“Bendito seja Deus que nos abençoou em Cristo. E n’Ele nos escolheu” (Ef. 1-4)
1.É com as palavras deste magnífico hino da carta aos Efésios, proclamada na segunda leitura, que saúdo Maria, a eleita de Deus para ser Mãe de Jesus, o Filho de Deus. Por Maria, Deus nos abençoou em Cristo. É com estas mesmas palavras que saúdo a Igreja de Aveiro, nascida deste projeto de Deus, como povo por Ele escolhido para ser bênção divina no itinerário da nossa história humana.
No texto do evangelho de hoje vemos em Maria, a expressão mais bela da humanidade que, apesar da rutura do pecado e da experiência da fragilidade humana, de que nos falava o livro do Génesis (Gén 3, 9-15), se mantém aberta ao mistério de Deus. Nela se concretiza a esperança de Israel e o caminhar daqueles povos que procuram a verdade e sonham com um futuro de dignidade, de justiça e de paz.
Ao mesmo tempo, Maria é a realidade da humanidade enriquecida por Deus, como o provam as palavras da saudação do anjo que proclama: «O Senhor está contigo», «Encontraste graça diante de Deus» (Luc 1, 28-30). Deste ponto de vista, Maria converte-se na figura por excelência do Advento, verdadeiro sinal da presença de Deus no meio dos homens. Ela é a humanidade que ama e espera, que recebe e aceita Deus, acolhe a sua Palavra e se converte em instrumento da sua obra. Assim descobrimos que, na raiz da esperança de uma humanidade aberta a Deus se encontra o princípio da fé pela aceitação de Deus sempre presente e atuante, como se vê na resposta de Maria: «Faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Luc 1,38).
A vida de Maria, a Imaculada Conceição, foi um longo e exigente caminho de fidelidade ao projeto de Deus. Com Maria, a Mãe de Jesus, aprendamos, também nós, a colocar-nos neste caminho singelo de servir o amor de Deus que nos ama e a abrirmos o nosso coração para a missão, multiplicando os dons que de Deus recebemos. O testemunho, o exemplo e a proteção de Maria, a Imaculada Conceição, serão também para a Igreja de Aveiro força e bênção para esta bela caminhada, iniciada há três anos, rumo ao Jubileu.
2.São grandes as incertezas, os desafios, os apelos e as angústias deste tempo e do mundo que somos chamados a servir. Mas é bem maior ainda a força da presença de Deus no seu rosto filial e irmão marcado em cada um de nós e na sua Igreja pelo Espírito Santo. Por tudo isto a nossa forma de amar a Deus em Aveiro, o nosso modo de anunciar o Evangelho de Cristo, o nosso jeito de construir aqui e agora o reino de Deus é servir em Igreja e como Igreja.
Cinco anos depois do início, a partir desta Sé Catedral, Igreja Mãe da Diocese, do meu ministério em Aveiro, e agora ainda mais consciente do amor de Deus por esta sua Igreja e por cada um de nós quero soltar cada vez mais as amarras do coração e abri-lo à existência em Cristo na Igreja. No limiar do Jubileu torna-se mais visível para mim e desejo que o seja para todos que é de bênção a hora que vivemos e que unidos na comunhão e comprometidos na missão, como lembrava o nosso II.º Sínodo diocesano procuraremos cumprir ainda mais neste tempo jubilar o sonho inicial do nosso primeiro Bispo, D. João Evangelista: «Dar à Diocese o sangue próprio das suas veias, os dois pulmões do seu peito por onde respirasse e aquele calor típico que ateasse e conservasse por toda a parte do seu território a alma da mesma Igreja».
É nesta Igreja viva, verdadeira fraternidade de famílias, como nos propomos nesta etapa pastoral da nossa Diocese, decidida a percorrer o caminho da esperança e entrada nos umbrais da porta da fé que o cinquentenário do Concílio e o Jubileu da nossa Diocese nos abrem que nós queremos viver hoje esta Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, colocando no seu coração de Mãe os nossos sonhos e projetos pastorais.
É urgente cultivar entre nós e a partir de nós no coração do mundo a alegria da fé, a força da esperança e a comunhão da caridade. O futuro, que nasce por entre as luzes e sombras do tempo presente, só é possível a partir da força interior do coração humano tocado pelo amor de Deus e decidido a inundar de bondade e de esperança o mundo para que as bem-aventuranças do reino estejam ao alcance de todos por igual.
3.Nesta caminhada de Advento/Natal sentimos que este pulsar novo da Igreja se deve fazer sentir necessariamente na família, que é esperança e dom, centro da vida da Igreja, segundo a bela expressão de João Paulo II, onde vem sentir-se o fluxo da vida humana e social em todas as suas dimensões. Que também as famílias da nossa Diocese aprendam na escola do presépio e a exemplo de Maria, a Senhora do Advento, e se deixem encantar neste Natal e sempre, a partir daí, pelo rosto de Jesus e pela novidade revigorante de Deus.
4. A ordenação de um Diácono, a caminho do presbiterado, celebrada hoje nesta Sé, em dia da Solenidade da Imaculada Conceição, em que alguns de nós revivemos o dia igual da nossa ordenação de presbíteros, constitui mais um sinal visível da bênção de Deus derramada sobre o povo que somos. Uma ordenação é sempre, para a Igreja e para o mundo, uma bênção.
Caro Nuno Queirós: acolhe o dom do ministério de Diácono que vais receber, rumo ao Presbiterado, como um tesouro de graça que te é dado por Deus através da Igreja para o serviço do mundo. Que todos possam ver em ti, em tudo e sempre, a partir de agora, um verdadeiro discípulo de Cristo, que não veio para ser servido mas para servir e em ti possam encontrar um sinal visível da bondade de Deus e do seu amor e um mensageiro feliz do Evangelho do qual deves ser ministro generoso e disponível e não apenas ouvinte esclarecido.
Rezo a Deus para que o nosso testemunho de vida e de ministério e a vivência deste tempo jubilar sejam para ti um exemplo e façam surgir na Igreja de Aveiro dons abundantes de novas vocações sacerdotais. Agradeço à tua Família e a todos os que intervieram no teu percurso formativo, ao nosso Seminário e às paróquias que te acolheram em tempo de estágio pastoral todo o bem que, por eles, Deus em ti realiza.
5. Que Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, a Quem te confio e consagro, seja tua luz na vida e tua bênção no ministério e seja para esta Igreja diocesana, que hoje aqui se reúne e congrega com fé e alegria, o estímulo da nossa esperança e do nosso compromisso para a missão.
Sé de Aveiro, 8 de dezembro de 2011
D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro