Aleluia! Alegria!
Aleluia é uma palavra que resume toda a oração de louvor: louvai a Deus. Esta aclamação litúrgica une-nos ao povo judaico e à grande tradição da fé cristã do Oriente e do Ocidente, encontrando-se já nos Salmos e especialmente no livro do Apocalipse.
Aleluia identifica-se com alegria. Na Liturgia assume uma relevância como aclamação antes do Evangelho.
Esta solene proclamação é também vivida por muitas famílias ao abrirem a porta da sua casa à Visita pascal ou compasso pascal, cum Passo com o crucificado ressuscitado. A tão bela tradição entende-se como prolongamento da alegre notícia da Ressurreição do Senhor, anunciada na celebração do mistério pascal.
O texto do Evangelho de João coloca-nos em movimento, a caminho com Pedro. Ele foi ao sepulcro impelido pelas palavras de Maria Madalena. Pedro e o discípulo que Jesus amava correm ao sepulcro e verificam os sinais. Precisamos de correr rápido atraídos por Cristo vivo na Eucaristia, na oração pessoal, familiar e comunitária, nas boas práticas do bem, da justiça e da paz.
Pedro permanece na dúvida, enquanto o discípulo predileto acredita «viu e acreditou». No entanto, o texto conclui que ainda não estavam preparados para a revelação pascal, «porque ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos». Por conseguinte, as Escrituras são apresentadas como o critério hermenêutico para acolher e entender na fé o acontecimento da ressurreição de Cristo.
O assombro pelo mistério pascal
Lembra o Papa Francisco: «se viesse a faltar o assombro pelo mistério pascal que se torna presente no concreto dos sinais sacramentais, poderíamos verdadeiramente correr o risco de ser impermeáveis ao oceano da graça que inunda cada celebração».
Hoje, na Sequência pascal escutámos: «a morte e a vida travaram um admirável combate: depois de morto, vive e reina o Autor da vida. (…) Ressuscitou Cristo, minha esperança: precederá os seus discípulos na Galileia. Sabemos e acreditamos: Cristo ressuscitou dos mortos».
O maior perigo que a Igreja pode correr na evangelização, na celebração e na diaconia da caridade é querer viver como se Cristo não estivesse vivo e ressuscitado. Ele, Bom Samaritano, continua a gerar e a acompanhar a Sua Igreja.
Juntos, em processo sinodal dinâmico, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense: alegria contagiante, escuta acolhedora, portas abertas, mãe que busca os seus filhos, centrada no Evangelho, discípula missionária, formação permanente, comunhão pastoral.
Povo pascal em caminho
O conceito Povo de Deus foi o escolhido pelo Concílio Vaticano II para dizer o sentido da Igreja. Na verdade, a Igreja nasceu da Páscoa, pode chamar-se Povo pascal em caminho. Esta é a base da sinodalidade na Igreja.
A Páscoa convoca-nos a conversão permanente.
«Deus, Páscoa de páscoas, Deus da nossa noite do coração, do deserto que nos paralisa, sem visões de água ou rumores de gente ou história, dá-nos a coragem de avançarmos pela água dentro porque vais à frente do nosso medo e a profecia que visa a justiça nos precede» (J. A. Mourão).
Eis-nos no ponto alto de configuração com a cruz: o mistério pascal de Jesus Cristo.
Vivida a graça quaresmal, exultamos com a glória e a paz que o Ressuscitado nos concede pelo seu Espírito, para darmos frutos abundantes.
O Ressuscitado continua ferido nos crucificados de hoje, nomeadamente nas pessoas: doentes, reclusas, vítimas de todo o tipo de violência, migrantes, com deficiência, e naquelas que andam à procura do sentido da vida e outras que desistiram de procurar.
Cristo vive e quer-te vivo!
Corramos todos juntos numa Igreja sinodal samaritana abraçando os caminhos da Missão do Evangelho da Esperança.
Alegremo-nos. Cristo ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Alegria!
D. José Manuel Cordeiro, arcebispo de Braga