Homilia do arcebispo de Évora na Vigília Pascal

Foto: Arquidiocese de Évora

Revmos. Senhores Cónegos, e demais Padres, Estimados Diáconos e Catequistas, caros Cristãos e Catecúmenos Eleitos.

1. Nesta Noite Santa, mãe de todas as auroras, onde a escuridão dá lugar ao brilho, a escuridão à libertação, a tristeza à alegria, o pecado à glória, a morte à vida, o silêncio ao aleluia, somos convidados a saborear o valor da Vida, sobretudo, quando esta Vida é Nova, porque espiritual e capaz de dar sentido pleno à vida nas suas várias dimensões.

O Catecismo da Igreja Católica apresenta a verdade da Ressurreição de Jesus a partir de uma perspetiva doutrinária e afirmativa (artigo 5, parágrafo: “no terceiro dia Ele ressuscitou dos mortos, nn. 639 -655, dentro do 2º capítulo, “creio em Jesus Cristo, Filho único de Deus”). O Papa convida-nos, porém, a irmos mais além e aborda, de um ponto de vista existencial e catequético, iluminando a partir da Ressurreição de Cristo, toda a vida dos cristãos e dando sentido às fontes da nossa tradição: o batismo como nova vida em Cristo, os símbolos usados na Vigília Pascal e também respostas às perguntas como por exemplo, “que significa ressuscitar? Ou o que é a vida nova ou viver em Cristo?

2. Com a Ressurreição do Senhor Jesus no terceiro dia, todas as Escrituras fazem sentido, como Ele mesmo explicou aos discípulos de Emaús ( cf. Lc. 24, 13-34); o acontecimento da Cruz assume todo o seu significado; a teologia do domingo assume o seu significado pleno: “O domingo, o primeiro dia da semana, sabemos que se apoia diretamente na forma cronológica do Novo Testamento que foi recebida no credo da Igreja: ‘ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras’ (1Cor. 15,4). A tradição primitiva tomou nota do terceiro dia e assim preservou a memória do túmulo vazio e das aparições do Ressuscitado. Ao mesmo tempo lembra – e, portanto, acrescenta ‘segundo as Escrituras’- que o terceiro dia era o dia anunciado pelas Escrituras, ou seja, pelo Antigo Testamento, «para este evento básico da história mundial, ou, mais precisamente, não da história mundial, mas da saída dela, da saída da história da morte e mortalidade, e o início e o nascimento de uma nova vida», como comenta (J. Ratzinger, Bento XVI na sua obra – Un canto nuevo para el Senhor, 76-77).

O mistério da ressurreição, mostra assim que Jesus Cristo é a luz que ilumina todos os homens; e, do mesmo modo, todo o cristão é chamado a ser reflexo dessa luz para os outros, pois, como diz um conhecido escritor medieval, “Não existe o corpo sem a cabeça, nem a cabeça sem o corpo; nem Cristo total, cabeça e corpo, sem Deus” (Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella, leitura Patrística da Liturgia das Horas, sexta-feira V da Páscoa). Ou, com a força da poesia de um autor contemporâneo; “Filhos de Deus. Portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor em que nunca se poderão dar escuridões, penumbras ou sombras. O Senhor serve-se de nós como tochas, para que essa luz ilumine … De nós depende que muitos não permaneçam nas trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna” (São José maria Escrivá, Forja n. 1).

Que o Aleluia, hoje, proclamado seja a certeza da nossa esperança, Jesus Cristo Ressuscitado, Nossa Esperança! Ele vem connosco e nós vamos com Ele: «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt. 28, 20): «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá» (Jo. 11,25).

Eis o sentido para o Salmo 22, cantado no Domingo de Ramos «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» e da nossa derradeira oferta apresentada pelos evangelistas «Pai, em Vossas mãos entrego o Meu Espírito»

Brota desta reflexão que não é só estática e retórica: chega a mim a Vida Nova, ou seja, celebramos não só aquilo em que acreditamos ou já fizemos o verdadeiro encontro com o Cristo Ressuscitado, o Cristo todo, cabeça da Igreja? Na ressuscitação de Lázaro, Jesus ordenou: «retirai a pedra» (Jo 11, 39), na madrugada de Páscoa, Maria Madalena, Pedro e João, encontram a pedra removida. Na Simbólica Patrística, a Pedra é tudo o que nos separa de Deus e sinal de separação entre nós e a Vida Nova.

Rolemos com a nossa liberdade, a pedra que nos separa de Deus e experimentemos a luz libertadora da Páscoa.

Para todos Santa passagem, do vazio escuro à vida Iluminada pela Páscoa!

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

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