Diácono Johony Freirei Loureiro ordenado na Sé por D. António Francsico dos Santos “É fiel Aquele que te chama. Ele realizará as suas promessas” (1Tes. 5,24). 1.Celebra hoje a Igreja em Portugal a conclusão da Semana Nacional das Migrações, centrada este ano nos jovens migrantes. Pede a Igreja aos jovens migrantes, situados na fronteira de várias culturas, que sejam protagonistas da esperança cristã, para que a fraternidade humana possa ter aí o seu berço e a justiça social as suas raízes. Num tempo de crescente globalização, importa acreditar que os jovens migrantes cristãos querem e devem ser protagonistas da esperança vivida e proclamada nos caminhos difíceis da solidariedade, da justiça e da paz! Os conflitos de fronteiras entre os povos, as vicissitudes de autonomias inconsolidadas, as dificuldades sentidas no respeito pela diferença, o desinteresse manifestado face ao sofrimento alheio, a insensibilidade diante da pobreza, da dor e da exclusão são desafios incessantes a um urgente protagonismo da esperança e a um tempo de profecia evangélica. É este o tempo de Deus para nós e o nosso tempo para Ele. É este o tempo da humanidade e da profecia que nos é dado viver; o tempo do sonho humano e do desígnio providente de Deus. 2. Pela voz de Isaías descobrimos que este é o tempo do convite amoroso de Deus à humanidade para que esta se transforme em povo de Deus, um povo que ame a Deus e O celebre no monte santo de Sião, monte da aliança, do direito e da justiça. “ A minha casa será casa de oração para todos os povos”, diz o Senhor, Deus de Israel. Pela voz de Paulo, na Carta aos Romanos, vemos abrirem-se os horizontes da fé à universalidade dos povos, rompendo as estreitas e teimosamente resistentes barreiras do judaísmo. A acção misericordiosa de Deus e o testemunho corajoso e coerente da fé dos gentios abrirão as portas à conversão dos judeus, diz-nos Paulo. Vinte séculos depois continua necessária esta palavra, útil esta pedagogia e urgente este caminho. São, também hoje, muitas vezes os estrangeiros, as novas terras recentemente evangelizadas e os novos movimentos e carismas a abrir campos imensos ao Evangelho, no coração dos antigos povos e culturas. Agiganta-se, neste contexto, o testemunho exemplar da mulher cananeia de que nos fala o Evangelho: “Mulher é grande a tua fé”, diz-lhe Jesus. (Mt.15,28). Quem não vê no exemplo extraordinário desta mulher, simples e estrangeira, o rosto e a alma de tantos doentes e familiares de doentes, magoados pela dor mas nunca vencidos pelo desânimo. Ela afirma que só Deus basta e por isso a Ele recorre, dizendo-Lhe que se conforta com as migalhas caídas da mesa onde o pão é abundante e onde a esperança se reparte? A voz da cananeia é um grito de alma, é um testemunho de fé e é um exemplo de vida. Este texto do Evangelho diz-nos com vibrante clareza que a Igreja deve dar voz, espaço e tempo ao estrangeiro, ao pobre e ao que sofre. Assim se revela fiel continuadora da missão de Jesus. Assim aprende e ensina a pedagogia do Evangelho. Instruída pelo seu Mestre e Fundador, a Igreja só pode ser assim: acolhedora, solícita, fraterna, capaz de repartir a fé, o pão, a saúde e o bem. O doente, o que sofre, o estrangeiro ou o emigrante é meu irmão; é minha irmã. Diante de Deus, a origem, a cultura, a saúde, a perfeição do corpo, o fulgor da inteligência ou mesmo a antiguidade na fé não são razão de qualquer privilégio. Na cruz e pela cruz de Cristo todos fomos igualmente salvos e redimidos. 3.Este mesmo espírito evangélico, esta igual urgência profética e este genuíno e original carisma fundador definem, animam e orientam a Associação Internacional dos Silenciosos Operários da Cruz. Devemos ao Espírito Santo, alma e vida da Igreja, e a Monsenhor Luigi Novarese, sacerdote italiano, nascido em 1911 e falecido em 1984, este dom e esta bênção que hoje se faz vocação e missão de muitos irmãos e irmãs em vários países do mundo. Na linha do Vaticano II e da mensagem das Aparições de Nossa Senhora em Lourdes e em Fátima, o carisma dos Silenciosos Operários da Cruz deseja ser âncora apostólica da Igreja no mundo complexo do sofrimento. Inspira-se este carisma na bela passagem evangélica de S. Lucas que nos fala dos discípulos de Emaús. Aí se nos revela como se pode descobrir e viver a alegria da missão a partir do encontro com o Ressuscitado. Diante desta descoberta e desta presença já não há lugar para o desânimo, para o medo, para a dor. A partir da Páscoa não há cruz que não encontre silenciosos operários, nem sofrimento onde não surjam voluntários e corajosos cireneus. É à luz desta chave de leitura e pela força desta âncora cristã, nascidas do acontecimento pascal, que podemos compreender, aceitar e viver o mistério do sofrimento e da cruz. 4. É esta, também, a missão dos discípulos de Jesus, herdeiros da Páscoa e mensageiros da alegria do encontro com o Ressuscitado. Por isso nos recorda o Pontifical Romano, no Rito de Ordenação dos presbíteros: “ lembrai-vos de que fostes assumidos de entre os homens e postos ao serviço dos homens nas coisas que são de Deus. Realizai, pois, com verdadeira caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote, não procurando os vossos interesses, mas sim os de Jesus Cristo”, vivo e ressuscitado. É esta a tua vocação e a tua missão, caríssimo diácono Johony Freire Loureiro. Nascido na Venezuela, numa família emigrante, regressaste com teus pais à sua terra de origem. Aqui cresceste e acolheste o dom da vocação. Já no Seminário diocesano percebeste que Deus te chamava a uma vida de radicalidade diferente através de uma especial consagração ao serviço dos doentes, como membro dos Silenciosos Operários da Cruz. Daqui partiste para Roma, com a certeza de que era esse o teu caminho, acompanhado pela oração e pelo testemunho da Igreja de Aveiro que em ti renova e fortalece a alegria desta abertura missionária à diversidade dos carismas e à universalidade da missão. Hoje aqui regressas para, no chão sagrado desta Sé e na terra abençoada das tuas origens, receberes o sacramento da Ordem no grau de presbítero. A Igreja de Aveiro estará sempre contigo, louvando o Senhor pela tua generosidade e rezando pela tua fidelidade. Esta é uma hora de alegria e de esperança para a Igreja e por isso mesmo para todos nós. Esta é uma hora de acção de graças a Deus e de gratidão aos teus pais e familiares, ao teu pároco e à comunidade cristã de S. Pedro da Palhaça, às Escolas e aos Seminários, à tua Família de consagração e de vida apostólica e a todos quantos te acompanharam nesta tão bela e promissora caminhada. A vida e a missão da Igreja e a construção e o futuro de um mundo diferente e melhor precisam de novos operários. Precisam de ti. É necessário partir já. Deus te precederá sempre no caminho. 5. Que Nossa Senhora, a Mãe sempre presente, te abençoe, guie e proteja, dando-te a alegria da fidelidade e a coragem sempre necessária para a missão. Ámen. +António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro