Homilia do bispo de Aveiro na vigília de Pentecostes

1. Estamos nesta Sé Catedral de Aveiro, Igreja Mãe da nossa Diocese, vindos de todos os horizontes da Diocese.  Viemos para rezar. Lembramos o Cenáculo de Jerusalém, onde os apóstolos e Maria, Mãe de Jesus, se reuniram em oração. Está connosco a Diocese neste seu caminhar ao longo desta terceira etapa do nosso Plano Diocesano de Pastoral, que agora se encerra. Unimo-nos à volta do lema: Igreja Diocesana orante é lugar de Esperança.

Sabemo-nos convocados e reunidos em nome do Senhor, nosso Deus e nosso Pai, para escutar a sua Palavra, que em Jesus, seu Filho, se fez Boa Nova para todos os tempos e lugares. Estamos aqui para saborear o dom do Espírito Santo, que habita em nós desde o nosso batismo.

A hora é de vigília da noite a anunciar dias novos de missão, radicada na força do Evangelho e voltada para o mundo a quem somos enviados.

2. Somos Igreja orante. Esta Vigília quer ser disso expressão bela e verdadeira. Sentimos necessidade de rezar. Apercebemo-nos progressivamente da centralidade da oração na nossa vida e na vida das nossas comunidades. Procurámos descobrir na dimensão litúrgica e celebrativa e na religiosidade popular o alimento espiritual para dinamizar a formação cristã, fomentando também o empenho na caridade cristã.

A oração é a alma do culto cristão. É parte constitutiva da vida, da celebração, da festa e do testemunho dos crentes. Na humildade, rezamos pedindo; na esperança, rezamos agradecendo; na alegria, rezamos louvando; nas horas de fragilidade, rezamos implorando perdão; na comunhão de irmãos, rezamos construindo comunidade; no silêncio da contemplação, adoramos Deus fonte de vida.

A oração não nos retira da realidade. Dá-nos uma consciência nova da realidade, vista com plena lucidez, à luz da fé e na perspetiva da salvação.

A Igreja orante é lugar de esperança para o mundo.

Lembro a afirmação de Bento XVI no n.º 32 da encíclica Salvos na Esperança. Diz o Santo Padre: “A oração é o primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança” (Spe Salvi, 32).

Acompanha-me desde janeiro passado aquela inesperada, surpreendente e interpelativa pergunta de uma criança de um Jardim de Infância na nossa diocese, que logo pela manhã quando visitava a sua Escola me dizia: « bispo já rezaste?» E quando lhe devolvi a palavra: «porque me fazes esta pergunta?» Ele respondeu: «porque eu já rezei.»

Nesta resposta simples e singela de uma criança sinto a voz de uma Igreja orante, verdadeiro povo de Deus em oração: sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas; crianças e jovens, famílias por inteiro, aqueles que sofrem pela doença e pelas provações e aqueles que lutam por um mundo melhor.

Tenho encontrado em muitos cristãos uma maior procura de oração e sinto que existe em muitas pessoas, mesmo aparentemente mais distanciadas da fé, uma grande nostalgia de Deus e uma progressiva, ainda que discreta, busca de Deus.

3.Escutamos a Palavra de Deus. Sentimos como Ezequiel que «a mão do Senhor paira sobre nós…e que o Senhor nos conduz pelo seu Espírito…e nos convida a ser profetas». Ezequiel ouviu a palavra imperativa de Deus e «profetizou como o Senhor lhe mandara» e «os ossos ressequidos ganharam carne, … o espírito entrou neles e eles receberam vida, … desta vida ressurgiu um povo com direito a uma terra de liberdade e de esperança…a terra de Israel» (cf Ez.  37, 1-14)).

É deste mesmo Espírito de Deus que fala Joel: «derramarei o meu espírito sobre todo o ser vivo; vossos filhos e filhas profetizarão…e realizarei prodígios no céu e na terra» (cf Joel 3, 1-6  ).

Ezequiel e Joel, profetas, falaram em nome de Deus e o coração e a inteligência do povo de Israel abriram caminho a tempos novos marcados pela esperança.

No texto do Evangelho, S. João, diz-nos que Jesus veio ao encontro dos discípulos. Eles estavam reunidos e ficaram cheios de alegria. E Jesus disse-lhes: «A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo» (cf Jo, 20, 19-23).

4. A Igreja, nascida do Pentecostes, fortalece-se com os dons do Espírito recebidos para a missão. Daí irrompe a força da esperança. Aí vamos, em permanência, aprender a cultivar os frutos do Espírito. Somos chamados a ser luz, a lutar pela liberdade, a repartir o pão da verdade, a anunciar a Boa Nova de Deus, a falar do Amor e a partilhar a vida. Esta é a pedagogia de Jesus e a escola da esperança que o mundo procura na Igreja.

É de bênção e de ação de graças este momento de oração de toda a Igreja diocesana de Aveiro pelo bem realizado e por todos quantos nele se empenham.

Esta Vigília, é também tempo de envio. E por isso é de fé e de confiança esta hora. Acreditamos que o Espírito Santo nos foi dado desde o nosso batismo; acreditamos que o Espírito Santo é a alma da Igreja, a anima e purifica; acreditamos que o Espírito Santo enche a terra inteira e por todos reparte os seus dons; acreditamos que o Espírito Santo é a nossa luz e força e nos dá coragem para a profecia, audácia para crescer em santidade e ousadia renovada e criativa para a missão.

Cumpre-nos continuar o espírito de oração e a educação litúrgica em toda a Diocese, centrando-nos na eucaristia, memorial vivo do mistério pascal, valorizando a vivência dos sacramentos e revitalizando com criatividade outros momentos de oração e oportunidades de formação. O plano diocesano de pastoral litúrgica ajudar-nos-á nesse propósito.

O tempo avança. Uma nova Etapa pastoral centrada na Família vai em breve começar. O Jubileu da nossa Diocese está próximo. Esta Vigília convoca-nos para a oração, fortalece-nos na comunhão e mobiliza-nos para a missão.

5.Que Maria, presente no Cenáculo e sempre atenta e materna companheira do caminho da Igreja, modelo de oração e estrela da esperança, nos abençoe nos nossos propósitos e compromissos de missão e nos ensine a revelar este rosto missionário da Igreja, pleno de beleza, de bondade e de alegria.

Que a proteção de Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, nos inspire este santo e sábio gosto de oração, de que ela nos deixou em Aveiro exemplar testemunho.

Sé de Aveiro, 11 de junho de 2011

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

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