1. A Palavra de Deus é impressionantemente interpeladora, surpreendente e oportuna. A primeira leitura do profeta Isaías tem apenas dois versículos, retirados do IV Canto dos Poemas do Servo de Javé.Foram várias as tentativas de explicação e de identificação deste texto. O judaísmo alexandrino viu nele o povo de Israel sofrendo as tribulações da diáspora, mas exaltado pela esperança da libertação; o judaísmo palestino via na glorificação do Servo sofredor o futuro Messias; em Qumrã o texto de Isaías era aplicado ao Mestre da Justiça; a interpretação cristã é unânime em reconhecer Jesus neste Servo sofredor.
2. Este texto situa-se numa perfeita articulação com o Evangelho de hoje: “o Filho do homem veio para servir e não para ser servido” (Mac 10, 45). Tiago e João estavam mais preocupados com o lugar do que com a missão; mais inquietos com o prestígio e com a importância do que com o serviço a desenvolver e com o trabalho a realizar. A falta de discernimento no pedir não anulara, porém, nestes discípulos a coragem manifestada para beberem do cálice de salvação e a determinação assumida para participarem na paixão redentora de Jesus.
Ser discípulo de Cristo ocupa-nos por inteiro e não deve deixar lugar para preocupações com o acidental. O prémio e o mérito não se devem antecipar. Merecem-se. Não se exigem. Ao medo inicial dos discípulos sucede a ambição. Quando o que mais importa e deve ocupar, preocupar e preencher por inteiro a vida dos discípulos é a missão.
3. Esta missão começa por ser um convite a “permanecer firme na profissão da fé e a partir cheios de confiança para o trono da graça” (Hebreus, 4, 14-16). A missão desafia-nos, segundo a mensagem do Santo Padre para este Dia mundial das Missões a “reavivar a consciência do mandato missionário de Cristo a fim de fazer que todos os povos se tornem seus discípulos.
O objectivo da missão consiste em iluminar com a luz do Evangelho todos os povos. A Igreja não age para ampliar o seu poder ou reforçar o seu domínio mas para levar a luz de Cristo, Salvador do mundo, a todos os povos do mundo e a todas as nações da terra. O compromisso de anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo é um serviço prestado à comunidade cristã e à humanidade. Anunciar o Evangelho é para nós um compromisso urgente e inadiável. É uma missão de testemunho e de serviço.
Serve-nos de âncora, de guia e de farol na nossa acção missionária a Virgem Maria, estrela da Evangelização, que deu ao mundo Cristo, luz das nações.
4. O compromisso urgente e inadiável de anunciar o Evangelho traz-nos palavras que fazem ressoar na nossa mente o início da encíclica de João Paulo II, Redemptoris Missio: “uma visão de conjunto da humanidade mostra que a missão de Cristo está ainda bem longe do seu pleno cumprimento, está ainda no seu começo e devemos empenhar-nos com todas as forças ao seu serviço.
Neste sentido, a missão constitui um movimento para o futuro. O Espírito gera esperança no futuro e volta-nos para a terra e para o mundo, entendidos como chão sagrado, como casa de todos, como aldeia global, como cenáculo preparado para receber o Espírito em manhã de Pentecostes, como praça comum onde as pessoas se encontrem e o Evangelho se anuncie.
5. Os apóstolos, primeiros missionários, preocuparam-se em percorrer as cidades conhecidas de então e aí anunciaram o Evangelho. Os missionários de todos os séculos e nos tempos mais recentes, igualmente discípulos e apóstolos de Jesus, preocuparam-se em percorrer os novos continentes e com igual encanto e generosidade anunciaram a Boa Nova do reino, construíram templos, rasgaram horizontes de justiça e de paz e promoveram condições dignas para um viver humano como irmãos que somos.
Hoje, como discípulos e missionários, somos enviados a percorrer o coração e a vida das pessoas, das instituições e das culturas, muitas vezes sem sair das nossas terras. Aqui também é terra prometida e terra de missão, que queremos tornar cada vez mais uma terra evangelizada e evangelizadora.
6. O Movimento de Schoënstatt é um movimento de sacerdotes, consagrados (as) e leigos (as) da Igreja Católica em ordem à renovação do mundo. Possui como carisma fundador e como finalidade pedagógica e apostólica a formação de um homem novo, redimido por Jesus Cristo e construtor de uma nova e bela sociedade (schoënstatt).
É um movimento trazido pela mão de Nossa Senhora que se propõe formar em cada um de nós esta pessoa nova, segundo a imagem de Maria, colaboradora de Cristo, seu Filho, na obra da redenção. É um movimento surgido a 18 de Outubro de 1914, a partir de uma pessoa: o Padre José Kentenich nascido na Alemanha em 18 de Novembro de 1885 e ordenado sacerdote em 1909.
O movimento de Schoënstatt está presente em Aveiro, a partir deste Santuário da Gafanha da Nazaré, através da presença dos Padres do Instituto Secular de Schoënstatt e das Irmãs de Maria e daqui irradia com grande dinamismo e entusiasmo por toda a Diocese.
Nesta peregrinação ao Santuário diocesano de Schoënstatt queremos celebrar o jubileu dos 50 anos da presença do carisma e da espiritualidade schoënstattianos em Portugal e agradecer a todos quantos ao longo deste tempo tudo fizeram para valorizar este Santuário como um percurso mariano, eucarístico e vocacional de tantos peregrinos. Neste local aprazível, situado no coração da colónia agrícola, entre a ria e o mar, ergue-se este espaço sagrado transformado em santuário onde Deus se adora e louva, onde a bênção terna de Maria, Mãe Admirável, se acolhe e agradece e onde as pessoas diariamente reencontram no silêncio da oração e da adoração eucarística a tranquilidade e a paz.
7. Em pleno mês do Rosário e neste Dia mundial das Missões imploramos de Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe, bênção e protecção para caminharmos como homens novos e construtores de uma sociedade bela, justa e fraterna.
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro