Homilia de D. Jorge Ortiga na Missa Crismal

Sacerdotes, servos e apóstolos da Palavra “A graça e a paz vos sejam dadas por Jesus Cristo, a testemunha fiel” (Apoc, 1, 4). “Aquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos” (Apoc 1,6). Com estas palavras do Apocalipse saúdo-vos e em vós acolho todo o presbitério na esperança de correspondermos ao amor primeiro de Deus, de modo que o nosso sacerdócio seja só glória de Deus. Congregados nesta Catedral como presbitério Arquidiocesano, sentindo-nos família sacerdotal alargada a todos quantos a ele pertencem – particularmente aos ordenados no último ano: Rui Manuel Saraiva Pereira, da paróquia de Caniçada, do Arciprestado de Vieira do Minho e a paroquiar Borba da Montanha, Carvalho e Basto (Santa Tecla) do Arciprestado de Celorico de Basto; aos que celebram as Bodas de Prata sacerdotais: Adelino Marques Domingues, Pároco de Silvares S. Martinho e Seidões, Arciprestado de Fafe. Alfredo Saleiro Cardoso, Pároco de Antime, Armil e Silvares S. Clemente, Arciprestado de Fafe. António Joaquim Gonçalves da Cunha, Vigário Paroquial da paróquia de Fafe. José Agostinho da Costa Ribeiro, Pároco de Caldelas e Barco, Arciprestado de Guimarães e Vizela. José Manuel de Oliveira Ribeiro, Capelão da Casa Generalícia da Congregação da Divina Providência e Sagrada Família. José Marques Machado, Pároco de Vizela S. João, Arciprestado de Guimarães e Vizela. Aos que celebram as Bodas de Ouro sacerdotais: Francisco de Carvalho Correia, a residir em Areias, Vila Nova de Famalicão. Francisco Lopes da Cruz, a residir em Adães, Barcelos. Joaquim Gomes da Costa, Pároco de Bico e Fiscal, Arciprestado de Amares. José Arnaldo da Silva Monteiro Fernandes, a prestar serviço na Diocese do Porto. José das Neves Machado, Director Espiritual do Movimento Cursilhos de Cristandade. Manuel Ferreira Martins, Pároco de Bastuço Santo Estêvão e Bastuço S. João, Arciprestado de Barcelos. Severino Pereira Fernandes, Pároco de Prado Santa Maria, Arciprestado de Vila Verde. Bártolo de Paiva Gonçalves Pereira, a prestar assistência aos emigrantes na Suiça. Domingos da Silva Araújo, Reitor da Basílica dos Congregados, Arciprestado de Braga. João da Rocha Eiró, Pároco de Aguçadoura, Arciprestado de V.Conde/Póvoa de Varzim. Joaquim Pereira Guimarães, Pároco de Sande S. Clemente, Arciprestado de Guimarães e Vizela. José Ferreira da Silva Campos, Pároco de Negreiros, Arciprestado de Barcelos. José Maria Lima de Carvalho, Pároco de Nossa Senhora da Oliveira, Arciprestado de Guimarães e Vizela. Agostinho Gomes Ribeiro, Pároco de Várzea, Arciprestado de Barcelos. Fernando Alves de Carvalho, Pároco de Estorãos, Arciprestado de Fafe. Joaquim Pimenta Rodrigues, Pároco de Urgeses, Arciprestado de Guimarães e Vizela. Manuel António Ferreira Afonso, Pároco de Palme, Arciprestado de Barcelos. Aos idosos, aos doentes, àqueles que poderão estar a passar momentos difíceis e aos partidos para a casa do Pai durante este último ano: José Martins Mendes, falecido a 12.04.2008, em Alvarães, Viana do Castelo. José Hermínio Moreira Marinho Pinto, Pároco de Oliveira, Arciprestado de Braga e Sezures, Arciprestado de Vila Nova de Famalicão, falecido a 16.04.2008. Eduardo de Melo Peixoto, Presidente da Confraria de S. Bento da Porta Aberta, Confraria do Sameiro, Director Espiritual do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, falecido a 19.04.2008. Carlos Pinheiro Alves, falecido a 27.04.2008 em Seide (S. Miguel). David José Antunes, falecido a 14.05.2008 em Mire de Tibães, Braga. Manuel Freire