Homilia de D. Nuno Almeida na Missa Crismal

Foto Diocese de Bragança-Miranda

MISSA CRISMAL 2025
Catedral de Bragança, 17.04.2025

Caríssimos Irmãos: D. António Montes, Senhor Vigário-geral, Presbíteros, Diáconos, Religiosas, Seminaristas, e todos vós cristãs e cristãos Leigos!

A todos saúdo! Saudação especial para os padres aniversariantes. Neste ano, com alegria e esperança, recordamos os oitenta anos de ordenação sacerdotal do Padre António Fernando Rodrigues; os cinquenta anos de ordenação sacerdotal do Monsenhor Adelino Fernando Paes; e os vinte cinco anos de ordenação Sacerdotal do Padre José Carlos Patrão e do Padre Pedro Armando Samões. Queremos ainda assinalar e felicitar-nos pelo centenário do Padre José Telmo Ferraz.

 

1.A solene Liturgia da Missa Crismal, mostra bem o sentido pleno da Igreja que peregrina neste território do Nordeste Transmontano, celebrando aqui na Catedral o dom da Graça dos sacramentos, especialmente do sacerdócio. Na verdade, com a bênção do azeite para os Catecúmenos e dos Enfermos e a consagração da mistura do azeite e perfume do Crisma, para a Confirmação, a Ordenação dos Presbíteros e dos Bispos e da dedicação da igreja e do altar e com a renovação das promessas sacerdotais cantamos com toda a alma a gratidão do dom da Graça, como a Virgem Santa Maria.

 

2.O escritor russo Leão Tolstoi descreve numa pequena narração acerca de um rei que pediu aos seus sacerdotes e sábios que lhe mostrassem Deus para que o pudesse ver. Os sábios não foram capazes de satisfazer este desejo. Então um simples pastor, que estava a regressar do campo, ofereceu-se para assumir a tarefa dos sacerdotes e dos sábios. Explicou ao rei que os seus olhos não eram suficientes para ver a Deus. Mas então ele quis pelo menos saber o que fazia Deus. “Para poder responder a essa pergunta – disse o pastor ao soberano- devemos trocar de roupa”. Com hesitação, mas estimulado pela curiosidade e pela informação esperada, o soberano anuiu; entregou a sua roupa real ao pastor e fez-se vestir com o hábito simples de um pobre homem. E eis que chega a resposta: “É isto que Deus faz”. De facto, o Filho de Deus- verdadeiro Deus e verdadeiro homem- deixou o seu esplendor divino: “despojou-se de si mesmo, assumindo a condição de servo … humilhou-se a si mesmo até à morte de cruz” (cf. Fl 2, 6 ss).

Cristo vestiu as nossas vestes: o sofrimento e a alegria de ser homem, a fome, a sede, o cansaço, as desilusões e as esperanças, o receio da morte, todas as nossas angústias até à morte. E deu-nos as suas “vestes” no batismo e na ordenação sacerdotal, revestindo-nos do homem novo. Faz connosco uma maravilhosa “permuta de vestes”, uma nova comunhão existencial: revestidos de Cristo para agirmos “in persona Christi”.

 

3.O mais importante na vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. Por isso, é decisivo que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como centro vital da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar, juntos e unidos, para crescermos sinodalmente na santidade; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos em cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo facto de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo.

Porque a missão de Cristo é unir todos ao Pai e entre si, a nossa missão é ligar todos a Jesus Cristo e entre si. Somos chamados a uma doação total a Cristo e aos irmãos. Descentrados de nós mesmos procuremos ser discípulos felizes, fiéis, fiáveis e missionários!

 

4.Cada um de nós pode dizer: O Espírito do Senhor está sobre mim. E não é presunção, é realidade, já que cada cristão, e de modo particular cada sacerdote, pode fazer suas as palavras que se lhe seguem: “porque o Senhor me consagrou com a unção” (Is 61, 1). Irmãos, sem mérito nosso, por pura graça, recebemos uma unção que nos fez pais e pastores no Povo santo de Deus.

O sacerdote é aquele cristão a quem foram impostas as mãos para o serviço inteiro do Evangelho da Esperança. Por isso, não desiludamos o povo santo de Deus com a nossa vida.

Como nos lembra o Papa Francisco: “O povo de Deus precisa de ser guiado por pastores que gastam a sua vida ao serviço do Evangelho. Doemos a vida, caros Presbíteros, e não só a gastemos, ou melhor, gastemos a vida doando-nos a Deus e aos irmãos”.

A nossa vida há-de ser honesta, sóbria, alegre, em serviço humilde e totalmente disponível para escutar e acompanhar a todos, especialmente os mais pobres. A nossa relação há-de ser vivida sem inveja, ciúme e intriga, ou como diz S. Bento na regra: «e o que houver recebido a ordenação veja não se deixe levar pela exaltação do orgulho». A nossa vida há-de ser uma arte possível do discernimento. A nossa vida há-de ser resposta à pergunta que hoje mesmo se renova nesta Liturgia: «quereis permanecer fiéis dispensadores dos mistérios de Deus na celebração eucarística e nas outras ações litúrgicas e desempenhar fielmente o ministério da pregação, como seguidores de Cristo, Cabeça e Pastor, sem ambicionar bens temporais, mas movidos unicamente pelo zelo das almas?»

Peçamos com confiança, a graça corajosa da conversão progressiva para crescer e viver em Cristo, sujando as mãos ao serviço do Evangelho e dos irmãos, mas permanecendo sempre com o coração limpo e livre para amar a todos.

 

5.Vivamos e celebremos bem o Jubileu, começando nos nossos corações. O Jubileu pede-nos conversão, mudança de mente e de vida, pede-nos que caminhemos à luz da esperança, que só Deus pode nos dar.

Para todos, especialmente para os aniversariantes, dirijo uma palavra simples e importante: obrigado! Obrigado pelo vosso testemunho, obrigado pelo vosso serviço; obrigado por tanto bem escondido que fazeis, obrigado pelo perdão e a consolação que ofereceis em nome de Deus; obrigado pelo vosso ministério, que muitas vezes se desenrola no meio de tantas fadigas, incompreensões e pouco reconhecimento. Irmãos, o Espírito de Deus, que não desilude quem coloca n’Ele a própria confiança, vos encha de paz e leve a bom termo aquilo que em vós começou, para serdes profetas da sua unção e apóstolos de harmonia.

 

6.Nós te agradecemos, Senhor Jesus, pelos nossos sacerdotes, que procuram ser fiéis ao dom da vocação e ao ministério que receberam, vivem apaixonados por Ti e pelo Povo de Deus que lhes confiaste e procuram ser servidores de esperança.

Obrigado, Senhor Jesus, por todos os sacerdotes pobres de coração, castos e obedientes à vontade do Pai: «bons pastores» e «bons samaritanos», testemunhos vivos do amor do Teu Coração!

Nós te agradecemos, Senhor Jesus, pelos sacerdotes que conduzem o Povo de Deus com sabedoria e misericórdia, vivem apaixonados pela Palavra e pela Eucaristia, que são contemplativos e homens de profunda oração, e se dedicam com todo o amor aos pobres, aos doentes, aos marginalizados, aos que sofrem e às famílias em provação.

Obrigado, Senhor Jesus, pelos sacerdotes que sabem partilhar com os jovens a alegria a sua vida sacerdotal, procurando fomentar uma cultura vocacional ritmada por sair, chamar e acompanhar as crianças, adolescentes e jovens.

Nós te agradecemos, Senhor Jesus, pelos padres mais idosos e mais doentes. Ampara especialmente os que se sentirem mais tentados ou desanimados e a todos protege nas suas dificuldades e nas suas fragilidades.

Sê, Senhor Jesus, para todos os sacerdotes, auxílio e refúgio, para que animados pelo sopro do Espírito tenham o coração aquecido e enobrecido pelo fogo do Teu amor e sejam sempre e em toda a parte: servidores de Esperança! Ámen! Santa e Feliz Páscoa!

+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda

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