Homilia do Bispo de Aveiro na Vigília Pascal

Com Cristo, vivo e ressuscitado, somos servidores da vida e da esperança 1.Celebramos nesta noite santa, em Vigília Pascal, a ressurreição do Senhor. Fazemo-lo solenemente como a liturgia da Igreja nos propõe, vivendo esta noite como a mãe de todas as noites e a aurora de novos dias. Coincide este dia, em Aveiro, com a celebração jubilar que nos recorda o dia 11 de Abril de 1759 em que, por carta régia de D. José I, a vila de Aveiro era elevada a cidade. É com júbilo que celebramos a Páscoa do Senhor na nossa Diocese e nos sentimos envolvidos pela alegria da nossa cidade e reconhecidos a todos quantos ao longo da vida e da história de Aveiro edificaram a cidade que hoje somos. Temos connosco dois catecúmenos preparados para receberem hoje o baptismo e os restantes sacramentos da iniciação cristã. Acompanham-nos os seus padrinhos, as suas famílias e aqueles que os preparam por mandato da Igreja e em nome da comunidade. A beleza e a dignidade da liturgia, o significado do lume novo, o cântico do precónio pascal, a bênção da água baptismal, a proclamação da palavra de Deus e o anúncio festivo da ressurreição de Jesus, o Filho de Deus, envolvem-nos num ambiente de alegria, de esperança e de vida. Celebramos a passagem de Cristo da morte para a vida. Jesus venceu a morte e redimiu-nos do pecado. A ressurreição de Cristo é o acontecimento central da nossa fé, testemunhado por quantos O procuraram no sepulcro e viram o túmulo vazio. Jesus Cristo é a cabeça de uma nova humanidade, modelo e paradigma de quanto a comunidade dos crentes tem por missão realizar. Importa, por isso, fazer da Páscoa de Jesus a nossa Páscoa. A comunidade cristã encontra em Cristo, vivo e ressuscitado, a sua razão de ser e o sentido da sua presença viva e vivificante no meio do mundo. 2. Como cristãos somos chamados a ser sinal de Cristo ressuscitado. O tempo pascal é um tempo propício para que este sinal de Cristo vivo seja mais visível no testemunho e na missão dos cristãos e se sinta mais belo na vida e na acção das comunidades cristãs. Ao longo de cinquenta dias de tempo pascal é a Páscoa vivida e celebrada que sobressai e é Cristo ressuscitado que actua significativamente através da vida dos cristãos e da acção pastoral das comunidades. É este um tempo particularmente belo e denso a dizer-nos que todos os dias do cristão e da comunidade devem ser tempo pascal. As comunidades cristãs, paróquias, movimentos apostólicos e serviços pastorais deveriam inscrever no seu íntimo este sentido pascal que nos impele, por Cristo vivo e ressuscitado, a sermos verdadeiros “servidores da vida e da esperança”. Este espírito pascal estende-se também a todos os homens e mulheres de boa vontade que, muitas vezes mesmo sem terem esta consciência crente ou uma afirmada prática cristã, são nas suas vidas e profissões verdadeiros servidores da vida. E tantos eles são, felizmente! A Páscoa, por seu lado, ilumina os caminhos destes servidores da vida transformando o caminho da cruz que conduziu à morte em caminho de luz que nos conduz à vida do ressuscitado. A certeza da ressurreição significada no Círio Pascal, sinal de Cristo, luz do mundo, ilumina de uma luz nova a vida dos discípulos de Jesus e traz-nos a alegria pascal capaz de contagiar os que vivem connosco. Cristo ressuscitou, está vivo! Desta certeza nasce a Páscoa, a maior festa dos cristãos. Somos testemunhas da ressurreição. Reconhecemo-Lo ao partir do pão, como os discípulos de Emaús. Acreditamos sem termos visto, segundo a expressão de Jesus a Tomé. Sustenta-se esta certeza na fé dos discípulos, no testemunho dos que visitaram o sepulcro vazio, na presença de Jesus ressuscitado no meio dos apóstolos e na vida da Igreja, sacramento vivo de Jesus vivo e ressuscitado. A fé pascal dos cristãos é este encontro com Cristo ressuscitado que nos envia a comunicar esta certeza de vida e este sentido de alegria pascal a todos os outros. Da Páscoa parte o imperativo da missão que no Pentecostes irá encontrar novo alento e a necessária fortaleza recebida do Espírito. “Ai de mim se não evangelizar” dizia-nos S. Paulo que recebera esta missão no encontro decisivo com Cristo ressuscitado, no caminho de Damasco. 3. Façamos do tempo pascal uma viagem ao jeito de Paulo que vai ao encontro de novas cidades e de outras pessoas, terras, povos e culturas. O anúncio da Páscoa não se pode fechar nos espaços interiores das nossas igrejas. As festas da catequese, a celebração dos sacramentos mais frequente neste tempo, os momentos intensos de oração, as iniciativas pastorais das comunidades, a semana de oração pelas vocações, o ambiente mariano do mês de Maio, a bênção dos finalistas e tantas outras iniciativas podem ser uma oportunidade de abertura da Igreja ao mundo e de acolhimento fraterno e evangelizador de tantos que a partir destes momentos e por ocasião destas celebrações se aproximam da Igreja e se abrem a Cristo. 4. Confio-vos, caríssimos catecúmenos, uma particular missão neste campo evangelizador. Ides receber o baptismo, o crisma e a eucaristia, sacramentos da iniciação cristã. São, hoje, na nossa Diocese, muitas as crianças que iniciam a catequese sem terem recebido o baptismo e serão certamente cada vez mais aqueles que só na idade adulta batem à porta da Igreja. A catequese e o catecumenato dos adultos devem oferecer espaços de acolhimento fraterno e oportunidade de respostas concretas a quantos pedem o baptismo nestes momentos e às suas famílias que encontram deste modo um momento abençoado de se abrirem a Deus, de conhecerem a vida da comunidade cristã e de orientarem a sua vida pelos valores do Evangelho. A pedagogia da iniciação cristã e o dinamismo da nova evangelização exigem de todos nós uma grande abertura ao Espírito de Deus que nos envia a anunciar o Evangelho em todos os lugares e em todos os tempos. Vós sois exemplo do caminho pascal que devemos percorrer. Contamos convosco para ajudar outros irmãos nossos neste caminho da fé. 5. Neste tempo pascal e nesta data festiva que Aveiro celebra, desejo a todos os aveirenses e a todos os diocesanos uma santa e feliz Páscoa. Penso nos que mais sofrem, magoados pela doença, perturbados pelas provações da vida ou feridos pelas dificuldades próprias de quem não tem trabalho, casa ou pão. Para eles a Páscoa só terá sentido se à certeza da ressurreição de Cristo juntarmos a solicitude solidária e o amor perene dos cristãos. É essa a nossa missão e é esse o nosso dever. Uma santa Páscoa. Aleluia, Aleluia! +António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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Agência ECCLESIA

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