Ramos, falecido a 23.05.2008 na Diocese de Lamego. Francisco Lopes Gomes, falecido a 26.05.2008 em Joane, Vila Nova de Famalicão. Joaquim Gonçalves dos Santos, falecido a 24.06.2008 no lugar de Moimenta, paróquia de Cavez, Arciprestado de Cabeceiras de Basto. António Luís Vaz, falecido a 02.08.2008 no Largo da Senhora-a-Branca, Braga. Ângelo Faria da Venda, falecido a 15.08.2008 na Póvoa de Varzim. Luís Soares Ribeiro, falecido a 27.08.2008 na Casa Sacerdotal. António da Costa Lopes, falecido a 28.09.2008 no Lar de Conde Agrolongo. José Barroso Pereira, falecido a 30.12.2008 em Cabeceiras de Basto. Albertino Martins, falecido a 13.012009 no Mosteiro das Clarissas, Vila das Aves. Júlio Hilarião Nepomuceno Vaz, falecido a 17.01.2009 Largo da Senhora-a-Branca, Braga. Joaquim da Cunha Peixoto, falecido a 20.03.2009 na paróquia de S. Gens, Arciprestado de Fafe. António Tanque Campos, Director do Externato de Refojos, arciprestado de Cabeceiras de Basto, falecido a 04.04.2009.Colocamo-nos perante a responsabilidade de, mais do que os outros fiéis, acolher as interpelações e desafios do nosso Programa Pastoral: sentir-se – e viver como tal – encontrados pela Palavra. Ela veio ao nosso encontro como dom maravilhoso e nunca suficientemente agradecido como foi o chamamento vocacional; Ela vem e deve encontrar um coração disponível e aberto a um estilo de vida marcado pelos seus critérios e não por outros motivos, por muito interessantes ou modernos que possam parecer. Como “encontrados pela Palavra”, teremos de ser sacerdotes do reconhecimento interior, dum programa de vida pessoal delineado a partir de parâmetros Bíblicos, dum ministério que manifesta coerência com os tesouros escutados e alegria de os comunicar através duma vida que fala e duma palavra que não se desvia destes itinerários. Caros sacerdotes, seremos padres, aqui e agora, encontrados pela Palavra? Que nos falta fazer? A resposta cada um saberá dá-la. Deixar-se encontrar pela Palavra, este ano, tem uma referência. S. Paulo é o padre (que me perdoe o oportunismo) referência. A sua pessoa tem servido – e terá de continuar a servir – para encontros, conferências, homilias, exposições. Tudo é importante. Interessa-nos a sua vida que deve provocar uma reviravolta no nosso ser e agir, suscitando padres apóstolos por convicção e vocação que se orgulham, sem superioridades eclesiais, de viver como servos de Cristo em benefício das comunidades do povo que servimos. Isaías recordava-nos que teríamos o nome de “Ministros do nosso Deus” e “quantos os virem terão de os reconhecer como linhagem que o Senhor abençoou” (Is 61). Tudo acontecerá, se, no quotidiano da vida, se “cumprir o que acabais de ouvir” (Lc 4, 21) e, lendo os sinais do mundo actual e do contexto social que vivemos, “levarmos o óleo da alegria em vez do trajo de luto, cânticos de louvor em vez dum espírito abatido” (Is 61). Para mim é espontâneo questionar-se e reconhecer que a chamada crise actual – que sabemos que não é meramente económica ou financeira mas sobretudo de carência de valores espirituais, ou seja, confirmação de que pretender construir uma sociedade humana sem referências ao sobrenatural conduz a esta perplexidade e dramatismo que vivemos – espera que a Igreja, particularmente, nos seus sacerdotes, se coloque no essencial da sua missão: encontrar-se com Cristo – Palavra para abandonar outros princípios motivadores. Nesta tarefa, com S. Paulo, gostaria de vos deixar um duplo apelo: crescer na paixão pelas comunidades e suscitar, contar e confiar nos cooperadores. 1 – Paixão pela Igreja e comunidades Escrevendo à comunidade ingrata, pouco gratificante, que o acusava de incoerência, entristecendo-o e fazendo-o sofrer, como era a comunidade de Corinto, S. Paulo indica o processo pastoral que ele usou. A comunidade era “uma carta de Cristo da qual nós fomos o instrumento e escrita não com tinta, mas nas tábuas de carne do vosso coração” (2 Cor 3, 3) onde poderiam ter tido muitos “pedagogos” mas “fui eu quem vos gerou em Jesus Cristo, através do Evangelho” (1 Cor 4, 15). Nestas palavras verificamos que o seu labor apostólico não era um mero trabalho rotineiro. Havia paixão capaz de ultrapassar as desilusões e desânimos e apostava numa verdadeira paternidade sofrida (como também recorda noutro lugar “ Meus filhos, sofro novamente como que dores de parto, até que Cristo esteja formado em vós” (Gál 4, 19). Teremos de adoptar esta paternidade sofrida. S. Paulo alegrava-se da comunidade de Corinto não pelas consolações que ela lhe ofereceu. Sentia-se feliz por ter sofrido por ela. Nunca nos poderemos contentar com os mínimos, nem habituar-se a programas. Temos a responsabilidade de escrever “nas tábuas da carne do coração” dos fiéis que nos foram confiados, através duma entrega incondicional capaz de gerar ou regerar Cristo, o que só se consegue com um amor rejuvenescido e dominado pelo entusiasmo. Só um coração apaixonado por Cristo e pela Sua Palavra apaixonará e fará com que seja a Palavra a edificar a comunidade. A comunidade não é um conjunto de edifícios e bens materiais a gerir corresponsavelmente; não é um exercício de burocracias a proporcionar solicitamente; nem sequer é uma estrutura pastoral com serviços qualitativamente mais dotadas e oferecidas. É tudo isto mas muito mais. São pessoas concretas, diferentes socialmente e religiosamente de ritmos diversos, com alegrias e esperanças, problemas e dramas a quem devemos acolher com a ternura e o carinho de Cristo. O mundo moderno é demasiadamente anónimo. Só o amor constrói e permanece. E os nossos fiéis têm o direito de o receber daqueles que não são profissionais da pastoral mas enviados de Cristo para edificar um corpo de irmãos. A pastoral sempre foi isto. Hoje deve-o ser muito mais. As pessoas, no meio da crise, necessitam deste ânimo e suporte. Ao construir comunidades, o padre está a edificar lugares onde se encontra a coragem de viver. Somos de e para todos mas, actualmente, importa privilegiar os necessitados, descobrir carências, organizar respostas naquele silêncio activo que só o amor cristão oferece. Nunca “atiremos” a responsabilidade de resolver os problemas para os outros. Pode ser verdade. Mas há situações que não devem esperar. Saibamos acolher, dediquemos tempo às pessoas, ouçamos os seus problemas, mostremos amor e carinho, deixemo-nos inquietar pelos lamentos, alguns silenciosos que só se entendem no sacramento da reconciliação a que teremos de dar mais tempo e cuidado na vivência deste ministério da misericórdia. Com muita confiança acrescento outra convicção. Necessitamos de trabalhar muito e as comunidades edificam-se através de iniciativas bem preparadas e actualizadas, mas, não esqueçamos, edificamos mais Igreja permanecendo mais em Jesus do que correndo sem motivação. A Igreja é sempre mistério e nunca empresa. Não pequemos por rezar demasiado pouco. O futuro da Igreja está na qualidade das comunidades, como comunidades e não mero território. Poderão ser constituídas por menos pessoas. Mas, se o amor autêntico circular sobreviverão a todas as intempéries. Se forem amálgama de pessoas, irão definhar como tantas outras ao longo da história. E a responsabilidade será minha e de cada um de vós. Permiti que me sirva de palavras de alguém verdadeiramente conhecedor (o Card. Martini) “Quanto amo, quanto me apaixono pela(s) minha(s) comunidade(s) e pelas pessoas que a compõem?” 