Homilia do bispo de Aveiro na Missa Crismal

“Rogai ao Senhor da Messe para que envie operários para a sua messe” (Mt 9, 36-38)

1.O hoje da salvação

No momento em que vamos entrar na celebração solene da Páscoa, a Missa Crismal convida-nos a colocarmo-nos diante de Cristo, Senhor, Aquele que era, que é e que vem.

A nossa fé cristã nasce da graça pela qual Deus nos faz conhecer o testemunho apostólico sobre Jesus de Nazaré, a sua vida, a sua missão recebida do Pai, por amor da humanidade, e por fim a sua ressurreição.

Esta é a grande graça apostólica que nós devemos à Igreja, ela é a fonte da nossa alegria e a nossa fortaleza. Ela é a nossa esperança. Ela é a causa da nossa perseverança e da nossa constância através dos acontecimentos do mundo.

O «hoje» da Sinagoga de Nazaré que Jesus assumiu para si, interpretando o texto de Isaías, é também o hoje da Páscoa e do Pentecostes. É o hoje da Igreja. Este «hoje» de Jesus não é uma história do passado é o hoje da história. É este dia que vivemos. É o agora e o aqui da vida da Igreja.

Cada ano, a celebração da Missa Crismal na manhã desta Quinta-Feira Santa nos convoca e reúne para animar e fortalecer o espírito de comunhão e o caminho pastoral de cada Igreja particular.

Caminho percorrido e a percorrer, como Igreja orante, lugar de esperança para o mundo, firmando os nossos passos e afirmando a nossa fé, centrados na Páscoa do Senhor e orientados ao longo do tempo pascal, que agora começa, para o Pentecostes, onde concluiremos esta etapa para continuarmos de seguida o caminho como Igreja diocesana, fraternidade de famílias, de olhos postos no Jubileu da nossa Diocese.

2.Somos portadores da esperança

A Missa Crismal revela aos nossos olhos a beleza de todo o Povo de Deus, povo consagrado e reino de sacerdotes, na variedade dos seus dons, na diversidade dos seus ministérios e na raiz comum do batismo. Isso convida-nos a reavivar o vigor dos sentimentos que inspiraram e inspiram a nossa entrega ao Senhor, aprofundando e voltando a saborear a beleza do gesto da nossa resposta à vocação a seguir Cristo de perto.

 A liturgia de hoje recorda-nos, ao mesmo tempo, a nós sacerdotes que vivemos em estreita relação com todo o povo de batizados, porque somos cristãos com eles, como ressalta Santo Agostinho, e que além disso fomos constituídos em benefício de todo o povo de Deus. E isto compromete-nos a seguir Cristo mais de perto e com maior fidelidade. Com a nossa fidelidade aos compromissos sacerdotais e com o gosto de vivermos plenamente a beleza do nosso ministério, no seguimento de Cristo, alegremente dedicados ao serviço dos outros, podemos sustentar os nossos irmãos na fidelidade aos seus deveres humanos, familiares, profissionais e cristãos.

A bênção e a consagração dos Santos Óleos fala-nos desta dimensão sacramental da Igreja que nos comunica a graça pascal de Cristo e nos inicia na vida da comunidade cristã. Através destes óleos, a graça divina fluirá nas almas, como portadora de luz, de sustento e de força. Batizados, crismados e ordenados, catecúmenos ou doentes, os óleos santos conformam-nos com Cristo que salvou o mundo.

Nesta Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, os santos óleos estão no centro da ação litúrgica. São consagrados na Catedral para o ano inteiro. Assim, exprimem também a unidade da Igreja e aludem a Cristo, o verdadeiro «pastor e guarda das nossas almas», como o chama S. Pedro (cf 1 Ped 2, 25). Em quatro sacramentos, o óleo é sinal da bondade de Deus que nos toca: no Batismo, na Confirmação, no sacramento da Ordem e na Unção dos Enfermos.

A Missa Crismal, na qual o óleo nos é apresentado como linguagem da criação de Deus, fala-nos particularmente a nós sacerdotes. Fala-nos de Cristo que Deus ungiu como Rei e Sacerdote; d’Ele que nos torna participantes do seu sacerdócio, da sua unção, na nossa ordenação sacerdotal. O óleo consagrado é sempre sinal da misericórdia de Deus. Por isso, a unção para o sacerdote significa sempre a missão de levar a misericórdia de Deus aos homens. «Na lâmpada da nossa vida não devia faltar nunca o óleo da misericórdia e o óleo da alegria» ( Bento XVI, Missa Crismal 2010). 

3. “Todos tinham os olhos fixos n’Ele” ( Luc 4, 20)

Por seu lado, a Igreja pede-nos a nós sacerdotes que renovemos as nossas promessas sacerdotais, que nos recordam o dia em que fomos constituídos pastores da Igreja ao serviço dos nossos irmãos. Somos convidados a ter presente aquela bela exortação de Paulo ao discípulo Timóteo: «Reaviva o dom de Deus que recebeste» ( 2 Tim. 1, 6). É este dom que dá sentido às nossas vidas. Convido-vos, irmãos sacerdotes, a que sintamos como dirigida a nós aquela palavra do Evangelho de Lucas, referida a Jesus: «Todos tinham os olhos fixos nele» ( Luc 4, 20). Com alegria e vontade determinada, queremos renovar a nossa fidelidade sacerdotal e desejamos perseverar com coerência e dedicação no serviço pastoral dos ministros de Cristo.

Vejo nesse olhar das comunidades cristãs e do mundo que nos rodeia, nestes tempos difíceis que vivemos, o desejo de ver na Igreja o sinal de esperança que procuram naqueles que a servem e o testemunho vivo de Jesus Cristo a convidar-nos a firmar os nossos passos no que é verdadeiramente essencial.

