Homilia da Missa Crismal, em Santarém

1. Saudação: A bênção dos santos óleos, na missa crismal, aviva e fortalece em todos nós a unidade e a santidade de discípulos de Cristo: “Aquele que nos ama e que pelo seu sangue nos libertou do pecado fez de nós um reino de sacerdotes para Deus Seu Pai” (Ap 1,6). Pelos sacramentos, presentes hoje na bênção dos santos óleos, recebemos a unção do Espírito Santo, participamos do sacerdócio comum de Jesus Cristo, somos consagrados para o serviço de Deus e da evangelização do mundo. Nesta comunhão das mesmas realidades santas em que todos participamos, saúdo os membros do Povo de Deus aqui presentes e manifesto o meu apreço e dedicação por todos vós que formais um povo sacerdotal, um povo santo, um povo chamado à missão profética de ser no mundo fermento do Reino de Deus. Entre o Povo de Deus sobressaem, nesta celebração os presbíteros, que hoje renovam as promessas sacerdotais, manifestam e aprofundam a união fraterna do presbitério e levam depois para as suas comunidades os santos óleos como sinal de participação na mesma missão apostólica do bispo. Para vós caros presbíteros, se dirige de uma maneira particular a minha amizade, o meu apoio e reconhecimento pela vossa colaboração generosa e sacrificada, e uma grande admiração pela vossa entrega zelosa ao ministério. Esta celebração é um momento importante para aprofundar a nossa comunhão fraterna e a nossa comum colaboração na mesma missão. Tenho muito gosto pela vossa presença. Também aos candidatos ao Diaconado Permanente apresento uma saudação calorosa e cheia de esperança. Iniciámos, há quatro anos, o itinerário de formação para a ordenação diaconal. Começámos sem saber a decisão final. Crescemos na oração e no aprofundamento da mensagem do evangelho, na relação fraterna e na unidade, amadurecemos a consciência da vocação e da missão que é confiada a este ministério. Ficámos mais ricos com este percurso, tanto os formadores, como os candidatos. Em breve sereis ordenados diáconos. Constituís, para esta Igreja local de Santarém uma promessa de enriquecimento pastoral. Saúdo igualmente os seminaristas. Como é bela a missão de levar uma boa nova que liberta, cura e ilumina, na continuação do Servo de Deus que a primeira leitura de hoje apresentava como enviado a “consolar os que andam amargurados, a levar aos aflitos uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez de um traje de luto, o louvor em lugar de um coração abatido” (Is 61,2-3)”.Num mundo marcado pelo egoísmo e pelo relativismo, numa cultura em crise de valores que se assemelha a um deserto espiritual, vós preparais-vos para uma missão de ser luz, de construir laços que alicercem a vida fraterna, de proclamar o evangelho da esperança e do amor, de comunicar nos sacramentos os dons da salvação que tocam e transformam a vida humana. Dar a vida pelo evangelho é encontrar a verdadeira vida, com grandeza e beleza. Que o Senhor vos ilumine no amadurecimento da vossa vocação. Idêntica saudação dirijo aos que frequentam o pré seminário, que poderão vir a ser seminaristas ou, se não, leigos empenhados na difusão da boa nova. Que o Espírito Santo vos guie para encontrardes no Senhor Jesus o caminho que leva à vida. 2.Unidade, comunhão e serviço na Igreja são o apelo da Missa Crismal que celebramos. As leituras bíblicas levam-nos, na verdade a entender o ministério ordenado como um serviço à unidade e à comunhão eclesial. Pelo sacramento da ordem somos ungidos pela força do Espírito e, depois, enviados às nossas comunidades e ao mundo como construtores da Igreja que deve ser casa e escola de comunhão. Por isso mesmo, devemos crescer na unidade, senti-la como uma vocação e uma missão. Para que o presbitério possa ser fermento de comunhão, precisa de crescer na vida fraterna, na