Homilia de D. António Carrilho na Solenidade da Ressurreição do Senhor

Este é o Dia que o Senhor fez, exultemos de alegria!

Este é o Dia que o Senhor fez, exultemos e cantemos de alegria! (cf. Sl 117). Em profunda comunhão com toda a Igreja, na solene celebração da Ressurreição de Jesus, convido a Igreja Diocesana a fazer ressonância deste Cântico de alegria e de esperança e partilho convosco a mesma fé em Cristo morto e Ressuscitado. É que o Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

Na Eucaristia deste Domingo de Páscoa, damos continuidade à grande Vigília Pascal, verdadeira Noite de Luz, Noite mais clara que o dia, na feliz expressão do bispo S. Máximo de Turim: “a Luz de Cristo é um dia sem noite, é um dia sem ocaso”.

A Palavra hoje proclamada, na sua riqueza e extraordinária mensagem, perante o sepulcro vazio, apresenta o grande acontecimento que surpreendeu Jerusalém, e através dos séculos e da actividade missionária da Igreja, o mundo inteiro: Cristo Ressuscitou! “Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou”! (Lc 24,6).

Cristo Ressuscitado, Luz sem ocaso

No texto dos Actos dos Apóstolos, que acabamos de escutar, na primeira leitura (Act 10,34.37-43), somos surpreendidos pela clara afirmação da universalidade da salvação, oferecida por Deus em Jesus Cristo Seu Filho. Esta salvação não conhece fronteiras: não está confinada aos judeus ou aos cristãos, mas destina-se a toda a família humana. “Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos” (Act.10, 42). Testemunha da Ressurreição, Pedro anuncia corajosamente ao centurião Cornélio e à sua família, Cristo Ressuscitado. E tendo acreditado n’Ele Cornélio e todos os de sua casa, o Chefe dos Apóstolos baptizou-os e introduziu-os na comunhão da Igreja, sem outras exigências que não fossem as do Evangelho (Boa Nova) de Jesus.

Na epístola aos Colossenses, que ouvimos na segunda leitura (Cl 3,1-4), São Paulo introduz-nos na comunhão do Ressuscitado e convida-nos a viver as exigências da fé, assumidas pelo baptismo. Chamados a viver eternamente com Cristo na glória, o Apóstolo alerta a comunidade dos crentes para a necessidade da conversão do coração e convida cada um a viver aquela “vida escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3).

O cristão, pela sua intimidade com Jesus, não pode esquecer a esperança e a perspectiva da eternidade (escatológica), mas também não pode descurar a fidelidade ao seu dever, no tempo e no espaço concreto da sua vida, em ordem à construção de um mundo melhor e mais humano. O abraço de eternidade envolve “as coisas do alto e as da terra”, numa harmonia que valoriza a dignidade humana e potencia a sua plena realização.

O Apóstolo São João, o evangelista dos sinais, no relato evangélico do grande acontecimento Pascal (cf. Jo 20,1-9), põe em relevo o inesperado “sinal” do sepulcro vazio e as aparições do Ressuscitado. Não foi fácil acreditar, desde o primeiro momento, na Ressurreição de Jesus, acontecimento verdadeiramente surpreendente tanto para os discípulos como para a história de toda a humanidade. Somente pela fé e à luz do eterno desígnio de Deus, progressivamente revelado nas Escrituras, se poderão ler os acontecimentos sobrenaturais da primeira manhã de Páscoa.

Viram e acreditaram!

Com o nascer do novo dia, depois da tristeza, do sofrimento e da morte de Jesus, Pedro, que tem um papel importante na comunidade dos Apóstolos, e João, o discípulo predilecto, admirados com o testemunho de Maria Madalena, correram ao sepulcro e, com grande surpresa, eles próprios confirmaram aquela inesperada mensagem: Cristo Ressuscitou! Também eles viram e acreditaram! (cf. Jo 20, 8).

Mas Jesus confirmará, ainda, a Sua gloriosa Ressurreição, aparecendo algumas vezes aos outros discípulos e às mulheres. Não é um fantasma, chama-os pelo nome, come com eles e mostra-lhes as mãos, o lado e os pés, com os sinais da Sua Paixão. “Sou Eu, não temais!” (Jo 6,20). Segundo os Padres da Igreja, os discípulos ao contemplar as feridas de Jesus podiam curar as suas próprias feridas e dúvidas. “Nas suas chagas fomos curados” (1 Pd 2,24). Com os sinais da Paixão, o Ressuscitado manifesta o Seu imenso e admirável amor por nós.

Cristo está vivo e continua presente na Sua Igreja, cuja missão prioritária é ser missionária, anunciar a salvação até ao fim dos tempos. A experiência pascal do cristão é a fonte desse dinamismo evangelizador.

Testemunhas da Ressurreição

Numa sociedade em grande parte marcada pela cultura do imediato e do efémero, a Luz do Ressuscitado vem despertar-nos para uma vida com valores e horizontes mais alargados, permeada pela Eternidade de Deus. A dignidade humana é gravemente lesada, quando se norteia por critérios redutores de uma ciência e humanismo sem referência a valores espirituais e transcendentes, que, retirando Deus do horizonte do homem, esvaziam o sentido da própria vida. A vida eterna começa aqui e agora, pela comunhão com Cristo Ressuscitado, Senhor da Vida e da história. Todos os cristãos são chamados a viver em intimidade com o Ressuscitado e a ser testemunhas da Ressurreição!

Como é do conhecimento de todos, no próximo mês de Maio, Bento XVI visita Portugal, como Peregrino de Fátima. Sucessor de Pedro e também ele testemunha da Ressurreição, saibamos acolher a sua mensagem e sentir profunda comunhão com toda a Igreja espalhada pelo mundo. A dimensão missionária da Igreja terá de tornar-se sempre e cada vez mais viva, comprometida na tarefa evangelizadora, em fidelidade a Cristo e às exigências do mundo actual. É urgente evangelizar! É urgente dar a conhecer o verdadeiro Rosto de Cristo Ressuscitado, do qual irradia a serenidade e a paz, mas também a urgência da caridade, na atenção e ajuda fraterna a quem mais precisa.

Prece e Votos Pascais        

A Maria, Estrela da Nova Evangelização, dirigimos a nossa prece: Mãe de Ternura e Misericórdia, Senhora das alegrias da Ressurreição, que nos apontas caminhos de Luz e de Amor, queremos percorrer contigo as estradas do nosso mundo, escutando e anunciando o Senhor Ressuscitado, enquanto aguardamos, em jubilosa esperança, a vinda do Espírito Santo Consolador!

A toda a comunidade diocesana desejo Santa e Feliz Páscoa, na plenitude da Alegria do Ressuscitado. Que Ele a todos inunde da Sua Luz e da Sua Paz. O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

Funchal, 4 de Abril de 2010

† António Carrilho, Bispo do Funchal

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