Batismo, primeiro encontro com a Páscoa
O primeiro encontro com a Páscoa é o acontecimento do Batismo. Hoje, 9 nossos irmãos e irmãs, jovens e adultos celebram a sua iniciação cristã na Igreja. Recorda o Papa Francisco: «Não é uma adesão mental ao pensamento de Cristo ou a subscrição de um código de comportamento imposto por Ele: é o imergir-se na sua paixão, morte, ressurreição e ascensão».
A oração da bênção da água batismal revela-nos este comovente acontecimento de salvação e como Deus criou a água em vista do Batismo: «Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça do vosso Filho Unigénito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Batismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo. Desça sobre esta água, Senhor, por vosso Filho, a virtude do Espírito Santo, para que todos, sepultados com Cristo na sua morte pelo Batismo, com Ele ressuscitem para a vida».
A água do Batismo, observa Santo Agostinho, «toca o corpo e purifica o coração». A água, só por si, não dá a vida, mas a água, transformada por Cristo, salva e dá a vida. Com um autor do séc. II, podemos, com efeito, afirmar: «felizes daqueles que, pondo toda a sua esperança na cruz, desceram à água do Batismo». Com efeito, a fé mergulha no dom da água que dá a vida.
Ninguém nasce cristão, torna-se cristão pelo Batismo, a fonte de todas as vocações. O percurso iniciático, o catecumenado, de âmbito catequético-litúrgico e moral destina-se não apenas a fazer o cristão, mas a própria Igreja. A insistência do caracter sacramental da Iniciação quer sublinhar a iniciativa divina gratuita de Deus. A evangelização exige o tempo da maturação na fé no tempo a que se chama catecumenado. «Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiante» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium 35).
O encontro com Jesus Cristo é para todos: crianças da primeira infância, crianças da infância, adolescentes, jovens, adultos. Na verdade, os cristãos são ou devem ser assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações (cf. At 2,42).
O banho regenerador do Batismo exprime a fé na eficácia do seu rito, num movimento antitético vetus-novus (=velho-novo), de passagem da morte à vida. Na água batismal entra o homem pecador e dela sai o homem justificado, isto é, acontece a sepultura do homem velho do pecado na morte de Cristo e a recriação do homem novo na pessoa de Cristo ressuscitado, in novitate vitae (cf. Rm 6,3-11; cf. Ef 2,15). A novidade e o nascimento são obra do Espírito que se realiza na Iniciação Cristã, inaugurando-se, por meio do sacramento do Batismo, uma vida nova em Cristo configurada ao seu mistério pascal.
Ressuscitou
A pastoral atual na nossa Arquidiocese é ainda muito marcada pelo modelo de cristandade, apresentando muita dificuldade, e às vezes, muita resistência para assumir uma reviravolta missionária. Esta conversão pessoal, pastoral e missionária é claramente proposta pelo Papa Francisco: «sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação» (Evangelii Gaudium 27).
Algumas ações da escuta da Palavra, de lectio divina, de celebração litúrgica, de adoração eucarística, de caridade, de formação permanente paroquial, da Unidade Pastoral, do Arciprestado e da Arquidiocese têm contribuído muito para esta consciência de pertença a Cristo e à Igreja e ao novo paradigma pastoral da corresponsabilidade eclesial.
Precisamos de Paróquias e Unidades Pastorais, no sentido de comunidade de comunidades, onde as pessoas, os grupos, as relações humanas e os espaços de comunicação sejam mais importantes que as estruturas, a organização e os serviços. Na realidade, «Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre “nova”» (Evangelii Gaudium 11).
Luz Pascal
O rito do acendite é uma caraterística do costume bracarense. Por três vezes se acende e se apaga o círio pascal. A luz vem da boca do dragão que tem três velas, simbolizando a Santíssima Trindade.
O simbolismo da luz e das trevas, uma beleza litúrgica e espiritual, remete-nos imediatamente para a centralidade do mistério pascal: Jesus Cristo é a Luz do mundo.
A noite mais clara que o dia, que é a Páscoa, é uma liturgia cósmica onde os elementos sensíveis: do fogo, da luz, da água, participam na vida nova dos crucificados ressuscitados de todos os tempos.
D. José Manuel Cordeiro, arcebispo de Braga