Homilia do Arcebispo de Évora nda Missa Crismal

A celebração da Missa Crismal, na qual se consagra o Santo Crisma e são benzidos os óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos, é uma das celebrações litúrgicas onde melhor se exprime, de forma visível, a comunhão sacramental que deve existir entre todos os membros do presbitério, eleitos por Deus para constituírem uma unidade coesa entre si e com o bispo, que é “fundamento da unidade da Diocese” (LG 23). Todos os sacerdotes são convidados a participar nesta celebração. A sua presença física sublinha a ideia de unidade colegial e de comunhão sinodal. A renovação das promessas sacerdotais ilustra o sentido profundo da vocação e do ministério presbiteral. O dom que cada um recebeu pela imposição das mãos do bispo tem que ser reavivado permanentemente pela adesão da vontade, pela oração confiante e pelo exercício do ministério, em comunhão com os outros membros do presbitério. Com efeito, nenhum de nós actua isoladamente, pois somos membros do único Corpo de Cristo que é a Igreja. E todos estamos ao serviço desse Corpo como “servos da comunhão eclesial”. Mas, para servirmos a comunhão eclesial, temos que ser antes construtores da comunhão presbiteral: comunhão dos presbíteros entre si e dos presbíteros com o bispo. Pois não é possível estar ao serviço da comunhão na comunidade cristã sem exercitar continuamente a arte da comunhão no presbitério. E como podemos nós exercitar essa arte de comunhão? Antes de mais, inspirando-nos no mistério da comunhão trinitária. É na Trindade que se fundamenta o mistério da comunhão eclesial que nos há-de levar a dar visibilidade, pelo próprio modo de viver, a expressões concretas de comunhão com os outros membros do presbitério, acolhendo-os e amando-os não apenas por motivações humanas de ordem psicológica ou sentimental, mas com base na luz da fé e com desejo sincero de cumprir a vontade de Deus (Mc 3,35), que tem muito mais valor e exerce mais força do que os laços familiares. Cada um de nós pode exercitar a arte da comunhão eclesial e presbiteral considerando os “outros como um dom para nós”, esforçando-nos por descobrir o seu lado positivo, concedendo-lhes o espaço necessário à sua realização pessoal e fazendo o que está ao nosso alcance para os conhecer melhor e para os ajudar a serem felizes, escutando-os, consultando-os e caminhando com eles. O exercício da comunhão eclesial e presbiteral exige atitudes de vigilância. Pois ninguém, nem mesmo aqueles que foram eleitos por Deus para serem “servos da comunhão eclesial” estão isentos de tentações. E são muitas as tentações que podem insinuar-se na vida dos presbíteros. A tentação do individualismo, da ostentação e do isolamento auto-suficiente que podem levar à incapacitação para a comunhão presbiteral. A tentação do autoritarismo para a qual S. Pedro nos adverte na sua primeira carta (5,3), com palavras sábias e inspiradas: não exerçais o poder “como donos daqueles que vos foram confiados, mas como modelos do rebanho”. A tentação da demissão que leva à negligência, por preguiça ou por medo de desagradar. Não é aos homens que temos de agradar mas sim a Deus. Por essa dificuldade também S. Paulo passou, mas ele soube vencê-la. Ouçamos o que escreveu aos cristãos da Galácia (1,10): “porventura procuro aprovação dos homens? Se eu procurasse agradar aos homens não seria servo de Cristo”. Como ele, também nós, se queremos ser servos de Cristo, não podemos reger-nos por critérios humanos. O nosso ideal não pode ser agradar aos homens mas estar ao serviço dos homens nossos irmãos e, de modo especial, estar ao serviço daqueles que são membros do mesmo presbitério. A natureza sinodal da Igreja, que servimos ministerialmente, desafia-nos a que caminhemos juntos na história para o reino, se queremos viver a comunhão em autenticidade. A sinodalidade da Igreja vive-se caminhando juntos, em atitude de entreajuda franca e sincera: os fiéis com os presbíteros, os presbíteros com os presbíteros, os presbíteros com o bispo, o bispo diocesano com o bispo de Roma. Dar as mãos, abrir os corações, partilhar as responsabilidades e viver a lei evangélica do amor, tal como Jesus Cristo no-la deixou, será sem dúvida o grande sinal de credibilidade que nós os presbíteros podemos dar aos cristãos e a todos os homens e mulheres do nosso tempo. Como seria consolador se os fiéis das nossas comunidades reconhecessem na vida fraterna dos presbíteros um modelo de vida evangélica e fossem levados a dizer o que se dizia dos primeiros cristãos: Vede como eles se amam! Caros presbíteros, como verdadeiro colégio presbiteral, esforçai-vos por realizar toda a vossa actividade pastoral em verdadeira atitude sinodal. E vós, estimados fiéis, iluminados pela fé, colaborai generosamente com os presbíteros, para que o Reino de Deus aconteça nas vossas paróquias. +José, Arcebispo de Évora

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