2 – Cultivar os cooperadores Este amor à Igreja conduz-nos a outra referência característica do viver de S. Paulo. Trata-se de verificar como ele cultivava os seus cooperadores, como os acompanhava e estimulava. Não se tratava duma mera necessidade ocasional e passageira. Acreditava que a Igreja era “Reino de Sacerdotes” e tornou-o visível. Verificamos que a transmissão da fé em S. Paulo não se efectua em cadeia mas numa afectuosa relação de quem se coloca “diante de” homens e mulheres concretos, de modo que também têm o dever de a passar com idêntico afecto a outros homens para que permaneçam, por seu lado, firmes na fé e, como consequência, aptos para ensinar (Conf. 2 Tim 2, 2). Trata-se dum empenho de inquestionável actualidade para a nossa Arquidiocese como prioridade no presente a garantir um futuro de fé. Esta transmite-se não por mera herança do passado mas como aposta num anúncio persistente e gerador de consistência perante as investidas de propostas diferentes. A firmeza na fé é muito diminuta nos nossos cristãos e é urgente tomar consciência do número daqueles que a renegam ou abandonam. Não vivamos de ilusões nem pensemos que todos os baptizados a assumem. As comunidades paroquiais devem assumir esta consciência e investir tudo para que sejamos capazes de alterar o ciclo. Por outro lado, como aconteceu com S. Paulo, deveremos ser capazes de, com solicitude maternal, gerar homens e mulheres aptos para ensinar. Somos cada vez menos sacerdotes e os leigos devem ocupar o lugar que lhes compete não por favor ou mera necessidade. Urge acolher, acompanhar, preparar, delegar com confiança e desenvolver certos talentos adormecidos. O futuro passa por aqui. Só uma cadeia de verdadeiros cooperadores, ou seja, homens e mulheres a operar conjuntamente connosco, no exercício do mesmo baptismo e na diversidade de carismas, com a preparação adequada, desempenharão ministérios que ainda reservamos para nós. Não somos a síntese dos ministérios como quem detém todo o poder e exclusividade na Igreja; exercemos o ministério da síntese, estimulando, convidando, confiando, delegando tarefas e missões na responsabilidade de testemunhar unidade na diversidade. Vamos renovar as promessas sacerdotais. São testemunho de quem, como S. Paulo, se deixa tocar por Cristo para se apaixonar pela Igreja e, concretamente, suscitar responsabilidades repartidas. Façamo-lo com alegria tornando a nossa pastoral Bíblica e, como tal, carregada dum dinamismo vocacional. Caríssimo Sacerdote, procura ser, aqui e agora, testemunho eloquente e irradiante da luz da fé, do entusiasmo da esperança e do calor da caridade. Para isso permite-me um pensamento da Imitação de Cristo (Livro III, cap. 23): “Filho, trata de fazer antes a vontade alheia que a tua. Prefere sempre ter menos que mais. Busca sempre o último lugar e sujeita-te a todos. Deseja sempre e reza para que se cumpra plenamente em ti a vontade de Deus.” Que St.ª Maria de Braga e S. Martinho de Dume nos ajudem a ser padres para o mundo de hoje onde harmonizamos a felicidade de ser servos por amor e apóstolos por vocação para bem do povo que amamos com coração indiviso. † Jorge Ortiga, A.P.

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