Irmãs e irmãos,
nesta manhã de Quinta-feira Santa, reunimo-nos na igreja-mãe da nossa Diocese de Leiria-Fátima para dar início ao Tríduo Pascal, que celebra e actualiza os acontecimentos principais e fundadores da nossa fé, baseada na vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Gostaria de chamar a atenção para os sinais deste dia especial: sinais que marcam tanto esta celebração da manhã como a celebração da tarde, a Ceia do Senhor. Jesus preparou com cuidado este dia e esta festa para celebrar a Páscoa — a Páscoa da tradição, a Páscoa de sempre — mas fá-lo de modo novo. Como escutámos no Evangelho, Ele diz: “Hoje cumpre-se esta palavra”, revelando que o que antes estava apenas anunciado agora se realiza.
Jesus não prepara esta festa sozinho: preparou-a ao longo de anos com os seus discípulos. Ensinou-lhes os mistérios de Deus, mas eles ainda não tinham compreendido tudo. Por isso, Ele afirma: “Desejei ardentemente celebrar esta Páscoa convosco”. E isso continua a dizer-nos sempre que nos reunimos como hoje: desejou ardentemente estar connosco nesta Páscoa, porque nós somos a sua Igreja nesta diocese de Leiria-Fátima. Somos aqueles e aquelas que dão vida a esta Igreja, e também hoje, para nós, realiza-se este acto renovado da fé.
É importante reconhecer que os discípulos não tinham compreendido — tal como nós também ainda não compreendemos plenamente. No caminho sinodal iniciado há quatro anos, a que o Papa Francisco chamou toda a Igreja, e no caminho de conversão pastoral que procuramos realizar na nossa diocese, há sempre um “hoje” que precisamos de renovar.
Jesus age com pessoas que não sabem tudo, que não são perfeitas, mas com quem Ele conta para o serviço do Evangelho. Mesmo os discípulos que queriam ser as “colunas” da Igreja não acertaram sempre — era importante que percebessem que este mistério não nasce deles, mas que são apenas intérpretes do que receberam, procurando, com a força do Espírito, torná-lo vida e actualidade para a Igreja.
Jesus conta com pessoas frágeis e pecadoras. Senta-se à mesa com elas, pois veio como médico para os doentes. É precisamente naqueles que fizeram a experiência da cura que se revela o Evangelho: eles tornam-se anunciadores de uma novidade de vida. Da resposta a este dom gratuito de Jesus, e da renovação das relações que Ele estabelece, nasce a Igreja.
A Igreja compreende-se à luz de um sinal essencial: a lavagem dos pés. É o primeiro grande sinal deste dia. O lava-pés é um gesto que, no tempo de Jesus, se opunha à exclusão, à prepotência, ao desprezo. Era um gesto de acolhimento, gratidão, ternura. Jesus já o aceitara antes — em casa de Lázaro, da parte de Maria, a quem tinha resgatado de uma vida sem dignidade. Ela lavara os seus pés com lágrimas e enxugara-os com os cabelos. Escândalo para muitos, mas antecipação do gesto que o próprio Jesus faria.
Este é o novo modo de viver gerado pelo Evangelho: acolhimento, afecto, serviço. Para todos os discípulos, e especialmente para os ministros ordenados, esta atitude deve marcar o nosso estilo de vida. “Se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, assim como Eu fiz, façais também vós.”
No caminho sinodal, a conversão pastoral a que somos chamados é, antes de mais, uma conversão das relações. Relações novas, fundadas no baptismo que nos faz irmãos e irmãs, servos uns dos outros.
O segundo sinal desta Quinta-feira Santa é a Eucaristia, tema central do dia. A Eucaristia resume a vida, morte, ressurreição e presença de Jesus entre nós. Celebra-se na tradição da festa pascal, mas recebe novo sentido nos gestos e nas palavras de Jesus. Ele parte o pão e reparte-o como fez nas multiplicações, mas agora deixa-nos um pão novo — o seu Corpo — que vai além do que podemos dar, e que nos confia como missão.
Nós, ministros, não somos os donos do pão: somos voz emprestada por Jesus para que Ele continue a dizer: “Isto é o meu corpo”. Ao dizermos estas palavras, referimo-nos a Ele, mas também afirmamos a nossa disponibilidade para nos tornarmos pão partido pelos irmãos, na palavra, no gesto, no acolhimento.
A conversão pastoral da nossa diocese deve brotar da vida eucarística, especialmente daqueles que presidem à Eucaristia, mas envolvendo toda a comunidade. Celebramos juntos, e é isso que hoje nos reúne.
Outro sinal é a oração de Jesus pela unidade: “Pai, que todos sejam um”. Esta oração liga-nos ao Pai e uns aos outros. À volta do altar, hoje reunimo-nos como Igreja — santa e pecadora — animada pelo mesmo Espírito, a celebrar a vida e a presença de Deus. E esta unidade forja-se à volta da Eucaristia, como filhos e filhas do mesmo Pai.
Finalmente, nesta manhã, um sinal especial: o óleo. É este sinal que marca toda a celebração da manhã e dá sentido ao nosso ministério e serviço. É abençoado pelo bispo, rodeado pelos presbíteros e pelo povo, como sinal da comunhão da Igreja. Este óleo, com o qual fomos ungidos e transformados, é agora confiado ao nosso ministério, para ser administrado às comunidades e a todo o povo de Deus.
É o óleo da alegria do Evangelho, com que Cristo foi ungido pelo Espírito para anunciar aos pobres. A nossa missão é associarmo-nos a Ele.
Cada vez que celebramos os sacramentos, este “hoje” cumpre-se. A sua eficácia não depende da nossa perfeição, mas a nossa atitude de acolhimento e fraternidade é essencial para que as pessoas compreendam a força da misericórdia.
É o óleo dos catecúmenos, que ilumina e fortalece. É o óleo dos enfermos, que sara as feridas do corpo e da alma. É a presença da Igreja junto de quem mais sofre: nos hospitais, nos lares, nas casas dos mais frágeis.
Este é o óleo da profecia, do anúncio e da misericórdia. O Senhor ungiu-nos e enviou-nos. Que isso seja a nossa consciência e o nosso compromisso.
É o óleo da esperança, que nos liberta da limitação e nos coloca ao serviço da vida eterna. Vivamos com alegria esta celebração, que nos transcende e à qual, com humildade, dizemos: “Eis-me aqui para servir”.
Este serviço é pedido a nós, presbíteros, chamados a renovar hoje as promessas do nosso sacerdócio, mas é também pedido a todos os que aqui estão: a Assembleia, o coro, os catequistas, os membros dos conselhos e todos os que, com os seus dons, fazem da Igreja um corpo vivo.
Hoje damos graças por todos os que, nas nossas comunidades, continuam a derramar o óleo da alegria e da credibilidade do Evangelho, com a sua palavra, atitude e coragem.
Agora, sacerdotes, vamos renovar juntos a nossa disponibilidade, como no dia da ordenação, para continuar a encontrar-nos com o Senhor e ser caminho para os nossos irmãos e irmãs.