Homilia do arcebispo de Évora na Vigília Pascal

HOMILIA SOLENE VIGÍLIA PASCAL

Catedral de Évora, em 8 de abril de 2023

. Reverendíssimos Senhores Cónegos, e demais Sacerdotes
. Caros Diáconos
. Estimados Seminaristas
. Meus irmãos e minhas irmãs,
. Uma saudação muito amiga, nesta noite de Vigília Pascal, para todos vós
com votos de Santas Festas Pascais na alegria do Senhor Ressuscitado!
. Uma saudação muito particular à Comunidade Cristã de São Brás desta
nossa cidade de Évora, que vê, nesta noite santa, a sua comunidade
aumentada com estas duas catecúmenas que, nesta celebração, irão
receber os Sacramentos da Iniciação Cristã.

1. Eis o grande pregão desta noite; o feliz anúncio que ecoa neste
templo e que ressoa por toda a terra: «Não está aqui!» (Lc 24, 6). Esta é a
«proto-notícia» da Ressurreição, dada pelos «proto-mensageiros» da
Ressurreição. Jesus não está aqui, ou seja, não está ali, no lugar da morte.
Ele agora está aqui, nesta grande, extensa e intensa liturgia. Está no Lume
Novo, pois: Ele é o Lume sempre novo; está na Liturgia da Palavra, pois é
Ele que fala ao ser proclamada na Igreja a Sagrada Escritura; está na
Liturgia Batismal, que iremos celebrar dentro de momentos, pois quando
alguém batiza é Cristo que batiza; está na Liturgia Eucarística, fonte e
cume da vida cristã; está presente hoje, aqui, na Igreja que reza e canta,
pois Ele prometeu «Onde estiverem dois ou três reunidos, em meu nome,
Eu estou no meio deles». É, por isso, que «angelus», que se traduz por
anjo, significa mensageiro. Nós somos, pois, anjos da ressurreição,
mensageiros contínuos e sem desfalecer da Ressurreição.
A Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, é também a mãe de todos os
mensageiros. Como dizia São João Paulo II, «nós somos o povo da Páscoa
e o Aleluia é o nosso cântico». Cantamos o Aleluia com os lábios para
nunca deixar de cantar o «aleluia» com a vida.

2. É na Páscoa que começa a vida cristã. Por isso, o Batismo é um
sacramento eminentemente pascal. E quem começa a viver em Páscoa
não pode parar, tem de percorrer a vida com Cristo até ao fim,
conduzindo-se pela sua Palavra, fortalecendo-se no dom do Espírito Santo,
que continuamente nos unge pelo Óleo do Crisma, pelo Sacramento da
Confirmação e alimentando-se no Pão da Eucaristia.
Se as trevas podem descer durante o dia, também o sol pode brilhar
durante a noite. Foi o que aconteceu nesta noite, há dois mil anos: «A

meia-noite, um clarão de sol penetrou nas trevas e todos os recantos do
Hades tornaram-se luminosos». É, pois, tempo de olhar novamente para
esse «clarão de sol» e de nunca deixar de escutar o «ide por todo o
mundo anunciar o Evangelho» (Mc 16, 15).

3. Jesus está sempre connosco (cf. Mt 28, 20). Os nossos problemas
começam quando não estamos com Jesus. De fora continuarão a vir
interpelações. Mas é de dentro que, não raramente, emergem os maiores
obstáculos. Identificá-los torna-se uma prioridade. E removê-los desponta
como um imperativo. Não esqueçamos jamais que a essência do
Cristianismo — como recorda Bento XVI — «é uma história de amor entre
Deus e os homens».
É esse amor que foi selado na Cruz e «explodiu» — imparavelmente —
na manhã da Ressurreição. É, por isso, que a Igreja deve acender um
sorriso no rosto, ainda que se veja dilacerada por torrentes de pranto. A
Igreja não é o sol. Mas é chamada a aquecer os que a vida faz arrefecer
com o desamparo e a injustiça. Apesar de tudo, é possível ver a Primavera
a despontar na Casa de Deus.
Afinal, todas as coisas se podem alterar. «Sim, até o pecado», como
comentava Santo Agostinho. Deixemos, então, que Cristo Se forme em
nós (cf. Gál 4, 19). O que equivale a dizer que também é urgente que nós
nos (trans)formemos em Cristo. O objectivo é que — adverte o Mestre
Eckhart — «nos revistamos da forma de Cristo». De tal modo que «em nós
se encontre um reflexo de todas as obras de Jesus e do Seu ser e operar».
Não nos enterremos na noite. Também na bruma pode irromper a
luz… Paulo lembra que «a virtude se aperfeiçoa na fraqueza» (2Cor 12, 9).
Deus não desiste de nós. Deus não é movido por nada «a não ser pela Sua

própria bondade». Daí que a nossa prioridade tenha de ser cuidar dos que
foram feridos. É pela «porta das feridas» (Tomás Halík) que Jesus
Ressuscitado Se revela (cf. Jo 20, 27). Foi por essa «porta das feridas» que
Tomé voltou da incredulidade à fé (cf. Jo 20, 28). Só as «feridas» de Cristo
curarão as feridas de tantos (cf. Is 53, 5; 1Ped 2, 24), de todos nós afinal!
Nunca digamos, pois, «Cristo viveu». Digamos e proclamemos sempre
«Cristo está vivo», connosco. Ele é sempre o Emanuel! Com o Papa
Francisco, também nós dizemos: «CRISTO VIVE!, ALELUIA, ALELUIA».
Vivamos com Ele, Aleluia! Aleluia!

+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora

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