e purificadora das nascentes da vida, celebrarmos, nesta solene Vigília Pascal, o baptismo de duas jovens: a Rita e a Vanessa.

Saúdo-vos com particular afecto em nome de toda a Igreja que vos acolhe com alegria.

Pelo baptismo ides identificar-vos com Cristo vivo e ressuscitado, que já conheceis e amais. No diálogo que tive convosco dissestes que o baptismo dará novo sentido à vossa vida e iluminará diariamente o vosso caminho. Esperais receber da Igreja a verdade da vida, a alegria da fé e o acolhimento de irmãos que vos ajudem a crescer na fé.

A Igreja de Aveiro é a vossa Igreja. Aqui deveis crescer na fé, na fidelidade e no compromisso cristão. A nossa fé é também a vossa fé. Sois nossas irmãs em Cristo e membros desta Comunidade diocesana.

 

3.No tempo pascal, que hoje começa, ocorre a visita do Santo Padre a Portugal. É uma feliz coincidência e uma abençoada oportunidade para recebermos o sucessor de Pedro, testemunha corajosa de Jesus ressuscitado.

Bento XVI vem até nós como peregrino e convida-nos a caminharmos com ele na redescoberta da “caridade na verdade”, na sabedoria da fé e na afirmação da esperança, que humaniza as relações humanas e sociais.

O Santo Padre vem como pastor da Igreja universal a confirmar-nos na fidelidade a Jesus Cristo, no amor à Igreja e no serviço a todos os irmãos em humanidade.

Vamos aproveitar esta oportunidade singular para estarmos próximos, acompanhar o seu percurso, rezar com ele e acolher a sua mensagem.

 

4. Ocorre também neste tempo pascal a Semana de Oração pelas vocações consagradas sob o tema: “ O testemunho suscita vocações”.

Compreendeis, irmãos e irmãs, que à luz do mistério da ressurreição e da Páscoa, sinta o dever de convidar toda a Diocese a olhar com o olhar de Cristo ressuscitado para a urgência de novas vocações para a vida sacerdotal, religiosa e missionária.

A nossa Diocese tem realizado várias iniciativas mobilizadoras. A nível de padres, de diáconos, de leigos e de religiosas. A nível de comunidades, serviços pastorais e movimentos apostólicos.

Muitos cristãos vivem um amor crescente pelo nosso Seminário. Há um clima vocacional promissor, sobretudo entre os jovens. A Casa Sacerdotal, qual santuário de gratidão, está a chegar à fase de construção. A hora é de esperança fundada e de alegria confiante.

Nesta hora da vida da Igreja sejamos capazes de nos abrirmos ao dinamismo de purificação e de mudança que em cada Páscoa nasce para sermos Igreja educadora da fé , exemplo de santidade e fundamento de esperança para o mundo.

 

5.Desejo a todos os diocesanos, amados irmãos e irmãs, e a quantos se acolhem neste belo espaço geográfico da diocese de Aveiro ou nos visitam neste tempo ao encontro das suas famílias ou na procura da beleza da nossa terra e do acolhimento afável e cordial das nossas gentes, que possais viver estes acontecimentos festivos com espírito pascal.

Convido-vos a encontrardes a presença de Jesus ressuscitado no sacramento da Eucaristia celebrado e vivido em cada comunidade cristã e também no esforço sincero de quem procura Deus e na coragem cristã de quem O descobriu, vivo e ressuscitado, na manhã vitoriosa da Páscoa.

Que a Senhora da Páscoa, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, nos ilumine neste caminho pascal, guie os nossos passos na firmeza da fé e da fidelidade.

Que Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, cuja vida foi sempre tão próxima do mistério da Cruz e tão unida ao milagre da Páscoa oriente o nosso olhar de serenidade, de confiança e de paz, no horizonte do amor infinito de Deus e do serviço permanente aos nossos irmãos, segundo o belo e oportuno lema da nossa Diocese: «Amar a Deus é servir».

Uma santa e feliz Páscoa. Aleluia! Aleluia!

Sé de Aveiro, 3 de Abril de 2010

+António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top