Todos devemos muito aos Seminários que nos formaram, às famílias donde vimos, às comunidades que nos acompanharam no decurso do tempo, mas aprendemos diariamente imenso com a nossa vivência pessoal e com o clima de pertença e de cordialidade às equipas sacerdotais em que estamos inseridos assim como à fraternidade sacerdotal experimentada com todo o presbitério.

Aprendemos a ser pastores no exercício do próprio ministério, mas também e muito a partir da nossa fraternidade presbiteral. A fraternidade presbiteral é uma exigência da caridade pastoral. E a caridade pastoral alimenta-se do nosso encontro com Cristo, da nossa entrega ao ministério, porque é um amor cujo destinatário imediato é a comunidade eclesial. Por seu lado a comunidade que servimos constitui outro elemento fundamental da nossa espiritualidade. Sabemo-nos discípulos e missionários para que as nossas comunidades tenham vida.

4. “Colaboradores da vossa alegria” (2 Cor 1, 24)

Esta é também a hora para o vosso bispo vos dizer todo o seu renovado afeto. Ao longo do ano encontramo-nos, rezamos, partilhamos alegrias, experiências, preocupações e projetos. Vivemos conjuntamente decisões, planos e programas de vida sacerdotal e de ação pastoral. Louvo o Senhor, nosso Deus pela dedicação e constância com que assumis a vossa missão, em tempos exigentes, em circunstâncias muitas vezes complexas, em esforço acrescido, dado o nosso reduzido número diante de uma comunidade que cresce demograficamente e que aumenta em apelo à nossa presença e à necessidade do nosso ministério e na procura da formação cristã de que carece.

Os tempos que vivemos são simultaneamente exigentes e apaixonantes, na preciosa tarefa de anunciar o Evangelho. A nossa alegria de ser padre é elemento essencial da evangelização nos nossos dias e é um dos melhores estímulos da pastoral vocacional. Dou graças a Deus pelo dom de um novo sacerdote concedido à Igreja de Aveiro, o Padre José Carlos da Silva Lopes, que pela primeira vez participa nesta Missa Crismal, como presbítero, e a quem devo uma inexcedível e dedicada colaboração na minha missão. Acolhemos com alegria no nosso presbitério a que sempre pertenceu o Padre Pedro José Correia Lopes, trazendo-nos o desafio e o vigor de uma longa e bela experiência missionária. Agradeço a generosa colaboração que desde o início deste ano pastoral nos dão o Padre José António Carneiro, o Padre Arnaldo Lopes e o Padre Leonardo Pawlak, assim como os novos membros da Comunidade dos Padres Dehonianos, Padre José Armando da Silva e Padre Armando Baptista e saúdo Monsenhor João Antão, que agora regressa à sua terra natal, depois de 50 anos ao serviço dos emigrantes nos Estados Unidos da América.

Este é também o dia jubilar em que a Igreja diocesana saúda com fraterna alegria os Padres João Paulo Marques Sarabando e José Armando Vieira da Silva, que neste ano celebram 25 anos de ordenação, e o Padre Mário Nunes e Mons. Virgílio Resende, que celebram 50 anos. Louvamos o Senhor pela sua vida, ministério e generosa doação.

Pensamos com particular carinho nos sacerdotes e diáconos doentes e nos familiares que os acompanham. Que eles sintam que estão presentes no nosso coração e que estamos decididos a cuidar deles e a viver com eles numa proximidade fraterna. A futura Casa Sacerdotal tem essa missão.

Recordamos todos com permanente saudade e gratidão os Padres Manuel Ribau Lopes Lé e Manuel João dos Santos Cartaxo, o Diácono Daniel Rodrigues e D. Júlio Tavares Rebimbas, a quem o Senhor chamou ao longo do último ano.

5.Propor as vocações na Igreja local

Saúdo-vos, caríssimos seminaristas, e dou graças a Deus pelo bom trabalho realizado pelo nosso Pré-Seminário e Seminário ao longo de todo o percurso de formação. A vossa presença aqui diz-nos do vosso desejo de avançardes no caminho que vos conduz ao sacerdócio e a alegria, comunhão e testemunho que encontrais em nós sacerdotes são certamente para todos vós um estímulo e uma bênção. A próxima instituição de ministérios a quatro de entre vós, no dia 1 de maio, nesta Sé, é um sinal importante do caminho que queremos prosseguir e a vivência da Semana das Vocações de 8 a 15 de maio, que tem por tema: «propor as vocações na Igreja local», tem também este sentido de tudo fazermos nas nossas comunidades cristãs para que surjam jovens generosos que se decidam a seguir o Senhor na vida sacerdotal.

Aos diáconos permanentes, quero dizer a minha amizade e reconhecimento pelo dom que vós constituís nesta Igreja de Aveiro a quem servis e quero agradecer às vossas esposas e famílias a colaboração que vos dão na disponibilidade que o ministério vos exige.

Aos consagrados e consagradas assim como a todos vós, irmãos e irmãs na fé, afirmo a minha comunhão na graça de Deus que age em vós e a esperança que em vós deposita a nossa Igreja, mercê da vossa decisão e do vosso empenhamento apostólico de viverdes no seguimento de Cristo.

Que a Virgem Mãe de Jesus e Mãe da Igreja e Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, nos abençoem, iluminem e protejam neste nosso caminho de alegria, generosidade e doação, e que o Papa João Paulo II, que vai ser proximamente beatificado e que nos deu tão belo exemplo de vida sacerdotal, nos ajude com a sua intercessão.

Sé de Aveiro, 21 de abril de 2011

D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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