1.Alegremo-nos pela graça de vivermos mais uma Noite de Natal, a celebrar a alegria do Nascimento do Salvador.
Deixemo-nos surpreender, com os pastores, pela visita do Anjo que lhes apareceu e lhes deu a notícia, dizendo: anuncio-vos uma grande alegria, que o é também para todo o Povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. E, por estranho que nos pareça, o sinal que o anjo lhes dá para identificar o Salvador é este – encontrareis um Menino, envolta em panos e deitado numa manjedoira. E a estranheza é mesmo que Deus não quer fazer diferença do que se passa com todas as crianças e a novidade está em que Ele quer assumir a nossa condição humana por inteiro, sem qualquer reserva.
2.Como os pastores, também nós corremos hoje ao encontro desse Menino e queremos deixar-nos revestir dos sentimentos da Sua Mãe Maria Santíssima e de S. José, que o contemplam maravilhados e sem compreender por completo o que se está a passar, mas guardando todo acontecimento e as reações dos pastores como depois dos magos vindos do oriente, em seu coração.
Jesus nasce numa gruta onde também costumavam pernoitar os pastores, misturando-se assim com gente simples, humilde e pobre, por não haver para Ele lugar nas hospedarias da cidade.
É, de facto, nesta pobreza e simplicidade que se manifesta a graça de Deus, como nos lembra a carta de S. Paulo a Tito.
E pela graça que se revela neste Menino somos, de facto, arrebatados às trevas deste mundo, aos desejos mundanos, como diz a mesma carta, para vivermos a esperança do mundo novo que Ele próprio inaugurou.
Como nos explica o Profeta, num mundo que andava em trevas, começou a brilhar uma luz. Hoje sabemos que essa luz é o Menino de Belém, Jesus Cristo, o Filho Único de Deus. Na sua simplicidade e pobreza, Ele é o Deus forte, o Príncipe da Paz, o Conselheiro Admirável, que veio para destruir todos os instrumentos de guerra e convidar-nos para sermos sempre construtores da verdadeira paz.
3. No seu habitual discurso à Cúria Romana sobre a Mensagem do Natal, o Papa, este ano, convida para sermos todos construtores daquela paz que este Menino veio trazer ao mundo e quer continuar a promover em todas as situações.
E lembra também que os caminhos da paz começam no coração e na vida de cada pessoa, de cada um de nós. Começam na vontade decidida de recusar toda a violência verbal ou abuso de poder, de recusar todas as formas de maledicência e difamação que corrompem as relações e levam ao confronto entre pessoas, grupos de pessoas e depois entre nações e blocos de nações. E, por isso, reconhecemos que a guerra na Europa, que está a destruir e a fazer sofrer tantas pessoas e famílias e a todos nos está a dificultar a vida, resulta do facto de o mundo não entender e recusar as propostas de vida que o Menino de Belém a todos faz.
Na verdade, a humildade do Filho de Deus que decididamente entrou na nossa condição humana pela porta do silêncio e da pobreza é para todos nós um convite para sabermos usar e nunca a absolutizar os bens materiais que temos. E precisamos de os saber usar com contenção, pensando cada um em si próprio e também nos outros, os que hoje vivemos e os que virão ocupar o nosso lugar nos tempos futuros.
Desta forma o Presépio de Belém faz apelo à nossa conversão pessoal e também das nossas comunidades para abandonarmos as obras das trevas, como são a impiedade, o orgulho e mesmo a arrogância e revestirmo-nos cada vez mais dos sentimentos de Jesus, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza.
De facto, a lição do Presépio convida-nos à conversão a fim de darmos cada vez mais qualidade às nossas relações de cooperação uns com os outros. E daí a importância da proposta de caminho sinodal que nos continua a ser feita sobretudo para otimizarmos essas relações.
A verdadeira conversão implica-nos também na procura de novas linguagens que o mundo de hoje seja capaz de entender para chegar ao conhecimento da mensagem do Evangelho. Isto sem que o mesmo Evangelho possa perder a sua novidade e a sua surpresa, como foi surpresa para os pastores o anúncio do Anjo.
Claro que a verdadeira conversão exige vigilância em relação ao mal que teima em se meter sempre connosco e quantas vezes se apresenta com cores muito sedutoras. O Papa fala, a propósito, na sua mensagem natalícia á Cúria Romana, de “demónios educados” que não fazem barulho e se apresentam com flores.
4. Diante do Menino de Belém, nesta Noite de Natal, queremos fazer oração especial:
Por todas as vítimas da violência e da guerra, sobretudo as que estão a resultar do confronto armado na Europa entre a Rússia e Ucrânia; pelos que sofrem e vivem cheios de medo para que Deus os proteja e fortaleça.
Rezamos pelos líderes mundiais, sobretudo os políticos, para que saibam abrir caminhos de justiça e reconciliação e tenham a coragem de reconhecer e fazer compreender que os confrontos da guerra não resolvem problemas humanos, mas antes sempre os agravam;
Rezamos pelos líderes da Igreja para que, com discernimento, determinação e coragem, saibam transmitir ao mundo de hoje a genuína Mensagem do Evangelho, sempre com palavras e atitudes de verdade e de justiça;
Rezamos por todos os que se empenham na luta contra a violência e sobretudo os que por isso são perseguidos para que encontrem na graça e no amor de Deus a consolação, o apoio e a segurança de que precisam.
Rezamos por todos nós e nossas famílias para que o exemplo do Menino de Belém faça de todos nós sinal vivo da novidade que Ele veio trazer ao Mundo.
Nesta Noite de Natal, com sentimentos de gratidão, de conversão e de paz desejamos que a lição de Belém seja vivida por todos nós, nossas famílias e comunidades e assim o mundo possa compreender os novos caminhos que lhe podem trazer o bem por todos desejado.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda