Por iniciativa do Clube Renascença, viemos hoje ao Solar da Padroeira de Portugal, invocar a protecção da Virgem Maria para a Rádio Renascença que, ao longo de setenta e três anos, se tem afirmado como uma presença cristã na comunicação social e na cultura portuguesa, por mérito profissional dos seus dirigentes e trabalhadores e graças ao apoio constante dos radiouvintes, que tem possibilitado acalmar as vagas alterosas do mar e suportar os rigores da travessia do deserto. Por feliz coincidência, a nossa reunião acontece quando está prestes a completar-se um ano após a canonização de S. Nuno de Santa Maria (26.4.2009), defensor da Pátria, fundador deste Santuário Nacional e grande devoto da Imaculada Conceição.
É com alegria que o dizemos: a Rádio Renascença continua a ter a preferência dos portugueses, tanto em território nacional como no estrangeiro e mantém-se como líder de audiência. Fiel ao seu estatuto editorial, tem sabido aliar a qualidade artística à qualidade dos conteúdos. A sua programação define-se por um equilíbrio saudável entre o entretenimento, a cultura, os valores humanos e a dimensão espiritual e religiosa, elementos essenciais à vida saudável. A alegria, a sensatez e o optimismo, alimentados pela esperança cristã, são ingredientes que a tornam atraente sem ser vulgar, aberta e interactiva sem perder a sua linha de rumo civilizacional e evangelizadora.
A sua história está recheada de dificuldades, que nunca foram impedimento para deixar de seguir o ideal traçado pelos fundadores, homens de grande fé, em cujo íntimo sempre ecoaram as palavras que hoje ouvimos na leitura do Apocalipse e que ao longo da História da Salvação foram dirigidas àqueles a quem eram confiadas missões especiais: não tenhas receio. Estas palavras não são um simples incentivo para despertar a coragem. São antes uma garantia dada por Aquele que chama, envia, promete auxílio e a si próprio se define como o Primeiro e o Último, Aquele que vive para sempre. Foi essa voz do eterno Vivente que ouviu João, no meio das tribulações a que tinha sido submetido na ilha de Patmos. A voz daquele que, depois de ressuscitar, apareceu aos Apóstolos para reacender neles a alegria e lhes restituir a paz, ao mesmo tempo que lhes concedeu a força do Espírito Santo e os enviou a anunciar o Evangelho da salvação e o perdão dos pecados.
Os Apóstolos, depois de receberem a força do alto, partiram a anunciar a Boa Nova da Ressurreição de Jesus Cristo a toda a parte, começando por Jerusalém, como ouvimos na leitura dos Actos dos Apóstolos. Desde o início, não lhe faltaram opositores. Mas nada nem ninguém os fazia recuar. E porquê? Seria porque se mantinham unidos pelos mesmos sentimentos, o povo os enaltecia e aumentava cada vez mais o número dos que aderiam à fé? Sem dúvida que todas essas circunstâncias seriam incentivadoras mas não suficientes para explicar semelhante determinação. O que certamente os movia era a força do Espírito Santo, que lhes recordou as palavras de Jesus que continuavam a ecoar nos seus ouvidos: não tenhais medo, Eu venci o mundo e Eu estarei sempre convosco.
Viram Jesus ressuscitado, Tomé tocou nas Suas chagas e todos acreditaram nele e nas palavras que Ele lhes dissera. Por isso começaram a dar testemunho da sua fé em toda a parte, com os meios que tinham ao seu alcance. Eles eram poucos, dispunham de fracos recursos e como foi extraordinária a sua acção evangelizadora! Hoje somos muitos, dispomos de recursos e de meios muitíssimo superiores e, no entanto, a evangelização perdeu vigor e dinamismo. Até poderíamos desculpar-nos com o facto de não termos visto Jesus ressuscitado como eles. Porém, Jesus, não disse que a felicidade estava em tê-lo visto ressuscitado mas em ter acreditado. E se eles se consideravam felizes por terem acreditado depois de O terem visto, ainda são mais felizes os que acreditam sem terem visto, como disse Jesus.
Nós pertencemos ao número dos que não viram Jesus ressuscitado e acreditamos na Ressurreição. Por isso devemos considerar-nos felizes. Mas eu pergunto: será que nos consideramos felizes por termos acreditado na ressurreição de Jesus? Se de facto é assim, então deveríamos comunicar sempre, em toda a parte, por todos os meios e a toda a gente, com efusiva alegria, a felicidade imensa de sentir a presença de Cristo ressuscitado ao nosso lado, na nossa vida e na vida da comunidade cristã.
É essa a missão que foi confiada a cada um de nós e a todas as instituições eclesiais, usando todos os meios disponíveis. Entre eles, sobressai a rádio, que continua a ser um dos meios de comunicação mais poderosos, postos ao alcance da humanidade. Através dela a Boa Nova do Evangelho pode chegar a todos os recantos do globo terrestre. Por isso, as estações de rádio, como as do Grupo Ranascença, merecem o apoio de todos quantos se sentem de alguma forma comprometidos com a expansão da Boa Nova. Pois, hoje como ontem, são reais os obstáculos que surgem no caminho mas também é real a força que vem do alto e nos faz acreditar na presença de Cristo Ressuscitado, que continua a dizer-nos: não tenhais medo, Eu venci o mundo.
Santuário Nacional de Vila Viçosa, 11 de Abril de 2010
+José, Arcebispo de Évora