S. Ex. o Presidente Mahmoud Abbas
S.Ex. o Ministro Jordano dos Negócios Estrangeiros, representando Sua Majestade o Rei Abdallah II,
Meus irmãos Bispos,
Suas Excelências os embaixadores e os cônsules,
Padres, Irmãos e irmãs,
Queridos peregrinos
Saúdo-vos da Basílica da Natividade em Belém, a poucos passos da Santa Gruta onde a Virgem Maria deu à luz o seu admirável Filho. Saúdo todos os telespectadores e especialmente os fiéis da diáspora.
Celebramos a noite de Natal que nos trouxe a Boa Nova da salvação; a noite que realiza e anuncia outras noites célebres como a da criação, a noite de Quinta-Feira Santa e a que precedeu a Ressurreição do Senhor. E nesta noite é anunciada a aurora de uma nova era para a humanidade.
Nós ficamos maravilhados com a identidade única desta criança admirável.
Por um lado, ele parece-se com crianças da sua idade, com as nossas próprias crianças, que nós amamos e vemos crescer, amadurecer e aumentar em conhecimento e bondade. Nasceu pobre, viveu pobremente e escolheu livremente não se atribuir privilégios. Sentiu o cansaço, o sofrimento, o frio, a fome, a sede, o medo, a perseguição, a fuga e, mais tarde a morte e o sacrifício dele próprio: porque ele quis ser um verdadeiro “filho do homem” partilhando com todos nós os nossos sofrimentos e as nossas esperanças, feliz por ser um entre nós, aceitando a atenção e os gestos de ternura maternal de sua Mãe, contentando-se com o que a Virgem Maria e S. José lhe davam como alimento ou vestuário.
Por outro lado, ele não é como as outras crianças. Nasceu de uma mãe virgem. É o Verbo de Deus e Filho do Pai. O seu nome anunciado pelas profecias messiânicas foi Emanuel ou “Deus connosco”. Nos nossos ouvidos ressoam ainda as palavras de Isaías: ”Uma criança nasceu, um filho é-nos dado (…); chamar-lhe-ão Admirável Conselheiro, Deus poderoso, Pai eterno, Príncipe da paz” (Is 9,5-6)
Detenhamo-nos em seguida nas razões da Encarnação. Ele nasceu para os pobres, os oprimidos e os que sofrem, assim como para os simples, os homens correntes que não perderam a esperança em Deus: ele veio para os transgressores e os pecadores. Ele quis dar ao homem a sua humanidade, e ao pecador a sua bondade e a sua inocência, assim como a imagem de Deus deformada pelo pecado. Ele quis interiorizar os preceitos e as leis, fazendo da religião não uma série de dictats, mas a expressão do amor para com Deus. Em vez do amor da Lei ele proclamou a lei do Amor: “Amai-vos uns aos outros!” Eis o sonho desta criança: que todos os serem humanos sejam irmãos porque têm um só Deus e Senhor, que é o Pai universal que tem compaixão por todos e se preocupa com todos! Ele veio reconciliar o céu de onde provinha com a terra que o acolheu! Ele veio reconciliar o pecador com o seu Criador e o homem consigo mesmo e com o seu irmão; ele veio transformar os inimigos em amigos. Por isso Isaías previu os tempos messiânicos. “O lobo viverá com o cordeiro, a pantera deitar-se-á ao lado do cabrito. O bebé brincará na toca da víbora. (Is 11, 6-8a). Trata-se de símbolos de universalidade e de reconciliação onde a justiça e a paz serão a parte de todos os seres humanos. O anúncio do Anjo aos pastores de Belém constitui essa realização: “Anuncio-vos a boa nova….Hoje nasceu-vos um salvador que é o Cristo Senhor…” (Lc 2, 10-11).
Nós, os fiéis das religiões monoteístas, estamos de acordo no facto de que as divisões dos homens são obra do demónio, enquanto a reconciliação é obra de Deus. Deste lugar santo, convido os políticos e os homens de boa vontade a trabalharem com afinco num projecto de paz e de reconciliação que inclua Israel e a Palestina e este Médio Oriente tão martirizado. Rezemos a Deus com fervor pelos nossos irmãos, na Síria, que morrem sem apelo nem agravo! Rezemos pelo povo egípcio que luta pelo entendimento, a liberdade a igualdade! Rezemos pela unidade e reconciliação no Líbano, no Iraque, no Sudão, por todo os outros países da região e do resto do mundo. Rezemos pela prosperidade e a estabilidade na Jordânia.
Queridos irmãos e irmãs,
A festa está de volta este ano, quando muitos de vós sofrem por uma razão ou outra. Milhares de jovens esperam impacientemente, nas prisões, o retomar da sua liberdade. Famílias separadas esperam uma permissão para se reunirem sob o mesmo tecto. Vós sofreis com uma ocupação que não acabou. Gaza e o sul de Israel acabam de sair de uma guerra cujas consequências são ainda mais visíveis no terreno e nos espíritos. A nossa oração abarca todas as famílias, árabes ou judias, que o conflito atingiu. Que o Senhor lhes dê a serenidade, o conforto e consolação, e que a sociedade lhes proporcione assistência e apoio.
Esta noite, temos necessidade de um momento de silêncio e oração. Olhemos o Menino de Maria e escutemo-lo: “Felizes os mansos pois possuirão a terra; felizes os artesãos da paz pois serão chamados filhos de Deus, felizes os que têm fome e sede porque serão saciados.” (Mt 5)
Senhor Presidente Abbas, vós com Sua Majestade o rei Abdallah, estais na primeira linha dos que trabalham para a paz, para a não-violência e para a justiça! Que o senhor vos proteja e vos assista. Nós apreciamos os vossos esforços e as vossas posições corajosas quer a nível regional ou internacional! Obrigado por continuarem a lutar por uma causa justa que é a da paz e segurança para todos os povos da Terra Santa!
Os vossos esforços deram como fruto o reconhecimento pelas Nações Unidas da Palestina como Estado “observador” não membro. Este reconhecimento deve ser um passo decisivo para a paz e a segurança de todos nós. Somente a justiça e a paz na Terra Santa podem restabelecer o equilíbrio regional e mundial!
Oh! Menino de Belém, que conheceste com a tua mãe e o teu pai adoptivo a pobreza e o exílio no Egipto, fugindo à crueldade de Herodes, liberta-nos de todos os tiranos deste século e faz de nós um santuário onde renoves constantemente o teu nascimento, a fim de sermos testemunhas do teu Amor!
E tu, Maria, nossa Mãe, que prodigalizaste as tuas atenções maternais ao teu Divino Filho, protege todas as crianças do mundo de todo o mal e coloca nos seus corações as sementes da fé, da esperança e da bondade.
Queridos irmãos e irmãs, desejo-vos um feliz Natal, e o dom da paz que o Senhor prometeu a todos “os homens de boa vontade”. (Lc 2,14). Amen!
Patriarca Latino de Jerusalém, D. Fouad Twal