amizade, no trabalho em equipa. A comunhão efectiva é um projecto que nos pede uma conversão permanente, uma renúncia constante ao individualismo e ao protagonismo. Base indispensável para a evangelização, a comunhão eclesial precisa de ser cultivada, antes de mais, a nível espiritual. Na verdade, a sua fonte está no mistério da comunhão divina que se traduz no acolhimento e no amor mútuo, na compreensão e na afabilidade. Ao pedir, nesta celebração, os dons do Espírito para aqueles que vão ser ungidos pelos óleos sacramentais, ficamos também fortalecidos pelos dons do mesmo Espírito que é fonte de comunhão. Na mensagem das leituras Cristo, ungido pelo Espírito, é apresentado como o servo de Deus, enviado a levar a Boa Nova aos pobres e a curar as feridas da humanidade. Na base da missão do Servo está a atitude de serviço e a de humildade. É esta atitude que nos é frequentemente proposta no tempo da Paixão: “Tende entre vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo(…). Ele esvaziou-se de si mesmo e assumiu a condição de servo” (Fl 2,7). A humildade como disposição interior e estilo de vida, faz parte do testamento do nosso Mestre e Senhor e está profundamente associada à celebração da Eucaristia: “Enquanto celebravam a ceia começou a lavar os pés aos seus discípulos” (Jo 13, 5). Dispor-se a servir é aceitar e desempenhar as tarefas que nos são confiadas em vez de escolher as que nos são agradáveis, é integrar-se no organismo eclesial e realizar uma obra de conjunto em vez de procurar o brilho pessoal, é cultivar o estilo de servo para que Cristo seja o verdadeiro Senhor. 3. Este ano comemoramos os quinhentos anos do grande evangelizador do Oriente, São Francisco Xavier, nascido a 7 de Abril de 1506. A sua memória sempre foi venerada nesta Igreja Catedral como prova o lugar de relevo dado às suas imagens. Podemos escolhê-lo como patrono e referência para a nossa acção pastoral. Do pouco tempo que passou em Portugal, alguns meses foram em Almeirim com a corte. Enquanto lá esteve, todos os dias vinha a Santarém a pé, dar catequese às crianças. Viajante incansável, pregador ardente, São Francisco Xavier foi amadurecendo um itinerário de evangelização alicerçado na atenção e acolhimento prestado às pessoas, no diálogo intercultural, na profunda vida espiritual que cultivava, no anúncio explícito do evangelho, na transmissão de conhecimentos e de convicções. A sua passagem pelo Japão ajudou a Igreja a amadurecer uma forma diferente de evangelização: Em vez da atitude de cruzada religiosa realça a proposta livre da fé cristã em diálogo com a cultura. Numa carta escrita aos seus antigos companheiros jesuítas de Roma, Francisco Xavier apresenta as linhas fundamentais da evangelização que sonha fazer no Japão: “Perguntei a Angirô (um japonês convertido ao cristianismo que encontrou em Malaca), se os japoneses se converteriam ao cristianismo caso eu fosse com ele à sua terra. Respondeu-me que os da sua terra não se fariam (logo) cristãos. Primeiramente haviam de fazer muitas perguntas e veriam as minhas respostas e como eu pensava. Observariam sobretudo se eu vivia conforme as minhas palavras. E se eu fizesse estas duas coisas, (responder satisfatoriamente às suas perguntas e viver sem eles encontrarem em mim nada de repreensível) o rei, a nobreza e toda a gente ajuizada se converteria ao cristianismo”. As pessoas da nossa cultura crítica e secularizada podem mostrar maior resistência em aderir à fé. Mas se descobrirem as razões da nossa esperança e verificarem os frutos da fé na vida quotidiana, certamente haverá ainda hoje gente ajuizada disposta a seguir o evangelho de Jesus. Que o Espírito Santo nos ajude a descobrir, a viver e a comunicar a alegria do evangelho.

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